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“Segredos de Vila Nova”, ou a realidade com “efeitos especiais”

Chama-se “Segredos de Vila Nova” e é a mais recente obra de João Luís Nabo. Um livro de contos, histórias de épocas diferentes, onde o autor “mistura realidade e ficção, salpicada, aqui e ali, de efeitos especiais”.

Luís Godinho (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

É o jornalista Pedro Coelho quem o assinala: João Luís Nabo “é um escritor cuja matéria-prima é a realidade”. Não exatamente à semelhança do que sucede no jornalismo, já que, para o autor, essa é uma “realidade transformada, ou aumentada, pela criatividade, pelo conhecimento que tem do mundo, pelo que gostaria que o mundo fosse, pelos seus próprios sonhos e pesadelos”. Daí que, “sem pudor”, João Luís Nabo, escritor, “mistura realidade e ficção, salpicada, aqui e ali, de efeitos especiais, que só o gótico, que se lhe entranhou na escrita, alcança”.

Haveremos de regressar a Pedro Coelho. Não sem antes registar que esta forma de contar a realidade pelo modo como a concebe é mesmo uma das características do autor de “Segredos de Vila Nova”, agora lançado com a chancela da Colibri.

“O cenário”, diz João Luís Nabo, “é Montemor-o-Novo, com o nome ficcional de Vila Nova. E sim é possível detetar cenários, ruas, largos… aliás eu ando tão entretido com estas escritas que quando saio à rua sinto-me uma personagem das histórias que escrevo porque vou aos sítios onde elas acontecem e que eu conto, vou aos espaços, aos largos, às ruas, aos monumentos, às casas e encontro pessoas que também estão incluídas nos meus contos. Normalmente as personagens secundárias ou as figurantes são pessoas com nome real, amigos meus, vizinhos, mas as personagens principais, essas, têm nome que não é conhecido”.

Nascido em Montemor-o-Novo em dezembro de 1960, João Luís Nabo licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Clássica de Lisboa, tem uma (já) longa carreira como professor de Inglês e de Alemão e, não por acaso, é mestre em Criações Literárias Contemporâneas pela Universidade de Évora. Começou deste muito novo a escrever crónicas para os jornais, tendo publicado um primeiro livro de contos, “Alentejo Sem Fim”, em 2004. De então para cá soma mais oito títulos, incluindo este “Segredos de Vila Nova”, por onde desfilam “histórias de épocas diferentes” e “largas dezenas de personagens que, aos poucos, conduzem o leitor ao conto derradeiro, o último e definitivo, onde um segredo de uma amplitude muito maior é, finalmente, revelado”.

João Luís Nabo sublinha este ponto: “São 24 histórias que podem ser lidas sem ser pela ordem do livro. Contudo, se essa leitura for feita pela ordem como estão publicadas, o último conto tem um impacto muito maior… o último conto é um final daqueles inesperados, mas para que isso funcione o leitor terá de ler a sequência como ela está publicada”. Um final tão inesperado que, confessa, até “surpreendeu o próprio autor”.

Pelos 24 contos passam “segredos das mais variadas espécies e origens”, conhecidos por muitos dos habitantes de Vila Nova, ainda que não tenham coragem para os revelar. “O receio das consequências deste seu ato de bravura confunde-se com o mesmo provocado pelo vidro de que são feitos os seus próprios telhados”.

Narciso Ventaneira que o diga, depois de se ter apropriado do que não era seu para inaugurar o Mini-Mercado Ventaneira e Filhos, Limitada. “Sempre ao teu dispor”. Ou Maria da Luz, que prefere enviar o filho para a prisão a desvendar um segredo. Lemos, diz o autor, “sobre os vícios e as virtudes, as traições e as lealdades, a vida e a morte, os ódios e as paixões avassaladoras de quem vive numa terra como esta, nesta Vila nova, tão bela à distância mas tão perversa quando dela nos aproximamos”.

Regressemos a Pedro Coelho e ao prefácio que escreveu para esta obra: “Sempre me encantei com a diversidade da ficção que o João Luís fabricava a partir do chão comum de Vila Nova. Vila Nova crua, dura, medieval e moderna, exuberante e fantástica, rica e pobre, malcomportada, beata, latifundiária e miserável, racista, misógina, política, heterodoxa, ortodoxa, conservadora e progressista, ousada e relapsa”.

Uma Vila Nova, prossegue, “com os seus ícones sagrados e humanos, com as suas personagens-tipo, descritas e compostas a partir de nomes inverosímeis, e com as suas personagens reais, normalmente secundárias, ostensivamente apresentadas com os nomes de batismo”.

VIDA MULTIFACETADA

Foi no extinto “Diário Popular”, nas edições de sábado, que João Luís Nabo se estreou a publicar ficção. Mas a colaboração com a imprensa haveria de continuar ao longo dos anos. Foi diretor do jornal “Folha de Montemor”. É cronista no jornal “O Montemorense”, onde assina uma coluna intitulada “Cloreto de Sódio”. Além dos nove livros de ficção já publicados, sobretudo contos, mas também o romance “Sertório, Uma História de Vila Nova” (2021), publicou dois ensaios, sobre temática gótica. Em 1987 fundou o Coral de São Domingos, que ainda dirige, tendo igualmente dirigido, como maestro convidado, o Orfeão Tomás Alcaide, de Estremoz, entre 2013 e 2021. Tem um novo romance, a meio. E, garante, “projetos para os próximos dois ou três anos”.

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