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Râguebi no Alentejo, uma escola de carácter

Alexandre Barahona (texto)

Rugby Clube de Montemor recusa subida. Já o Clube de Rugby de Évora tem na tasquinha da Feira a maior fonte de rendimento.

Durante o mundial de râguebi, o nome de que mais se falou foi o de José Lima, subcapitão da seleção portuguesa. Um jogador alentejano, formado no clube eborense.

Por Évora foi entre os Regentes Agrícolas que as bolas ovais começaram a ser trocadas de mão em mão, vindas da frente para trás, estávamos nos anos 60 do século passado. A vontade de progredir levou-os a procurar uma instituição desportiva, passando pelo Juventude Sport Clube, continuando no Clube Desportivo da Universidade de Évora (CDUE), jogava-se então no campo pelado da escola agrícola na Mitra (Valverde). Ainda envergaram as camisolas verdes do Lusitano Ginásio Clube. O grupo, em si, era quase sempre o mesmo, já com velhos e novos, pelo que 30 anos em busca de estabilidade levou-os, em agosto de 1991, a formarem o Clube de Rugby de Évora (CRE).

Em Elvas é “o engenheiro Francisco Bagulho, jogador no Agronomia de Lisboa, que há 50 anos”, nos inícios da década de 70, “trouxe aquela estranha bola, com a qual ia brincando no seu quintal, com a miudagem”, confidencia Luís Carvalho, o atual presidente do Rugby Clube de Elvas (RCE). Começaram a jogar no seio do clube Elvense de Natação, e depois no Académica de Santa Luzia. Finalmente em 1983 fundaram o RCE.

Em Montemor-o-Novo também desde cedo se jogou com a bola oval, com os jogadores, de início, inseridos no clube desportivo da cidade, o Grupo União Sport. Em 1995, liderado por Paulo Xavier e coadjuvado por João Banha, surge o Rugby Clube de Montemor-o-Novo (RCM), que fez um longo caminho, sendo o atual campeão nacional em título. Deste modo, venceu por quatro vezes o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, que corresponde ao segundo nível competitivo da Federação Portuguesa de Râguebi, já que o primeiro se nomeia Divisão de Honra. Também o CRE se destaca, graças três títulos de campeão nacional, em seniores.

Aliás, as salas de troféus destes dois clubes, andam equiparadas, com ligeira vantagem para o Montemor, e ambos amealhando diversos títulos nacionais e internacionais, nos escalões de sub-16 e sub-18.

No entanto, dar continuidade à prática desportiva significa uma labuta diária. “A maior fonte de rendimento para financiar este clube, provém da tasquinha que temos na feira de São João, em Évora, onde os pais dos jovens jogadores e a direção trabalham voluntariamente dia e noite”, reconhece Manuel Couto, presidente do CRE, acrescentando que “alguns patrocinadores, como a Fundação Eugénio de Almeida” também “ajudado” o clube.

Em casa do rival RCM, a reali- dade é idêntica. A notícia da época foi mesmo o facto de o RCM ter recusado jogar na Divisão de Honra, o escalão principal do râguebi português. “Recusámos a subida. Não temos condições humanas nem financeiras para conseguirmos manter um nível de competitividade nessa divisão superior”. Quem o afirma é João Reis, presidente do RCM desde 2021, assegurando que “o grande objetivo desta nova direção reside em dar robustez à estabilidade da nossa formação. Preferimos ir buscar técnicos e treinadores para orientarem todos os escalões etários, e prosseguir em frente. Foi o que fizemos e, embora possa parecer ser um passo para trás, acredito que estamos a ganhar no tempo”.

Sobre as condições de treino, os campos são sempre uma contínua dor de cabeça. Em Montemor, o relvado sintético estava muito degradado e há dois anos que deveria ter sido substituído. Não o foi. “Em maio passado deveriam ter começado essa operação, mas estamos em outubro, e nada, ainda não foram sequer iniciadas as obras”, deplora João Reis. “Apesar do apoio que temos do município de Montemor, teremos de ir treinar provavelmente em vilas ou aldeias próximas, com deslocações a cargo das famílias dos jovens e demais inconvenientes”.

Em Évora o dilema é outro. “Conseguimos batalhar uns 10 anos para transformar um terreno desportivo abandonado num excelente recinto para o râguebi e para o atletismo”, declara Manuel Couto. “No fim, o campo foi entregue ao Instituto Português do Desporto e da Juventude”. Ora, aquele organismo resolveu “ceder a gestão do espaço à Câmara de Évora e com tantos campos e clubes de futebol que existem na cidade, ainda vão lá colocar mais dezenas e dezenas de miúdos do futebol. Quando na placa da inauguração, é bem visível, diz Complexo de Rugby e Atletismo”, lamenta o presidente do CRE.

De salientar também a importância dos clubes de râguebi de Beja, Estremoz, Portalegre e Borba, que apesar das adversidades, mantêm vivo o jogo no Alentejo.

O “velho” capitão e dirigente de Râguebi Clube de Estremoz, Miguel Correia, diz que na cidade, e em Borba, “conseguimos ter equipas até aos juniores, mas depois vão para a universidade e acabou-se”. Do mesmo se queixa Luís Carvalho, do Elvas: “A migração dos miúdos aos 18 anos torna difícil manter aqui uma equipa sénior. Com os nossos, que vão para Lisboa estudar e jogar no Agronomia, na Académica, no Direito e noutros clubes, tínhamos aqui uma bela equipa”.

Por entre estas realidades, encontramos outras curiosidades. Paulo Jaleco, que fora o primeiro presidente da direção do CRE, decidiu criar em 1997, o Clube de Rugby de Juromenha (CRJ), no concelho do Alandroal, a uma dúzia de quilómetros de Badajoz. Aqui o conceito é diferenciado, são um grupo de amigos portugueses e espanhóis, todos eles jogando em vários clubes, sem limite de idade, e participando apenas em torneios extra federações.

Hoje, o seu filho Pedro Jaleco, sendo jogador do Belenenses, e formado no RCM, levou-os a ser consagrados bicampeões de Espanha em 2022 e 2023… em Beach Rugby (râguebi de praia). Seja como for, há que contar com o râguebi nas cidades de Évora, de Elvas e de Montemor-o-Novo pois são, no presente, uma parte relevante do desporto local, competindo com jovens de todas as idades, em todos os escalões da Federação.

“Somos escolas de carácter, para os homens de amanhã”, resume Manuel Couto. A definição do râguebi é ser “um jogo de mal-educados, jogado por cavalheiros”, em detrimento do futebol, apontado como sendo “um jogo de cavalheiros, jogado por mal-educados”. Isto se diz, no meio da bola oval, evidentemente.

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