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Restaurantes e mercearias combatem desperdício alimentar

Ana Luísa Delgado (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

Diversos restaurantes, pastelarias, mercearias e supermercados alentejanos aderiram a uma plataforma eletrónica apostada em reduzir o desperdício alimentar. Quem compra consegue obter descontos significativos.

Chefe de sala do restaurante Águias d’Ouro, em Estremoz, Cláudio Rebola [na fotografia] diz que é sobretudo às segundas-feiras e aos sábados que mais pedidos chegam através da aplicação “Too Good to Go”, uma plataforma eletrónica apostada em reduzir o desperdício alimentar. O conceito é simples. Todos os dias, os estabelecimentos comerciais aderentes disponibilizam uma refeição ou um cabaz alimentar com produtos que, se não fossem consumidos, iriam para o lixo, e vende-o com um bom desconto aos aderentes da aplicação.

“Podemos pensar que, geralmente, este tipo de solução é procurado por pessoas com maior necessidade [financeira], mas não é bem isso que vejo”, diz Cláudio Rebola, sublinhando que uma das principais motivações para a utilização deste serviço é mesmo o combate ao desperdício alimentar. No caso do Águias d’Ouro, que também dispõe de serviço de pastelaria, os interessados podem aceder a um cabaz com pães frescos, bolos ou salgados, por exemplo, pagando 2,49 euros, o que corresponde a um terço do valor comercial dos produtos.

“Nos restaurantes, ao fim do dia, há sempre muita coisa que vai fora sem necessidade, quando há pessoas que podem beneficiar desses produtos”, acrescenta Cláudio Rebola, reconhecendo que, apesar das preocupações ambientais associadas à diminuição do desperdício alimentar, também há quem procure o serviço por ser uma forma de adquirir produtos mais baratos.

“Há várias pessoas que passam dificuldades, algumas delas talvez ainda tenham vergonha de as assumir, e não aderem à aplicação por preconceito do que as outras pessoas podem pensar. No nosso caso, ultimamente temos sido procurados por pessoal mais novo”, revela o chefe de sala do Águias d’Ouro, segundo o qual “também é bom podermos ajudar alguém, em vez de estarmos a atirar fora alimentos que se encontram em boas condições”.

No restaurante Abadia, em Évora, ao final do dia há refeições a 3,99 euros, que os clientes podem levar para casa. “Temos os pratos do dia… se não os vendermos todos, as pessoas pedem o serviço através da aplicação e, ao final dos jantares, fornecemos essas refeições”, explica José Carlos Chilrito, proprietário do restaurante, revelando que a procura tem vindo a aumentar. “Já tivemos de anular alguns pedidos porque nem sempre temos comida em excesso para os poder atender”.

José Carlos Chilrito lembra que a inflação e a subida dos juros trouxeram “dificuldades acrescidas” a muitas famílias, tornando “mais apetecível” um serviço com estas características. Mas a esse grupo juntam-se os estudantes da Universidade de Évora e alguns profissionais que terminam o dia de trabalho a hora mais tardia.

“Há mais procura e essa é uma grande diferença em relação ao que sucedia”, desabafa. Através da “Too Good to Go” os utilizadores não podem, propriamente, escolher o tipo de prato. “Fazem o pedido de refeição e levam o que temos para oferecer”. A garantia é que se trata de “comida tipicamente portuguesa e pronta para consumo”.

Depois de anos a operar exclusivamente através da internet, a 1001 Koisas abriu um espaço físico em Pardais (Vila Viçosa). Trata-se de uma das mercearias que já integra a plataforma… e é fácil perceber por quê.

“A minha filha está a estudar em Lisboa e habitou-se a utilizar a aplicação. Depois achei que seria uma boa ideia para combater o desperdício alimentar na nossa loja”, conta Ana Santos. Por aqui, em regra, o cabaz inclui pão, fruta e alguns produtos “em cima” do prazo de validade, outros nem tanto. “É preferível entregá-los a quem os queira consumir do que, simplesmente, colocá-los no lixo”.

Por este cabaz com um valor comercial de 12 euros, os aderentes à plataforma pagam 3,99 euros. “Hoje, por exemplo, entreguei uma embalagem de pão de cachorro, dois pacotes de natas com mais 10 dias de validade, uma caixa com iscas de porco frescas, um cacho de bananas e alguns bolos secos”, revela Ana Santos, assegurando que, pelo menos para já, são sobretudo pessoas “de fora” que procuram o serviço. “É possível que esta seja uma solução para quem viu agravarem-se as condições de vida”, conclui.

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