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Pelos Caminhos de Santiago que cruzam o Alentejo

Há quatro rotas para descobrir os Caminhos de Santiago no Alentejo. Uma delas, a do Caminho Nascente, com uma extensão de 645 quilómetros entre Tavira e Trancoso, cruza a região por Beja, Évora e Estremoz, convidando à descoberta do património. Francisco Alvarenga (texto)

Assegura o Turismo do Alentejo que percorrer os Caminhos de Santiago “esconde a promessa de uma aventura, de descobertas inusitadas, do desvendar de uma história que a memória preservou, uma história que se desenrola a cada paragem”. Mais do que caminhar, trata-se de “conhecer uma terra de paisagens que, ainda que diferentes, partilham o facto de serem únicas, repetindo-se apenas nas recordações que delas ficam”. E ir ao encontro do património, sejam monumentos, tradições ou gastronomia.

Dos quatro Caminhos de Santiago que, a partir do Algarve, cruzam o Alentejo, o chamado Caminho Nascente conduz quem o percorre, peregrinos ou turistas, por Estremoz. Mas o percurso, esse, inicia-se lá longe, em Tavira, entrando no Alentejo já depois de vencida a serra algarvia, na passagem sobre a ribeira do Vascão, em Mértola.

A terceira etapa conduz o viajante a Amendoeira da Serra, e convida à visita de um centro interpretativo implantado neste território sensível em termos ambientais, com informação sobre a flora e fauna autóctones, bem como sobre o aproveitamento humano do rio Guadiana e a ocupação humana no vasto espaço, hoje quase desértico, entre Mértola e Beja, onde se chegará na quinta etapa, depois de uma paragem na Cabeça Gorda.

De Beja prossegue o caminhante para Cuba, depois Alvito, Viana do Alentejo e Évora. Pela Estrada dos Aliados sai da cidade à “conquista” de Évora-Monte, certamente inspirado pela personagem lendária de Geraldo Sem Pavor. Aqui o convite é para uma visita ao “grandioso e severo” castelo, cujo perímetro amuralhado data do início do século XIV, quando D. Dinis mandou fortificar a vila.

O Paço, “obra de clara influência italiana”, cuja obra se deve ao arquiteto Francisco de Arruda, data de 1531, sendo que antes de deixar a vila é o caminhante convidado a visitar a Igreja de São Pedro de Fora, onde encontrará “um dos mais importantes retábulos maneiristas do Alentejo”, e a Igreja da Misericórdia, construída no início do século XVI.

Eis Estremoz, à 11.ª etapa deste Caminho Nascente, percorrida “mais uma jornada de longa intimidade com a floresta de sobro e azinho, serpenteando por entre o verde sombrio dos montados e o edificado das escassas herdades”.

Na cidade, além do caminhante “poder maravilhar-se, à vontade, com os bonecos de barro que de Estremoz tomaram o nome”, como escreveu José Saramago, terá à sua espera um riquíssimo património histórico, de que o guia online do Turismo do Alentejo que o acompanha destaca uma “presença religiosa bastante profusa, com conventos, igrejas, capelas e ermidas espalhados pelo concelho”.

“É disso exemplo”, prossegue o guia, “a igreja de Santiago de Estremoz, fundada no reinado de D. Afonso III, cuja construção, no limite noroeste do perímetro muralhado e num terreiro que se haveria de chamar ‘do Loureiro’, significou a constituição de um elemento definidor do urbanismo de Estremoz, e aglutinador de um bairro chamado Santiago”.

O templo sofreu grandes transformações ao longo dos séculos, mas ainda é possível observar na fachada principal a cruz da Ordem de Avis.

A etapa seguinte tem paragem em Sousel, “um verdadeiro concelho com história, a mesma que ajuda a explicar as origens do seu nome, envolto em grande controvérsia”. Antes de se aventurar pelo Convento de Santo António, fundado em 1605, é o caminhante informado da tal controvérsia que marca o nome da vila, feito atribuído por alguns a D. Nuno Álvares Pereira que antes de uma batalha aqui teria proferido em oração a frase ‘ora sus a ell’. Para outros, o nome é proveniente do funcho Seseli, que nasce selvagem pelos campos.

Documentada desde meados do século XIII, “é no entanto fictícia a tradição que aponta para que a fundação da localidade tenha sido realizada” pelo Condestável, informa o guia, convidando ainda a visitar a Igreja de Nossa Senhora da Ourada. Reza a tradição que o templo “terá sido construído no exato local” onde Nuno Álvares Pereira se teria recolhido em oração, antes da Batalha dos Atoleiros.

É por aí, pelo terreiro onde em 1384 um exército português com 1400 homens derrotou o castelhano, três vezes superior, é por ai, dizíamos, que o caminho conduz, rumo a Fronteira. À entrada da vila, a fonte de São João serviu viajantes e peregrinos desde, pelo menos, o século XVIII. Morta a sede, é o caminhante convidado a percorrer ruas e os monumentos, como a igreja e hospital da Misericórdia, concluída em 1583, e enriquecida no século XVIII.

Pelo concelho de Fronteira haverá de permanecer na 14.ª etapa, agora rumo a Cabeço de Vide, “pacata vila de calçada antiga e casinhas medievais” onde encontramos a Capela do Calvário, “um curioso templo de planta circular, edificado em momento não determinado dos séculos XVI ou XVII”, sendo possível que a sua construção “tenha sido determinada por uma romaria regional ao lugar do Calvário, mas, em 1758, essa tradição já se havia perdido”.

Foi por aqui, lembra o guia, que recentemente andaram investigadores da NASA, “quando se descobriu que o pH incomum (11,5) das águas hiperalcalinas deste local indiciava condições hidrogeológicas muito semelhantes às da geologia detetada em Marte”.

DE ALTER A TERRAS TEMPLÁRIAS

De Cabeço de Vida, siga pois o caminhante em direção a Alter do Chão e ao seu castelo de origem islâmica, aprecie a configuração “tipicamente gótica” da construção, passe pelo monumental Chafariz dos Bonecos e aprecie o convento fundado em 1617, três anos depois dos frades franciscanos aqui terem chegado. Haverá este Caminho Nascente de deixar o Alentejo por Vila Velha de Ródão (19.ª etapa), mas antes recomendam-se paragens no Crato, em Alpalhão e em Nisa, uma vasta área de planície entre a serra de São Mamede e o rio Tejo, que integrou os domínios da Ordem dos Templários.

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