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Produção de azeite com quebra de 40%. Preço vai aumentar

Luís Godinho e Maria Antónia Zacarias texto

Primeiro foi a seca a prejudicar o crescimento da azeitona, depois, nas suas semanas, a chuva intensa. Se a campanha do ano passado foi a maior de sempre, este ano a produção de azeite terá uma quebra, no Alentejo, na ordem dos 40%, atingindo de forma mais expressiva os olivais tradicionais. A região representa mais de 80% da produção nacional. O preço do azeite vai aumentar.

Olivicultor na zona de Redondo e presidente do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL), Gonçalo Morais Tristão afirma que, embora a campanha ainda não tenha acabado, e tendo em conta as condições climáticas dos últimos dias que não ajudaram alguma da azeitona que ainda está nos olivais, já é possível fazer um balanço do ano. “É uma campanha muito inferior à do ano passado, sobretudo porque em 2021 batemos o recorde de produção nacional. Este ano estima-se que haja uma quebra entre os 30 e os 40 por cento”, constata. 

Questionado sobre as razões para esta quebra na produção, Gonçalo Morais Tristão explica que no olival “são normais estas oscilações” provocadas pela safra e contrassafra, em que a um ano “bom” sucede, por norma, outro de produção inferior. 

“É [habitual] num ano haver muita produção e no ano a seguir a produção descer bastante, voltando depois volta a recuperar. São picos de produção, ano sim e ano não. Isto acontecia quando predominavam os olivais tradicionais, pela pancada que as oliveiras levavam no varejamento, prejudicando os ramos que no ano a seguir iriam dar fruto”, acrescenta o dirigente do CEPAAL, sublinhando tratar-se de um fenómeno que acontece desde sempre, mesmo nos olivais mais modernos e com disponibilidade de água. “Tem a ver com a própria vivacidade da planta que, quando produz muito, precisa de tempo para recuperar”.

Se a quebra de produção já era esperada, a “inevitabilidade” do clima agravou o problema, com as temperaturas elevadas, com dias consecutivos acima dos 40 graus, e a falta de chuva a condicionarem o desenvolvimento das plantas. “Boa parte da floração abortou”, explica Francisco Mondragão Rodrigues, professor coordenador do Departamento de Ciências Agrárias e Veterinárias, no Instituto Politécnico de Portalegre, citado pelo “Público”. 

A quebra da produção está a ser mais sentida nos olivais tradicionais, lembrando o Instituto Nacional de Estatística (INE) que esta é uma cultura predominantemente de sequeiro e, “pese embora a sua elevada rusticidade e adaptação às condições, a seca afetou o seu desenvolvimento vegetativo, limitando o vingamento e o desenvolvimento dos frutos, o que levou à queda prematura da azeitona e de parte da folhagem”. 

Assim, devido às fracas perspetivas de produção, “muitos olivais não foram tratados, o que intensificou, nalgumas zonas, os ataques recentes da mosca-da-azeitona e gafa, com reflexos negativos na qualidade do azeite”. Também nos olivais intensivos a colheita está a decorrer com quebras de produção, “embora menos acentuadas.” Daí que as últimas previsões do INE apontem igualmente para um “decréscimo de produtividade global de azeitona de cerca de 40%, face à campanha anterior”. Em termos genéricos, o azeite obtido a partir das variedades Galega e Cobrançosa “apresenta elevados valores de acidez”, enquanto o obtido a partir das variedades Arbequina e Arbosana “é, na generalidade, de melhor qualidade”. A chuva intensa do final da campanha veio complicar ainda mais as contas de um ano difícil.

Com menos azeite a sair dos lagares, o presidente do CEPAAL antecipa um aumento de preço, tanto mais que Espanha, o principal produtor mundial, também regista um ano de quebra de produção, tal como Itália. “Com essas reduções assistimos a que haja um aumento dos preços junto ao consumidor. Ou seja, em termos do negócio do azeite, os preços já estão altos. É natural que se mantenham altos devido à diminuição da produção mundial. Há uma quebra em termos globais e vai haver uma manutenção dos preços em patamares elevados”, garante Gonçalo Morais Tristão.

MAIOR PRODUTOR NACIONAL

Em 2021, Portugal registou a maior produção nacional de sempre, com 2,29 milhões de hectolitros de azeite, 1,9 milhões dos quais (quase 83%) com origem no Alentejo. Para este resultado contribui a entrada em exploração de novos olivais, em modo de produção intensivo e superintensivo, no perímetro de rega do Alqueva.

“Somos a região mais importante, tendo ultrapassado há alguns anos Trás-os-Montes, território muito tradicional em termos de produção de azeite, mas devido à morfologia do terreno, à falta de água e ao facto de terem olivais tradicionais têm uma produção muito inferior ao Alentejo”, adianta o presidente do CEPAAL.

Os dados do INE comprovam que, no caso do Alentejo, o “salto” na produção de azeite foi “gigantesco” nos últimos 10 anos, sendo que a esmagadora maioria do azeite tem origem no Baixo Alentejo. A produção mais do que triplicou, passando de 534 milhões de hectolitros em 2011 para quase 1,9 milhões em 2021. Nesta campanha, cerca de 1,6 milhões de hectolitros foram produzidos no Baixo Alentejo, sobretudo no perímetro de rega de Alqueva onde, apesar da disponibilidade de água, a quantidade de azeite produzido deverá registar uma quebra na ordem dos 30%. O Alto Alentejo produziu 148 mil hectolitros, mais 46 mil do que o Alentejo Central.

“PARA O ANO SERÁ MELHOR”

Se a campanha que agora está a terminar fica marcada por uma substancial quebra na produção, a perspetiva é que 2023 seja diferente. “Se tudo correr normalmente iremos sempre aumentar a produção”, antecipa Gonçalo Morais Tristão, explicando a previsão com a entrada em exploração de novos olivais e com outros, ainda jovens, a atingirem o pleno da produção.

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