Caso ocorreu em exploração equina e levou ao reforço da vigilância epidemiológica. Desde 2015 que se registam focos da doença em Portugal.
Francisco Alvarenga (texto)
A deteção, nas proximidades de Estremoz, de um cavalo infetado com o vírus da febre do Nilo levou ao reforço da vigilância neste concelho, considerado como “zona de proteção”. A localização exata do caso não foi divulgada. Em comunicado, a Câmara de Estremoz apelou aos proprietários de equídeos para “colaborarem” no inquérito epidemiológico solicitado para Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e, “sobretudo, que tomem medidas preventivas e que alertem no caso de suspeitas clínicas”.
A DGAV recomenda aos proprietários de equinos que protejam os animais “da exposição aos mosquitos durante os períodos de maior atividade”, ou seja, ao amanhecer e ao escurecer, bem como à utilização de repelentes de insetos e inseticidas, à “eliminação dos locais de reprodução dos mosquitos, como poças e charcos”. É ainda solicitada informação sobre eventual existência de aves selvagens mortas nas proximidades das instalações agrícolas.
De acordo com a mesma fonte, trata-se de uma zoonose, isto é, uma doença infecciosa dos animais que pode ser transmitida aos seres humanos, sendo causada pela picada de mosquitos infectados com o vírus do Nilo. “Os reservatórios do vírus são as aves selvagens, sobretudo corvídeos, mantendo-se o vírus em circulação através do ciclo mosquito-ave-mosquito”. Os equinos considerados “hospedeiros finais” da doença.
Uma vez infetados os animais podem apresentar febre, convulsões ou tremores, entre outros sinais clínicos. “Os equinos infetados podem apresentar sinais ligeiros de doença, mas alguns podem desenvolver sintomas neurológicos graves que podem ser fatais”, acrescenta a DGAV. O vírus pode ser transmitido aos seres humanos.
Desde 2015 que têm ocorrido focos da doença em Portugal, particularmente nas regiões do Alentejo, Lisboa e Vale do Tejo e no Algarve. Em 2021 foram confirmados focos nos concelhos de Coruche, Loulé, Beja e Silves. Em 2022 surgiram três focos de febre do Nilo Ocidental, um no concelho de Alcácer do Sal, outro no de Portalegre e um outro em Castro Verde.
Este ano as autoridades portuguesas ainda não tinham identificado qualquer mosquito portador do vírus. Mas em agosto surgiram três casos em outros tantos municípios da Andaluzia espanhola, que faz fronteira com o Alentejo e com o Algarve.
Na altura, a Direção-Geral da Saúde explicou que a febre do Nilo Ocidental em humanos “é uma doença de notificação obrigatória” no Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e que não foram registados em Portugal quaisquer casos autóctones ou importados. “Em Portugal, a vigilância entomológica garantida pela rede Revive a nível local, regional e nacional é intensificada nas épocas já definidas como as de maior intensidade vetorial, em especial para as diferentes espécies Culex, nativas na Europa, entre julho e setembro”, acrescentou a mesma fonte.
DOENÇAS “EMERGEM” COM ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
No âmbito da Revive, em janeiro deste ano as autoridades de saúde detetaram no concelho de Mértola ovos do mosquito tigre asiático, que transmite doenças, como febre-amarela, dengue ou Zika. Fonte do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, consultada pelo Brados, lembra que as doenças transmitidas por vetores (mosquitos e carraças) “emergiram ou reemergiram como resultado das alterações climáticas, demográficas e sociais, alterações genéticas nos agentes infeciosos, resistência dos vetores a inseticidas e mudanças nas práticas de saúde pública”.