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Alandroal: Terramay, a regenerar sonhos e terra

Projeto de agricultura regenerativa e turismo sustentável à beira do Alqueva.

Alexandre de Barahona (Texto)

Foi em Berlim (Alemanha) que o casal formado por Anna e David, ela alemã e ele português, com três filhos, decidiu que aquela não era a vida que desejavam. “Têm vantagens os grandes centros urbanos e Berlim, com os seus quatro milhões de pessoas, é giro, mas…” – e Anna fica ligeiramente em suspenso. Retoma de seguida afirmando que, com o seu marido, decidiram “parar de falar sobre isto, e pôr mãos à obra”. Dali em diante, desfizeram-se em incontáveis viagens a Portugal, para escolherem o idílico lugar.

Excluíram o Algarve, preferindo-lhe o Alentejo, e calcorrearam a região de lés a lés. De repente, por um mero acaso, perto da aldeia do Rosário, no Alandroal, apaixonam-se por uma vista do Alqueva. Olham um para o outro e percebem que aquele parecia ser o local eleito para virem residir e criarem um projeto de agricultura regenerativa, interligando-lhe o turismo sustentável.

Foi em 2018 que assentaram arraiais nos cerca de 560 hectares de terra, tendo a água da maior barragem artificial da Europa a seus pés. Nasceu assim a Terramay, como batizaram o empreendimento, que naturalmente significa “terra mãe”, o bem-estar e respeito pela natureza.

Cuidando que a terra sempre seja liberta de pesticidas e com a mínima intervenção de máquinas agrícolas, vemos agora ali plantadas mais de uma centena de espécies hortícolas e aromáticas, tudo diariamente acarinhado por uma solidária equipa de colaboradores locais. Daquela terra também sai o sustento dos seus animais, cavalos, porcos, ovelhas, galinhas, vacas e abelhas, que por sua vez, partilhando o espaço conjunto, igualmente ajudam à revitalização do meio ambiente.

Anna de Brito conheceu o seu futuro marido em Lisboa, onde viveu durante três anos e meio “Descobri em Portugal uma maneira de viver a vida bem diferente da Alemanha e dos países nórdicos. E depois, há este sol!”, diz a antiga profissional na área de marketing e escrita criativa para ‘startups’ de turismo e gastronomia. David de Brito era um estratega digital para grandes empresas de publicidade e comunicação, sendo hoje o diretor e gestor dos diversos departamentos em que se desdobrou este projeto Terramay.

A eles se juntou desde o início um suíço, Thomas Sterchi, investidor e empresário. “Ele é um empreendedor ecologicamente responsável”, assegura-nos, acrescentando que para Thomas Sterchi “esta é uma estratégia do tipo plano b. Em caso de surgir um futuro mais sombrio, este pode ser um refúgio seu, uma solução”.

Com a crise ecológica atual, onde tudo perdura pouco e pouco ou nada é feito a favor da sustentabilidade do clima, a não ser colocarem esta palavra nos discursos e folhetos, “ter terra, água e comida é o investimento certo para ficarmos autónomos, e quase livres dos políticos”, judicia Anna, com gravidade. É um estilo de vida alternativa, que procura a autenticidade, longe do consumo imediato que o excesso de industrialização nos trouxe. “Aqui perto, a aldeia do Rosário está abandonada e só tem velhotes, porque as pessoas migraram para as cidades, esperando viverem esse sonho de ‘american dream’ e foram enganadas”.

Nas cidades, vivemos longe das origens dos alimentos. “Quando se diz que algo é comida (alimento), não é o mesmo que dizer que algo é comestível”, explica, sublinhando que “no contexto urbano ninguém sabe de onde vêm os alimentos”.

Aceita que foi um grande desafio e ainda é, esta radical mudança, contudo defende que “crescemos com os desafios, quando saímos da zona de conforto. E é um luxo sair desses confortos, acredite”. Conhecendo a realidade portuguesa, corto-lhe delicadamente o discurso. “E está a correr bem?” pergunto-lhe. Anna percebeu logo onde queria chegar, deixa escapar uma gargalhada relativizando: “Há dias bons e dias mais complicados. Claro que não são agradáveis todos os problemas burocráticos”. A dado passo, por falta de oferta local, tiveram de constituir uma empresa de construção para poderem dar asas ao projeto. “Mas compensa muito, sentir toda esta liberdade no dia a dia.”

A Terramay, além desta ideia de agricultura regenerativa, tem um restaurante à beira da praia fluvial e dentro de algum tempo terá também alojamentos, permitindo completar a sua evolução de um turismo rural diferente.

“Trabalhar com pessoas é sempre importante, ideias que possam parecer parvas até podem funcionar, se tivermos as pessoas certas. Ter o Thomas associado foi fundamental, porque ele assume-se como empresário e investidor. E isso implica muitos custos e dores de cabeça ao nível estratégico, mas cuja motivação é essa: a sua preocupação altruísta, em trabalhar com as pessoas certas”, conclui Anna. E depois, passar um dia na azeitona, é bem diferente do que encher tabelas Excell no computador.

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