Francisco Alvarenga texto | Eduardo Pinto fotografia
Esta sexta-feira e sábado, às 21h30, a companhia A Escola da Noite regressa a Évora para apresentar a sua mais recente criação, “Trilogia de Alice”, de Tom Murphy, com encenação de Nuno Carinhas.
Inédita em Portugal, “Trilogia de Alice” foi escrita em 2005 e originalmente produzida pelo Royal Court Theatre, em Londres. A peça oferece-nos uma viagem por três momentos da vida de uma mesma personagem (Alice, uma doméstica casada com um banqueiro de sucesso, mãe de filhos), ao longo de três décadas e meia – entre os anos 80 do século XX e o início do século XXI.
A jornada, adianta o encenador, relata a “peregrinação interior” desta mulher, através de “ligações, em tempos alternados, de experiências, de descobertas, de anseios” da personagem e de “breves relatos de vidas que se cruzam com a sua, respectivos gestos falhados e (des)ilusões”.
“Talvez sejam só fantasmas em viagem, que transportam o desconforto da existência cheia de desconhecido a que dão o nome de Deus”, acrescenta Nuno Carinhas, citando uma das frases de Alice.
Responsável pela apresentação em Portugal de várias obras da dramaturgia irlandesa contemporânea, o encenador afirma que “esta Alice multiplicada está inscrita na linhagem do teatro irlandês das personagens femininas com voz, que se contam por direito e necessidade de partilha. Mulheres que combatem, com as palavras ditas, a dificuldade de existirem”.
Depois da estreia em Coimbra, com sessões esgotadas, “Trilogia de Alice”, uma peça que até agora ainda não tinha sido representada em Portugal, está agora no Garcia de Resende.
Nascido em Tuam, no Condado de Galway, Irlanda, em 1935, local com o qual manteve sempre uma forte relação, Tom Murphy foi o mais novo de dez irmãos, filhos de um carpinteiro e de uma dona de casa. Começou por escrever para um grupo de teatro amador da sua cidade, enquanto trabalhava numa fábrica de açúcar, como metalúrgico e, mais tarde, como professor. Tornar-se-ia escritor a tempo inteiro a partir no início da década de 1960.
É autor de mais de duas dezenas de peças teatrais, escreveu para televisão e cinema e um romance – “The Seduction of Morality” (2004). Entre 1974 e 1981 encenou quatro das suas peças em diferentes salas de Dublin: o Abbey Theatre, o Project Arts Centre e o 3Olympia Theatre.
As suas obras – maioritariamente produzidas na Irlanda pelo Abbey Theatre e, a partir de 1984, pelo Druid Theatre (Galway) – têm sido levadas à cena em diversos países – para além do Reino Unido, nos Estados Unidos da América do Norte, no Canadá, na Austrália, na Áustria, na Hungria e em Portugal.
Apesar de quase sempre abordarem “temas negros” (emigração, violência, niilismo, desespero), as suas peças são pontuadas com uma certa dose de humor e configuram uma forma própria de lirismo, que Billy Roche, seu colega dramaturgo, um dia designou como “uma linguagem do inarticulado”.
A interpretação é de Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães, Ricardo Kalash e Rita Brütt. A cenografia é assinada Henrique Pimentel e Nuno Carinhas.