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Santa Vitória do Ameixial. À procura da “villa” perdida

Ana Luísa Delgado, texto | Gonçalo Figueiredo, fotografia

Campanha de escavações termina no final do mês e contou com a participação de voluntários de quatro universidades portuguesas. A ideia é conhecer este sitio arqueológico, abandonado até há pouco tempo, e torná-lo visitável.

Na Universidade de Málaga, desabafa Victor Martínez, “não há oferta de arqueologia”. Aluno do curso de História, ouviu falar, numa conferência em Córdoba, da possibilidade de participar numa escavação arqueológica no sítio de Santa Vitória do Ameixial. E não se fez rogado. “Um professor falou-me desta possibilidade de trabalho, que para mim representa uma importante oferta formativa. É a minha primeira escavação arqueológica e estou a aprender muito”, diz Victor Martínez, revelando que, até ao momento, encontrou apenas fragmentos de um mosaico desta antiga villa. “O mais importante não são tanto os objetos que encontramos, até porque este sítio arqueológico já foi muito escavado, mas a componente formativa. Estou aqui para aprender”, garante.

André Carneiro, arqueólogo e responsável pelo decorrer dos trabalhos, recorda que o sítio arqueológico de Santa Vitória do Ameixial esteve, durante vários anos, sob tutela da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), que o deixou praticamente ao abandono, até ter sido transferido, em 2021, para a Câmara de Estremoz.

“Nós, Universidade de Évora, tínhamos um projeto comum com o município, para elaboração da Carta Arqueológica do Concelho de Estremoz, e criou-se o entendimento para haver esta colaboração, no âmbito da qual a Universidade dá apoio na parte científica, sendo toda logística e meios operacionais da responsabilidade da autarquia”.

Este mês de julho, a campanha de escavações contou com a participação de voluntários e incidiu em áreas já anteriormente escavadas, com vista à limpeza da superfície, ao estabelecimento de perfis e ao registo gráficos dos elementos existentes.

Polícia e aluna de mestrado em Arqueologia, Alexandra Duarte foi uma das voluntárias. “Espero continuar. Há 40 anos os pais não incentivavam os filhos a ir para arqueologia”. Foi o seu caso. Já com uma carreira na PSP, acabou por se licenciar em História. Mas, confessa, do que mais gosta é da Arqueologia. “Quando tocamos nos objetos que desenterramos é como imaginar um filme. Se pudesse continuaria aqui a fazer escavações”.

Até ao momento, adianta Alexandra Duarte, já localizou “restos de tijoleira, pequenos ossos, que presumo serem de animal, e pequenos quadradinhos que compunham os mosaicos que ornamentavam a antiga casa romana que aqui existia”.

ALUNOS DE QUATRO UNIVERSIDADES

“Temos alunos de quatro nacionalidades. É o primeiro ano. Ainda não temos um grande conhecimento de escala internacional, mas as inscrições esgotaram-se mal foram abertas. Temos aqui, como voluntários, alunos das Universidades de Coimbra, Lisboa, Évora e Málaga”, revela o arqueólogo responsável pelas escavações.

Segundo André Carneiro, o sítio de Santa Vitória do Ameixial foi escavado “durante muitos anos”, mas nos últimos 20 “esteve praticamente abandonado, sem qualquer atividade turística ou científica”. Sublinhando o interesse da autarquia em “valorizar e dinamizar” o local, “que pode constituir um recurso muito importante” para o concelho, o arqueólogo diz que, para já, o objetivo é “perceber o sítio e criar condições para que as pessoas o possam vir visitar e conhecer, mas interessa também estudá-lo porque algumas das escavações não foram documentadas”.

Trata-se de uma dupla missão: “do ponto de vista científico queremos escavar, conhecer, procurar quem aqui viveu e durante quanto tempo e, depois, do ponto de vista de ligação à comunidade, a ideia é tornar este local acessível a visitas públicas”.

André Carneiro conta que a villa de Santa Vitória do Ameixial, escavada sobretudo entre 1915 e 1917, “era uma grande residência romana, rural, ligada à exploração do território, à exploração agrícola e pecuária. Há de ter estábulos, lagares, celeiros, armazéns, todas essas unidade à volta da produção agrícola, mas era também uma residência de campo, de alguém que muito provavelmente viveria numa cidade”.

Dessa área residencial haverão de surgir mosaicos, sendo que já foram encontradas esculturas e as termas. “Há todo um conjunto de espaços para a residência do proprietário e da sua família com um indicie de conforto e monumentalidade que seria muito grande. Resumindo, isto é, uma villa romana, com um conforto e requinte muito diferente das atuais. Esta teria os tais edifícios termais, mosaicos, jardins, com um fausto bastante considerável”, revela.

MATERIAIS VÃO PARA O MUSEU

Uma vez concluída a campanha de escavações, no final deste mês, todos os materiais encontrados serão guardados no Museu de Estremoz. “Antes”, refere Rita Laranjo, arqueóloga municipal, “será feita a sua catalogação, a inventariação e serão separados por tipologias”. A arqueóloga diz que a ideia é “reabilitar a villa e torná-la outra vez conhecida”. Segundo a Câmara, em função da progressão dos trabalhos “poderão estabelecer-se novas frentes de tarefas, mas a prioridade passará sempre por recuperar as leituras das áreas intervencionadas por distintos arqueólogos que em diferentes tempos trabalharam neste sítio arqueológico”.

O Município de Estremoz é, desde junho de 2021, a instituição com competências diretamente ligadas às ruínas de Santa Vitória do Ameixial, sublinha a autarquia, dizendo-se apostada em “preservar e valorizar as memórias materiais, físicas e imateriais relacionadas com o sítio arqueológico e com os trabalhos aí realizados, tendo como principal foco potenciar o valor patrimonial da villa de Santa Vitória do Ameixial que tem todas as condições para voltar a ser um sítio de referência a nível regional e nacional”.

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