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Vila Viçosa paga biblioteca que não foi construída

Ana Luísa Delgado, texto | Gonçalo Figueiredo, fotografia

Vila Viçosa é um dos cinco municípios do pais que ainda não dispõe de uma biblioteca municipal. Um edifício começou a ser construído, mas 10 anos depois não só não há biblioteca, como o município ainda está a pagar uma indemnização à empresa a quem a obra tinha sido adjudicada.

Conta Inácio Esperança, presidente da Câmara de Vila Viçosa, que entre 2010 e 2014 houve um projeto aprovado para a construção de uma biblioteca no concelho. O projeto começou a ganhar forma no mandato do então socialista Luís Caldeirinha Roma (2009/2013), tendo chegado a iniciar-se a obra de construção, num terreno junto à antiga estação de caminho de ferro, perto das escolas. Depois vieram as eleições. O PS perdeu para a CDU. E nos dois mandatos que se seguiram, liderados por Manuel Condenado, biblioteca nem vê-la.

“Na transição de executivos, infelizmente, ou não houve vontade ou não conseguiram executar a obra”, lamenta o social-democrata Inácio Esperança. “Ainda estamos a pagar 500 mil euros de um empréstimo para indemnizar a empresa a quem tinha sido adjudicada a obra e que fez as escavações”, diz o autarca, indicando que pelo meio houve “problemas com infiltrações” de água no local onde estava para ser construído o edifício, e o projeto acabou por cair.

“Já tivemos a oportunidade e não a aproveitámos. Quem tinha responsabilidades na altura decidiu não executar o projeto e ficámos sem biblioteca, mas ficámos com a dívida por pagar”, critica.

Sendo assim, Vila Viçosa é um dos poucos – na verdade são apenas cinco – municípios portugueses que não dispõem de uma biblioteca municipal. Há um outro município alentejano na lista, Marvão. Para colmatar esta lacuna, três das cinco autarquias (Vila Viçosa, Marvão e Terras de Bouro) assinaram esta semana contratos de financiamento com o Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais (GEPAC) do Ministério da Cultura para passarem a dispor de um serviço de biblioteca itinerante, pago através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Os restantes dois (Aljezur e Calheta) serão assinados noutra ocasião.

Por agora há que lançar concursos para a aquisição das viaturas, que serão transformadas em bibliotecas. Só para o ano é que o serviço se irá iniciar. “Já temos a candidatura pronta para uma biblioteca móvel, que será também uma ludoteca e um balcão de atendimento móvel que vai permitir aos munícipes de todo o concelho fazer os seus requerimentos e outros pedidos à Câmara sem se deslocarem a Vila Viçosa, sendo uma mais-valia para todos”, referiu Inácio Esperança.

COBERTURA NACIONAL

Para o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, o investimento de 700 mil euros nestas cinco bibliotecas itinerantes “é do maior significado” uma vez que o país “passará, finalmente, a ter uma cobertura integral” deste tipo de equipamentos.

“A função de biblioteca, hoje, não é a mesma que conhecíamos no passado, um espaço físico onde as pessoas vão ler ou requisitar livros. As bibliotecas têm uma função muito mais ampla e estas vão ser à semelhança das cerca de 60 itinerantes que já existem”, acrescentou Pedro Adão e Silva, explicando que além da possibilidade de, em todo o país, “as pessoas poderem ter acesso a livros, e isso é um instrumento crucial para a cultura”, estas bibliotecas são também “espaços de pertença, de criação de vínculos e de laços comunitários, mas também instrumentais para que muitos daqueles que ainda não têm capacidade de acesso às tecnologias possam continuar a relacionar-se com os serviços públicos e que requerem acesso online”.

Segundo o ministro da Cultura, este investimento integra-se numa rubrica do PRR destinada a financiar a modernização da rede se bibliotecas. Ao longo dos próximos anos serão investidos cerca de seis milhões de euros na aquisição de novos equipamentos informáticos e sistemas de informação, digitalização de acervos e apoio à edição de audiolivros e ebooks, entre outros.

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