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“Propomos ao mundo uma nova forma de estar”

Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo foto

Falta pouco mais de um mês para se saber se Évora será, ou não, a próxima Capital Europeia da Cultura. O anúncio será feito a 6 de dezembro. Entregue o segundo dossiê de candidatura, o dia 28 de novembro será “crucial” para as aspirações de Évora, na medida em que será nessa data que o júri se deslocará à cidade, com um programa de visita ainda não definido.

A coordenadora da candidatura, Paula Garcia, revela que temáticas de dimensão europeia, como as migrações, as alterações climáticas ou o direito à habitação percorrem todo o projeto, igualmente marcado pelas parcerias internacionais e pela ideia de propor ao mundo “uma nova forma de estar”, agarrando na identidade do Alentejo.

Ainda segundo Paula Garcia, toda programação foi pensada no sentido de “extravasar” para a região, não se fechando em Évora. A candidatura é apoiada por todas as comunidades intermunicipais do Alentejo.

Numa avaliação ao primeiro dossiê de candidatura, o júri disse esperar que na segunda fase Évora “demonstrasse mais profundamente a dimensão europeia” do projeto. Isso foi conseguido?

Teve de ser… é verdade que no dossiê de pré-seleção respondemos a todos as questões mas interessou-nos sobretudo deixar muito claro qual o conceito da candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura. Esse foi o grande foco. E perceber que a partir daí conseguimos desenvolver uma dimensão europeia, que pré-desenhámos e lançámos possibilidades. No segundo, a partir desse reparo do júri, nós trabalhámos para o aprofundamento do programa, do alcance dos públicos e da dimensão europeia. Foram as três grandes bases de trabalho.

E como é que isso se materializa?

A grande dimensão europeia materializa-se muito nas relações de parcerias internacionais. No nosso caso, com parcerias na Europa, mas também fora dela, com todo o mundo, e praticamente todos os projetos, sejam os da estratégia de comunicação, chegar e alcançar vários públicos, as audiência e todo o programa artístico… todos os projetos do programa artístico têm sempre as suas parcerias internacionais. E depois, também, a partir dos temas que abordamos e que são de dimensão e interesse da Europa, muito ligados às agendas europeias.

Como por exemplo?

A questão dos emigrantes numa região de passagens, todos passaram por cá, as migrações, as alterações climáticas outra questão muito trabalhada, a relação com a natureza… estou-lhe a dar alguns exemplos. Como o direito à habitação e em Évora agarramos numa grande experiência que é o Bairro da Malagueira, que ainda por cima comemora os seus 50 anos em 2027. Nós, com o Bairro da Malagueira, conseguimos relacionar o local com as agendas europeias e o manancial de parceiros internacionais.

Porque é que Évora merece ser Capital Europeia da Cultura?

Por muitas razões… sinto como cidadã, como portuguesa (estou a viver em Évora desde março de 2020), que há um certo desconhecimento da profundidade que é o Alentejo, do manancial de informação, do tesouro que é este Alentejo em termos culturais e da sua história. Gosto muito, sobretudo, daquilo que Évora propõe. Esta região propõe mundo uma nova forma de estar. Nós agarramos nessa identidade de ser e de estar do Alentejo, do vagar. Neste dossiê de candidatura criámos o slogan ‘vagar, another art of existence’ [‘vagar, uma outra forma de existir’] e fazemos disso uma proposta para a Europa. Vivemos num mundo extremamente acelerado, que está a perceber que estamos a caminhar para o apocalíptico, para um lugar de desaparecimento da humanidade, e propomos que se olhe para as práticas culturais, sociais e artísticas do Alentejo e se repense a nossa forma de estar no mundo.

O envolvimento da comunidade na candidatura, correspondeu às expectativas que tinha?

Vou-lhe disser que sim. Não foi muito fácil, talvez também porque esta equipa de missão é a primeira vez que está a fazer este trabalho, é a primeira vez que Portugal está a viver esta experiência e estamos todos também à procura da forma de envolver a comunidade num projeto destes. E o início, ainda por cima, foi marcado por dois anos de pandemia e de confinamentos. Tudo isto criou alguns obstáculos à relação com a comunidade mas sentimos esse envolvimento, de forma progressiva… eu gosto que assim seja, que não seja de forma imediata, pois às vezes o imediato pode não ser totalmente compreensível, podemos não nos estar a compreender. Agora sim, sentimos que a comunidade, se é que se pode dizer desta forma tão geral, está connosco, está com o trabalho da equipa de missão, sempre com um sentido crítico que não se deve perder.

Surpreendeu-a – e coloco a palavra entre aspas – alguma “fragilidade” do tecido cultural da região?

Não é muito diferente do resto do país, pois estamos sempre a falar de uma política pública para as artes, de um financiamento que é sempre escasso, e por isso não é muito diferente do resto do país. A verdade é que esta região percebe que tem um baixo financiamento nas políticas públicas para as artes performativas, sobretudo. Mas o que me surpreendeu, o que não compreendo – e vindo eu das artes performativas [foi diretora do Teatro Viriato, em Viseu] -, é porque é que as relações com o Alentejo não são muito mais profícuas. Há estruturas que têm uma relação absolutamente nacional e internacional, como as Oficinas do Convento ou O Espaço do Tempo, mas depois há tanto trabalho que é bem feito, há estruturas e trabalho tão interessante a desenvolver-se nesta região que não entendo porque não entra mais no circuito nacional e internacional. Isso é que me surpreendeu. Estamos cá, todos juntos, para dar a conhecer esse trabalho e para criar outras relações, não só com o país e a nível internacional, mas também entre a comunidade artística local.

“TODA A PROGRAMAÇÃO É PENSADA NUMA LÓGICA REGIONAL”

Ganhando Évora o título de Capital Europeia da Cultura, em que medida esta será, igualmente, uma vitória da região?

Foi algo que a comissão executiva deixou muito claro e o apoio político à candidatura veio logo dos 14 municípios da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central. Toda a programação está pensada numa lógica de extravasar para a região do Alentejo. Mais recentemente, para este segundo dossiê de seleção, foi conseguido o apoio das restantes comunidades intermunicipais do Alentejo e isso representa um grande ganho e um grande contributo para esta candidatura.

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