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Produção de vinho no Alentejo “claramente abaixo” da média

Ana Luísa Delgado texto

Um ano agrícola particularmente seco e as ondas de calor prejudicaram a produção de vinho no Alentejo. A produção será inferior à do ano passado. “A seca tem afetado todo o setor”, diz Luís Mira, proprietário da Herdade das Servas. Os 270 associados da Adega Cooperativa de Borba estão a realizar uma vindima “está a decorrer de uma forma anormal ou inesperada”.

Proprietário da Herdade das Servas, próximo de Estremoz, Luís Mira não esconde a complexidade de um ano como o atual para a produção de vinho. As vindimas estão a decorrer, “mas lentamente”. Isto porque há castas cuja maturação está completa e outras onde isso não se verifica. “Começámos bastante cedo, mas avançamos de forma cuidadosa para obter a melhor qualidade”.

Nas Servas estão vindimados 100 dos 350 hectares. A produção, à semelhança do que se regista na generalidade do país, é “mais baixa” do que no ano anterior. E a explicação está na seca. “Não poderia ser de outra maneira porque não choveu. Não consigo [nesta altura] avançar com uma perspetiva em termos de produção, só o poderemos fazer no final das vindimas. Mas a seca tem afetado todo o setor. É uma realidade que nós constatamos dia a dia, não é preciso ser viticultor”, acrescenta Luís Mira, sublinhando que o planeta “sempre viveu em constante mudança climática”. O que exige uma adaptação dos agricultores aos novos tempos. “Vamos esperar que no próximo inverno chova bastante e que possamos retomar os níveis de água”.

Na Casa Relvas, as vindimas começaram no início de agosto, primeiro na Vidigueira, onde estão plantadas castas brancas. Depois nas herdades próximas de São Miguel de Machede, concelho de Évora. “Está a ser uma vindima com quantidades bastantes inferiores aos anos passados”, refere Alexandre Relvas, acrescentando que os tintos “estão um pouco atrasados” devido à seca e às ondas de calor que marcaram o verão. “Esperamos uma quebra à volta dos 30%. Em termos qualitativos achamos que vai ser um ano com muita concentração. Isto é, teremos vinhos bastante maduros, fáceis de beber, mas sem grande potencial de guarda”.

A seca, acrescenta Alexandre Relvas, não só afetou o setor dos vinhos como toda a agricultura. “Partimos para a época vegetativa com muito pouca água no solo e mesmo em zonas com vinhas regadas nuca se conseguiu atingir um ponto hídrico ótimo para as plantas. E nas três semanas de julho em que fizeram temperaturas muito elevadas, foi uma altura em que as plantas sofreram muito e isso afetou bastante a colheita deste ano”.

Diretor técnico de viticultura e enologia na Adega de Borba, e uma das mais destacadas personalidades do mundo dos vinhos no Alentejo, Óscar Gato lembra que “não há duas vindimas iguais” e faz questão de enfatizar o óbvio: “Cada ano é diferente porque estamos a trabalhar a céu aberto, ao ar livre e em agricultura não há grandes modelos matemáticos que nos permitam adivinhar com antecedência o que vai acontecer”. Sobretudo em anos como este, marcados pela seca e por sucessivas ondas de calor. Acresce que os cerca de 270 viticultores associados na Adega de Borba (ao todo exploram 2200 hectares) se confrontam com realidades diversas: “São muitas parcelas de vinha, muita castas de uva, por isso há muitas diferenças de viticultor para viticultor, de vinha para vinha, mas de uma forma global não podemos dizer que a vindima está a decorrer de uma forma anormal ou inesperada”.

Ou seja, apesar da vindima ainda estar a decorrer por uma ou duas semanas, a produção será “abaixo da média” dos últimos cinco anos. “Em termos globais estamos à espera de ter menos produção devido às condições climatéricas. Em relação à média dos nossos últimos cinco anos estávamos à espera de ter uma produção maior, mas depois das ondas de calor em junho fomos corrigindo essa estimativa. Eu apontaria para menos 10% de produção, mas nesta altura é difícil ainda quantificar com exatidão”, acrescenta Óscar Gato.

Presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, Francisco Mateus traça um panorama geral das vindimas deste ano. “Desde o final de julho que as vinhas estão em stress por falta de água, com cachos mais pequenos, com menos peso, e com algumas dificuldades de equilíbrio em termos das maturações. Para a viticultura vai ser um ano penoso porque há falta de água. Vai haver menos quantidade de uvas e isso irá traduzir-se numa menor quantidade de vinho”, desabafa.

Segundo Francisco Mateus, “haverá claramente” uma diminuição da produção comparativamente com o ano passado. “Nas visitas aos produtores é transversal, a quase todos eles, uma redução da quantidade que, no final da vindima, se haverá de converter numa menor produção face a 2021. Que foi o ano de produção mais elevada nos últimos 30 anos. É sempre penoso para a viticultura estar a trabalhar um ano inteiro e depois o resultado do seu trabalho não ser o esperado, nomeadamente em termos de quantidade. Mas é isso que irá acontecer”, conclui.

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