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Câmara de Évora. Da ocultação enquanto forma de “verdade”

Luís Godinho texto | Opinião

A central de comunicação do Executivo da CDU na Câmara de Évora, é dessa forma que vejo a “coisa”, emitiu um comunicado, reproduzido de forma acrítica por diversos órgãos de comunicação social, no qual informa acerca da criação de uma “estrutura para comemorar meio século da Revolução dos Cravos”. Uma “estrutura”, acrescenta o texto, aprovada por unanimidade e aberta a “todas as associações e instituições do concelho”, mediante inscrição prévia para o gabinete do presidente da Câmara.

Através deste link poderá ler o comunicado.

O mais curioso não estará na data, já explicarei o meu ponto, mas comecemos precisamente pela data de emissão do comunicado: 16 de maio. Sendo que lá no meio do texto surge a indicação de que se trata de uma decisão aprovada “no passado mês de abril”.

Ou seja, umas boas semanas depois de ter aprovado a criação de uma comissão, ou chamemos-lhe “estrutura”, para preparar as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a Câmara de Évora decidiu, enfim, ser boa hora para divulgar a iniciativa, assegurando que será organizado “um programa vasto e aberto que promova os valores de Abril”.

O problema é que a data, neste caso, não sendo tudo, é demasiado relevante para se deixar passar em branco. Entre a decisão da Câmara (26 de abril) e o momento da sua divulgação (16 de maio) ocorreu um outro facto, aparentemente sem significado para o Executivo da Câmara de Évora: reuniu a Assembleia Municipal.

Ora, conforme divulgado pela SW Portugal a 8 de maio, nessa reunião da Assembleia Municipal de Évora foi aprovada por maioria – não por unanimidade pois a CDU e o Movimento Cuidar de Évora abstiveram-se – a criação de uma outra comissão, ou “estrutura” se quisermos, destinada justamente a programar as comemorações do 25 de Abril. 

Temos assim que não existe uma comissão, conforme referido no comunicado, mas duas, sendo que a da Assembleia Municipal é aqui omitida, certamente porque o presidente da Câmara não gostou da ideia – “não me parece adequado”, disse. E esta omissão é particularmente grave quando está em causa a celebração de um momento tão importante como este, mas sobretudo porque é contrária aos próprios valores de Abril.

A existência, em Évora, de duas comissões para o mesmo fim é outra originalidade. O que se espera dos decisores políticos, em particular daqueles que têm mais responsabilidades, isto é, presidente de Câmara e presidente da Assembleia Municipal, é que se esforcem por chegar a um ponto de equilíbrio, consensualizando posições o quanto antes. 

Estas comemorações não podem ser transformadas em momento de guerrilhas espúrias, mas de celebração da democracia, da liberdade e da tolerância.

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