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Perigo de novas derrocadas no Castelo de Veiros

Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Um relatório da Direção Regional de Cultura do Alentejo alerta para o perigo de virem a ocorrer novas derrocadas no Castelo de Veiros e para a necessidade urgente de se procederem a trabalhos de “escoramento e proteção” da muralha. Presidente da Câmara da Estremoz diz que solução “poderá passar” pela concessão do Castelo à Câmara ou à Junta de Freguesia.

Elaborado na sequência do desmoronamento de um troço de muralha com cerca de 10 metros de comprimento, em dezembro passado, o relatório técnico elaborado pela Direção Regional de Cultura (DRC) do Alentejo e já enviado à Câmara de Estremoz adverte para o perigo de virem a ocorrer novas derrocadas e aponta para a necessidade de serem realizados trabalhos para as prevenir.

Tendo identificado o risco “do pano interior” da muralha e dos “topos remanescentes” na zona onde se verificou o colapso também virem a ruir, o mesmo sucedendo com os cubelos (torreões) e com uma torre quadrangular que lhe é próxima, o relator recomenda a interdição do caminho a norte e a poente da muralha de Veiros, encontrando-se percursos alternativos para acesso aos terrenos aí localizados.

No documento é também defendida “a urgente necessidade de se proceder ao escoramento e contenção dos elementos remanescentes e em risco”, recorrendo a uma torre de contenção e a andaimes para “envolver os topos da muralha não compassados, o pano interior e as alvenarias em risco”, trabalhos a realizar “com base em estudo específico de avaliação de riscos” e projeto elaborado por uma equipa especializada.

Assinado pelo arquiteto João O. Pires, o relatório defende a elaboração de uma proposta de “pequenos trabalhos de conservação de revestimentos” que “contribuam para a redução das anomalias e danos existentes”, bem como a monitorização de fissuras em alvenaria, a elaboração de um projeto de consolidação e conservação da cerca medieval e “um plano de investimento e gestão que inclua o faseamento das intervenções e a sua manutenção”.

“A situação é grave e exige uma intervenção rápida e robusta”, reconhece o presidente da Câmara de Estremoz, José Daniel Sádio, acrescentando estar “para breve” uma reunião entre o município, a DRC do Alentejo e a Fundação do Asilo de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Veiros, proprietária do imóvel.

Recordando que o castelo é propriedade privada e que o seu estado de conservação “é preocupante”, José Daniel Sádio indicou que uma solução “poderá passar pela concessão [do imóvel] à Câmara ou à Junta de Freguesia. Será esse o caminho, mas temos de perceber a disponibilidade por parte da Fundação”.

Concordando com as recomendações apresentadas, o diretor de serviço dos Bens Culturais da DRC do Alentejo, Eduardo Eugénio, reforçou, em despacho, “a necessidade urgente de intervenção na fortaleza, pois apresenta anomalias generalizadas e significativas”. Na sua opinião, é “evidente” a importância de uma intervenção de “reforço estrutural e drenagem de águas pluviais, por forma a evitar novas derrocadas”.

HISTÓRIA DE 700 ANOS ACABA EM RUÍNA

Projeto do mestre de obras Pedro Abrolho, a torre de menagem do que seria o Castelo de Veiros começou a ser construída em maio de 1308, a expensas da Ordem de Avis. Segundo o historiador Manuel Branco, ao longo de mais de 700 anos de história, o castelo resistiu a ataques como o de 1381, no contexto de guerras com Castela, ou os de 1646 e 1661, no âmbito da Guerra da Restauração, durante a qual a torre de menagem foi totalmente destruída (em 1662) por uma explosão “ordenada por D. João de Áustria, para castigar a resistência armada da população”. Neste período, e dando sequência a uma ordem do Conselho de Guerra, “o adarve [caminho de ronda] foi reforçado por sólido parapeito cego que substituiu as ameias, formando caminho de ronda mais largo destinado ao movimento de bocas de fogo”. 

Por testamento da condessa de Cuba, D. Maria Francisca Borges Coutinho de Medeiros Sousa Dias da Câmara e Lencastre, em março de 1956, o Castelo entrou na posse da Fundação do Asilo de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Veiros, sendo no ano seguinte classificado como Imóvel de Interesse Público. Nem isso evitou uma progressiva degradação do conjunto. O último “restauro geral” data de 1936.

No relatório técnico de avaliação dos estragos provocados pela intempérie de dezembro, o arquiteto João O. Pires explica que a parte da fortificação que ruiu “corresponde a cerca de 10 metros de comprimento”, num troço localizado a norte da cerca medieval, entre uma torre quadrangular e um cubelo. A inexistência de pavimento ou drenagem no adarve “terá contribuído para a acumulação de água no interior da muralha e, consequentemente, [para] o aumento de pressão e o colapso desta alvenaria”.

Segundo o documento, “permanecem ainda anomalias e danos na estrutura remanescente deste troço colapsado que importa conhecer e caracterizar em estudo mais detalhado por forma a se adotarem as medidas necessárias e suficientes com vista à proteção de pessoas e bens e salvaguarda deste sistema fortificado”.

É igualmente apontada a presença de “fendilhação no paramento remanescente da muralha”, sendo que o “restante sistema fortificado apresenta também diversas anomalias, com alguns danos assinaláveis e outros preocupantes, designadamente nas torres, cunhais, adarve e alvenarias”.

Nas torres são visíveis fissuras e “abatimentos” de cobertura que tenderão a “agravar-se” devido à infiltração de água. “Salvaguardando pontuais exceções, fenómenos como a falta de uma drenagem adequada, a permeabilidade do pavimento e o perfil acidentado (em alguns troços com inclinações significativas) tanto no caminho de ronda como em algumas coberturas, têm contribuído para a degradação das muralhas”, acrescenta o relatório.

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