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Seca agrava-se. Há cada vez mais explorações em dificuldade

Ana Luísa Delgado texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Agora é oficial. O país encontra-se em seca. “É reconhecida a existência de uma situação de seca severa e extrema, em todo o território continental, o que consubstancia um fenómeno climático adverso, com repercussões negativas na atividade agrícola”, refere um despacho da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, publicado em “Diário da República”.

De acordo com os dados registados no âmbito da monitorização agrometeorológica e hidrológica, a situação de seca em Portugal continental, após uma ligeira melhoria nos meses de março e abril, voltou a apresentar um “agravamento significativo” nos meses de maio e junho, “com consequentes impactos negativos na atividade agrícola”.

Fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera indica que 97,1% do território português está em seca severa e 1,4% em seca extrema. Acresce que, desde o final do ano passado, se verifica uma descida no volume armazenado em grande parte das bacias hidrográficas, com armazenamentos inferiores à média, “devido à ocorrência de reduzidas afluências às albufeiras, resultantes de precipitações pouco significativas ou nulas durante o ano hidrológico e ao volume” dos consumos.

As barragens de Veiros (Estremoz), do Caia (Elvas) e da Vigia (Redondo) estão a cerca de metade da sua capacidade máxima. As do Divor (Arraiolos) e Minutos (Montemor-o-Novo) não chegam aos 40%. Na bacia do Sado a situação é ainda pior, sobretudo nas barragens do Monte da Rocha, que abastece os concelhos de Ourique, Castro Verde e Almodôvar, que está apenas com 13,4% da sua capacidade de armazenamento, e na de Campilhas, importante para a produção de arroz, que está quase vazia. Alqueva está com o segundo nível de armazenamento mais baixo dos últimos 15 anos.

“Secas já tivemos muitas, mas esta é das mais graves de que há memória, com pouca ou nenhum disponibilidade de pastagens”, diz Fermelinda Carvalho, presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP). Sem pastagens, os agricultores veem-se forçados a alimentar o gado com rações, cujos preços têm vindo a aumentar, por força da guerra na Ucrânia, um dos maiores produtores mundiais de cereais, e do aumento do preço dos combustíveis.

Fermelinda Carvalho lembra que esta situação já se arrasta há várias semanas e irá prolongar-se pelos próximos meses. “Toda a alimentação para os animais tem de ser adquirida fora das explorações. Se num ano normal isso já é complicado, face aos valores incomportáveis que agora se praticam é ainda mais difícil. Custam mais do dobro do que no ano passado”.

O problema reside na “enorme dependência” de Portugal em relação às importações de cereais. “Deixou de haver apoio e, obviamente, os agricultores passaram a optar por culturas que lhe dão maior rendimento. Muitas explorações deixaram de fazer cereais”. O país tem reservas para apenas um mês e importa mais de 80% dos cereais que consome. “Estamos dependentes da importação de todos os cereais, seja trigo, milho ou aveia que estão a atingir preços astronómicos. A maior parte das explorações não consegue comprá-los”, sublinha a presidente da AADP.

Outra preocupação dos agricultores é o abeberamento dos animais, particularmente difícil quando o efetivo pecuário é de maior dimensão. “Como praticamente não choveu este ano, os furos e poços estão secos. As reservas subterrâneas de água não foram renovadas e estão em baixo. Há quem já não tenha água para dar de beber ao gado e noutras explorações ela poderá acabar dentro de pouco tempo. É, na verdade, uma situação muito complicada”, adverte Fermelinda Carvalho, revelando trata-se de uma situação “transversal a todo o país”, embora com maior gravidade no Alentejo e no Algarve.

“Juntou-se o pior de tudo”

“Este ano juntou-se o pior de tudo”

Ao olhar para o setor e para a realidade vivida pelos cerca de 3800 sócios da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre, a presidente, Fermelinda Carvalho, não tem dúvidas: “Este ano juntou-se o pior de tudo”. É a seca a obrigar os agricultores a alimentarem o gado com rações, cujos preços “dispararam” a nível internacional, e a terem de fornecer água ao efetivo pecuário pois os poços e furos estão secos. Mas é também o aumento do preço da eletricidade. E o aumento dos combustíveis. “Juntou-se tudo isto ano, os combustíveis estão a valores incomportáveis. É um ano mesmo muito difícil para os agricultores. Há muitas explorações em dificuldade”.

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