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Vinho de talha classificado como património cultural

A produção de vinho de talha foi inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. O despacho, assinado pela subdiretora-geral do Património Cultural, Rita Jerónimo, foi hoje publicado em “Diário da República”.

No despacho, Rita Jerónimo destaca “a importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade”.

Em comunicado, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) lembra que este tipo de produção do vinho, “próprio do Alentejo”, caracteriza-se por um “processo de vinificação natural que remonta à época romana, em que as uvas, depois de esmagadas com recurso a um moinho ou uma mesa de ripanço, transformam-se no mosto que se deposita em talhas de barro”.

Trata-se, acrescenta, de um processo “que é sobretudo levado a cabo pelos homens e que tem resistido com base na transmissão oral, num saber-fazer experimentado, na partilha do conhecimento de geração em geração, em respeito por tradições antigas”. 

Segundo a DGPC, “esta transmissão e saber-fazer têm permitido a preservação das adegas de construção tradicional, das talhas de barro, dos recipientes e utensílios, assim como, dos processos culturais que, atualmente, se constituem como património cultural e identitário daquelas comunidades”.

De acordo com dados de 2018/19, a produção de vinho de talha “mantém-se ativa” em diversos concelhos alentejanos, como Aljustrel, Beja, Campo Maior, Cuba, Elvas, Estremoz, Marvão, Mora, Moura, Serpa e Vidigueira, estando identificados 134 produtores.

Com esta inscrição, a DGPC diz ficar reconhecia a importância deste tipo de produção “enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade”

A produção de “vinho da talha”, também conhecida pelas denominações de “vinho do pote” ou “vinho do tareco”, segue o seu próprio ciclo no calendário, com início em agosto com as vindimas e o encerramento em novembro. “Com a abertura das talhas, chega a altura de o produtor dar a conhecer os vinhos. Têm então, início as provas e o convívio à volta dos vinhos novos”, pode ler-se na ficha de inventário da manifestação. 

“Na comunidade”, prossegue o documento, “os grupos organizam-se e percorrem as adegas cantando, petiscando, provando o vinho, comentando qual é o melhor. É o convívio, a partilha e alguma rivalidade entre produtores sobre qual terá o melhor vinho. Todos os anos este ciclo se repete, as comunidades voltam às técnicas tradicionais e aos hábitos de convívio tão antigos como o próprio saber-fazer”.

O pedido de inscrição foi proposto pela Câmara de Vidigueira, entidade que encetou trabalho de investigação para aprofundar o conhecimento sobre a “Produção de Vinho de Talha”, com o objetivo de inventariação e posterior candidatura a Património Imaterial da Humanidade.

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