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Vindimas no fim com mais produção e melhor qualidade

Alexandre de Barahona, texto e fotografia

As vindimas aproximam-se do fim, no Alentejo, com a previsão de um crescimento da produção superior a cinco por cento, apesar da onda de calor registada em meados de agosto. “Não só vamos ter um aumento na quantidade de vinho produzido, como a qualidade vai ainda subir mais em 2023 que nos anos passados”, revela o produtor e enólogo João Maria Ramos.

Vem sendo uma senda que por causa das peculiaridades do clima a vindima seja iniciada mais cedo. E que por iguais motivos muitos dos vinicultores optem pelo abrigo da frescura da noite, ao executar a colheita manual, defendendo assim o pessoal e a uva da estorrina do calor, que de novo fustigou a região, entre os 41 e os 45 graus, em meados de agosto.

“As vindimas já não são o que eram antigamente”, recorda Xico Zé, hoje reformado, e que trabalhou em muitas apanha da uva. “Depois de as apanhar, as uvas eram esmagadas pelos nossos pés, lavadinhos! Um esforço grande, só quem o fez o sabe”.

Hoje as adegas mais apetrechadas estão equipadas com robots para esmagar a uva. “Não tenho coragem de pedir ao pessoal que o faça à maneira antiga. É muito árdua a execução e a cadência necessária”, concorda João Maria Ramos, enólogo e filho do empresário e também enólogo João Portugal Ramos, que em 1988 plantou os seus primeiros cinco hectares de vinha em terras estremocenses, à beira da estrada nacional.

Em variados locais do Alentejo, a par da colheita organizam-se também por esta altura provas de vinho e aceitam-se voluntários para experimentarem a acompanhar os trabalhadores nas vindimas noturnas. Depois, alguns ainda partilham essa tal e antiga pisa da uva. Quem não se quiser sujar pode exclusivamente deliciar-se com experiências gastronómicas, iniciativa dos próprios produtores vitivinícolas alentejanos que desta forma promovem as suas marcas, organizando a celebração festiva das vindimas.

Segundo a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), na vindima deste ano a região contou com mais de “uma dezena de programas de enoturismo” para turistas, mas também para os amantes do vinho, da gastronomia e da cultura alentejana.

Este é tradicionalmente o período sazonal terminando o ciclo de um ano, ligado às uvas para produção de vinho. Dependendo das regiões, o momento de ir às videiras escolher e talhar o cacho de uvas para o metamorfosear em vinho confere-se com o amadurecimento dos bagos. Estes devem ter atingido o estado de equilíbrio ideal, entre o açúcar e a acidez, conjugados no seu interior.

Antigamente, muito antigamente, era a época da celebração de um findar de ano, que cedia o passo pelo início de novembro ao Ano Novo. Vivia-se nesses tempos ao sabor das culturas agrícolas, onde por meados daquilo a que hoje continuamos a chamar outono se cultivavam as sementeiras alimentando a esperança de um bom ano, com boas colheitas, umas oito a 12 luas depois.

Regressando aos dias de hoje, o grupo João Portugal Ramos leva o nome do Portugal “vínico” a todos os cantos do mundo, sendo líder de vendas dos vinhos portugueses em vários desses países. Tendo a sua joia da coroa, enquanto adega, na “cidade branca”, era interessante saber como decorreram os ritmos das vindimas às portas de Estremoz.

João Maria Ramos mostra-se satisfeito com os resultados alcançados: “Em abril vieram uns calores que fizeram a uva encher e como tínhamos água nas barragens e o sistema de rega gota a gota foi uma bela conjugação. Junho e julho não foram abrasado- res e quando vieram as canículas de agosto a sombra das folhas já crescidas protegeu bem os bagos”.

Alguns produtores queixam-se que os cachos terão ficado queimados, em agosto, mas por Estremoz correu bem. “Não só vamos ter um aumento na quantidade de vinho produzido, como a qualida- de vai ainda subir mais em 2023 que nos anos passados. Estamos todos a trabalhar para isso, mas este está a ser um bom ano”, resume.

Escrevia o poeta Miguel Torga, a propósito da interioridade portuguesa, que “que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho, fica cepa a sonhar outra aventura. E que a doçura que se não prova, se transfigura noutra doçura, muito mais pura e muito mais nova”.

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