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Ricardo Pinheiro: “País perdeu um ser humano de referência”

Ricardo Pinheiro, deputado do Partido Socialista | Opinião

Portugal, e fundamentalmente o Alentejo e Campo Maior, perderam um ser humano de referência, que tinha a capacidade diária de fazer a sua vida, e a gestão da sua empresa, com um sentimento de partilha em relação aqueles que tinham problemas, mas também possibilidade de criar valor… e fundamentalmente, perdemos um homem que diariamente se preocupava com o sentido transformador que poderia existir no sorriso de cada mulher e de cada homem com quem convivia.

O comendador Rui Nabeiro foi um altruísta puro, que se preocupava muito mais com o bem-estar daqueles que estavam à sua volta do que com ele próprio.

Será sempre recordado como um homem que teve a resiliência – palavra tão utilizada nos dias de hoje, mas nem sempre praticada – para identificar um território do interior, que foi a terra onde nasceu, e a partir daqui, na fronteira com Espanha, começar a projetar uma marca, a dos cafés Delta. 

Ele acreditou em cada pessoa, que muitas vezes nem sequer tinha a capacidade para desempenhar funções e produzir um produto tão específico numa terra tão distante de Lisboa, distância que há mais de 60 anos ainda era mais vincada, acreditando que era possível ir formando e transformando as pessoas que normalmente trabalhavam no campo para produzirem um produto comercializado a uma escala mundial. Esse foi o sonho, concretizado, do comendador Rui Nabeiro.

E, depois, foi presidente da Câmara de Campo Maior. Esta característica dos autarcas… a sua preocupação permanente pelas questões do desenvolvimento local, à escala do Alto Alentejo, do Alentejo e do país. Quero sublinhar a forma e o modo como o senhor Rui Nabeiro fazia viver a vida, a sua e a dos outros.

Acompanhei muitas horas com o comendador Rui Nabeiro, estive com ele em centenas de momentos, e mesmo não tendo nenhum necessidade de o fazer, face ao que era a dimensão do grupo empresarial que liderava, sempre que as pessoas se aproximavam tinha a capacidade e a energia de as olhar nos olhos e perceber as que tinham a capacidade certa para colaborarem na empresa que dirigia. 

Essa foi, possivelmente, uma das suas características mais específicas… um magnetismo enorme, uma capacidade de conhecer as pessoas e conseguir perceber a bondade que é tão necessária às empresas, à organização pública e à gestão deste país. E também, neste momento, a nível europeu.

Como é que se justifica esta unanimidade em torno da figura de Rui Nabeiro? Suponho que no modelo em que a sociedade vai certificando aqueles que têm mais visibilidade, a figura de Rui Nabeiro era credibilizada a cada segundo, a cada momento, porque ele era um empresário que vivia a rua, que vivia os problemas de cada pequena aldeia, de cada pequeno cliente em qualquer ponto do país. 

Ao interpretar a realidade, mesmo a partir da gestão privada, sempre senti que o comendador tinha uma responsabilidade enorme em continuar a progredir e a criar valor na sua organização, mas também com um enorme sentimento de responsabilidade social.

Recordo-me de vários episódios vividos com ele. Por exemplo este, que ele sempre contava com muita graça… o presidente da Câmara de Badajoz, há alguns anos, homenageou o senhor Rui Nabeiro atribuindo o seu nome a uma avenida na cidade. E no discurso que proferiu nessa altura, o presidente da Câmara disse que normalmente não atribuía o nome de ruas a pessoas que ainda estavam vivas. Ora, o senhor Rui Nabeiro, já com 80 e muitos anos, respondeu ao presidente da Câmara de Badajoz que iria tentar não cometer erros para que lhe não tirassem o nome da rua. 

Tinha uma dimensão, um humor, absolutamente incrível e essa foi uma das características que passou para todos os que o acompanhávamos… um humor associado à resolução de problemas. 

A Delta é uma marca que tem a confiança dos clientes. Acho que o futuro do grupo nem sequer deve ser colocado. A dimensão social em que o senhor Rui Nabeiro cresceu e que fez crescer o “coração” Delta corresponde a uma dimensão extraordinária e, neste momento, todos temos de receber esta grande herança que corresponde à forma como ele se posicionava em função da vida.

(Com base em depoimento recolhido pela SW Portugal)

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