Ana Luísa Delgado texto
Os crimes participados às autoridades em 2022 registaram, no Alentejo, um aumento de 22,5% comparativamente com o ano anterior. Os números da criminalidade violenta também subiram. O fim da pandemia é uma explicação para alguns estes indicadores.
Os dados constam do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), agora entregue no Parlamento. Em 2022, foram apresentadas à GNR e à PSP 16.596 participações de crimes no Alentejo, o que representa um aumento de 22,5% em relação ao ano anterior.
O agravamento da criminalidade é transversal a toda a região, sendo que, em números absolutos, foi no distrito de Évora que se registou um maior aumento do número de participações: mais 978 que em 2021. Olhando para as percentagens, foi em Portalegre que a situação mais se agravou, com um crescimento do número de crimes na ordem dos 29,5%. No distrito de Beja foram reportadas 5.160 ocorrências, mais 840 que em 2021.
Das 4.573 denúncias de crimes apresentadas no distrito de Évora, 441 referem-se à condução com uma taxa de álcool superior a 1,2 g/l, um aumento de 80,7% comparativamente com 2021, o que fonte policial explica “pelo fim da pandemia e pelo aumento da fiscalização” rodoviária. No distrito de Beja, foram detetados 430 condutores com excesso de álcool (mais 30,7% que no ano anterior), e no de Portalegre esse número ascendeu a 413 (mais 71,4%).
“Apesar de alguns estudos indicarem que os condutores têm a perceção que conduzir com álcool é um risco, continuam a fazê-lo e a pensar que os acidentes só acontecem aos outros”, lamenta a presidente da Associação Para a Promoção de uma Cultura de Segurança Rodoviária (GARE), com sede em Évora. “A taxa de 1,2 g/l aumenta em 140 vezes o risco de morte em acidente rodoviário”, acrescenta Filomena Araújo, lamentando a falta de promoção de uma educação para a cidadania rodoviária: “É uma falha global da sociedade e do Estado, enquanto responsável máximo pela nossa segurança. É preciso que os cidadãos aprendam e sejam relembrados continuamente das regras e das suas responsabilidades”.
Também a aumentar estão as denúncias de crimes de violência doméstica. Sem incluir dados dos concelhos alentejanos integrados no distrito de Setúbal, uma vez que não existe uma desagregação dos números a nível municipal, o RASI revela que em 2022 foram registadas 1284 ocorrências de crimes de violência doméstica no Alentejo, um aumento de 10% em relação a 2021, sendo que o problema se tem vindo a agravar de ano para ano. No distrito de Évora o número de casos aumentou 46,3% e no de Portalegre a subida foi de 27,7%. Mas a realidade, essa, será certamente mais grave.
“Os estudos indicam que as vítimas tentam resolver por si as situações. Acreditam muitas vezes, até pelas crenças que têm, que a situação se resolve. E isso depois também tem que ver com a forma como a violência doméstica, a violência no seio da família, em relações de intimidade, se apresenta”, explica Aurora Rodrigues, Procuradora da República jubilada do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora.
“As vítimas não só não têm a resposta, como não sentem que há respostas imediatas. Pensam que para arriscar, uma vez que a apresentação de uma denúncia implica um risco, desde que o agressor tenha conhecimento disso, a vítima torna-se mais vulnerável e o agressor pode tornar-se mais violento, a escalada de violência pode aumentar e daí que não tenham, de facto, as vítimas, a vida muito facilitada”, acrescenta.
CRIMES GRAVES
Segundo os dados do RASI, a criminalidade violenta também se agravou em 2022, tendo sido efetuadas 359 participações nos distritos de Beja, Évora e Portalegre, o que representa um crescimento de 29,2% relativamente ao ano anterior.
No caso do distrito de Évora, onde esse aumento foi particularmente significativa (mais 46,2%), os principais crimes investigados pelas autoridades foram os de roubo na via pública (44), incluindo roubo por esticão, e resistência e coação sobre funcionário (31, que inclui agressões e ameaças a elementos das forças de segurança. Em Portalegre, GNR e PSP receberam 93 denúncias de crimes violentos, precisamente as mesmas que em 2021. Cerca de um terço destas ocorrências (28) diz respeito ao crime de resistência e coação sobre funcionário. Já no distrito de Beja, a criminalidade grave registou um aumento de 42,9%, tendo sido apresentadas 120 denúncias. Resistência e coação sobre funcionário, extorsão e ofensas à integridade física foram os crimes mais reportados.
PROBLEMA AGRAVA-SE NAS CIDADES
Sem surpresa, é nas maiores cidades da região que se regista o maior número de crimes participados às autoridades. No concelho de Évora foram 1337 ocorrência em 2022 (mais 16,5%) e em Beja 1184 (mais 22,3%). Já no Alto Alentejo, foi em Elvas que se registou maior número de crimes (909), seguido de Ponte de Sor (633) e da capital de distrito, Portalegre, com 588 ocorrência (mais 17% que no ano anterior). No concelho de Estremoz, o RASI regista 346 crimes, menos do que os reportados em Montemor-o-Novo (478), Vendas Novas (373) e Reguengos de Monsaraz (355). Os cinco conselhos mais seguros ficam todos no Alto Alentejo: Fronteira (57 ocorrências), Marvão (68), Arronches (72), Crato (85) e Castelo de Vide (87).