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Quebra de produção mundial faz disparar preço do azeite

Ana Luísa Delgado (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

O preço do azeite duplicou no último ano. Com a nova campanha no início, olivicultores alentejanos antecipam um ano com produção superior e azeitona mais bem paga, podendo chegar aos 80 cêntimos por quilo e, nalguns casos, ultrapassar mesmo o valor de um euro.

É uma consequência direta de uma série de maus anos agrícolas: o preço do azeite atingiu os 8,25 euros por quilo, junto do produtor, mais do dobro do verificado há um ano (3,87 euros). A cotação desta matéria-prima está em alta, numa tendência que deverá continuar a ser de subida uma vez que a oferta tem diminuído.

“Espanha representa 49% do azeite produzido a nível mundial e devido às alterações climáticas tem vindo a atravessar uma seca severa, que se arrasta já há três ou quatro anos e origina produções baixas. A subida de preço é reflexo da falta de azeite no mercado e visa sobretudo estancar a saída de stock para que não ocorram ruturas no abastecimento”, diz Paulo Velhinho, presidente da Cooperativa dos Olivicultores de Borba, lembrando ainda que outros países produtores, como Grécia, Itália ou Marrocos, também registaram significativas quebras de produção. “Na altura da floração, o calor in- tenso faz secar o fruto e este acaba por cair”.

É certo que a inflação, designadamente a subida de preço dos fatores de produção (como a água, o gasóleo ou a eletricidade) e o aumento dos custos com a mão-de-obra têm igualmente “empurrado para cima” o preço do azeite. Mas a principal explicação para uma subida tão acentuada é mesmo a quebra de produção em Espanha.

“É uma consequência da falta de produto no mercado. A procura manteve-se, não havendo oferta os preços subiram”, concorda José Barroso, presidente da Cooperativa de Olivicultores de Estremoz, cuja campanha deste ano arrancou esta semana. “Esperamos uma produção normal, dentro das 1500 toneladas de azeitona, que é um valor médio, ao contrário do que sucedeu o ano passado, o pior de sempre, com apenas 200 toneladas”.

O aumento do preço da matéria-prima chegará agora ao bolso dos agricultores. “Costumamos adiantar uma verba aos olivicultores para que possam fazer face aos custos com a apanha. O ano passado adiantámos 25 cêntimos por quilo, este ano esse montante será de 45 cêntimos. É uma forma de ajudar os agricultores e mantê-los motivados para fazerem a colheita, que é difícil e cara”, acrescenta José Barroso.

Na Cooperativa de Estremoz a expectativa é que sejam mais de 400 os associados a descarregar azeitona, o que compara com os 100 do ano passado. “Como o preço está alto a apanha torna-se mais aliciante de um ponto de vista económico”. Acresce que o ano, não tendo sido “famoso”, promete uma produção bastante superior, embora tudo se possa ainda alterar em função das condições climatéricas.

“A azeitona”, lembra José Barroso, é um fruto com alguma sensibilidade ao tempo que, se começar a vir chuvoso e com temperaturas amenas, pode propiciar o aparecimento de fungos e comprometer a campanha, como já tem sucedido. A perda de produção pela incapacidade do produtor em apanhar a azeitona a tempo e horas é um risco muito real”.

AZEITONA ACIMA DOS 80 CÊNTIMOS POR QUILO

Tal como sucede em Estremoz, também em Borba a perspetiva dos responsáveis pela Cooperativa é “pagar o melhor possível aos agricultores, no mais curto espaço de tempo”, sendo que o valor exato só será definido mais para o final da campanha. O ano passado, a azeitona foi paga a um valor médio de 60 cêntimos por quilo, “acima da média do mercado geral, onde se pagaram 45 cêntimos”, mas este ano o preço será substancialmente superior: “Ao dia de hoje estamos a falar de azeitonas que partem de um preço a rondar os 80 cêntimos e que poderão superar um euro por quilo”, refere Paulo Velhinho.

Expectativas à parte, uma das expressões a ter em conta é “ao dia de hoje”, pois, conforme refere, “o mercado está muito instável” e qualquer fator poderá conduzir os preços para baixo, caso a quebra de produção em Espanha não seja tão acentuada como se prevê, ou inflacioná-los: “Se continuar a existir falta de azeite, e uma vez que os mercados emergentes têm demonstrado pagar um pouco mais pelo produto, poderemos mesmo chegar a valores à volta de um euro por quilo de azeitona”.

Acresce que, na Cooperativa de Borba, o último ano foi marcado por um “investimento de valor considerável” nas linhas de extração, o que permitirá “obter mais rendimento e melhor qualidade” e isso, garante, “irá acrescer no pagamento aos associados”. Aqui, antecipa-se uma campanha “dentro da média”, ou seja, a rondar os 1500 toneladas de azeitona.

“Devido ao trabalho que temos vindo a desenvolver a nível da modernização das linhas de extração e de embalamento, e à quota de mercado que conquistámos, temos conseguido pagar a azeitona a um preço acima do de mercado e isso fez com que novos olivicultores se tivessem tornado sócios da Cooperativa”, diz Paulo Velhinho, antecipando que sejam cerca de 600 os que irão descarregar azeitona na campanha que agora se inicia. Por outro lado, “entrando mais azeitona pode pagar-se melhor por ela, pois os custos [de funcionamento do lagar] são fixos e quanto mais matéria-prima entrar melhor se consegue pagar”.

Ainda assim, o presidente da Cooperativa de Borba reconhece que a “majoração do preço da azeitona” poderá ficar “aquém” da expectativa de alguns agricultores. Também pela incerteza do desfecho de uma campanha que está ainda muito no início, e que começou com chuva e temperaturas elevadas, tudo o que os olivicultores dispensam nesta altura do ano. 

FALTA MÃO-DE-OBRA NOS CAMPOS E NOS LAGARES

Tanto o presidente da Cooperativa de Olivicultores de Estremoz como o de Borba estão preocupados com a falta de mão-de-obra no setor. “Enquanto os olivais intensivos de regadio são todos mecanizados, sendo a apanha mecanizada feita com um único trabalhador, nos nossos, os tradicionais, é muito mais complicado, com muito trabalho feito à mão”, lembra José Barroso. “Temos muita dificuldade em apanhar a tempo e horas, não há mão-de-obra e o custo da apa- nha é muito elevado”. Às dificuldades no campo somam-se as do lagar. “Se a azeitona chega às seis da tarde tem de ir o quanto antes para o tegão para ser extraída com a máxima qualidade. Isso faz com que os lagares tenham de trabalhar em contínuo e é difícil encontrar pessoas com experiência para assegurar essa tarefa nestes dois meses”, revela Paulo Velhinho. “O lagar não pode estar parado”.

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