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Paulo Freitas do Amaral: “Os passes de terceiro mundo da CP”

Paulo Freitas do Amaral, historiador | Opinião

A CP, em certas zonas do país, vende passes a 200 e 300 euros que fazem o cidadão português deslocar-se em pé, no comboio, numa viagem de longo curso, como é o caso do Intercidades entre Évora a Lisboa e que é o único a parar em localidades com bastante população como é o caso de Vendas Novas.

Este caso surreal e típico de um país do terceiro mundo não se fica por aqui, pois a venda dos Flexipasses da CP só é feita em certas estações geridas pela própria empresa, fazendo os seus clientes deslocar-se mais de 50 quilómetros para os adquirirem.

Estou a referir-me aos passes exclusivos da CP, que esta faz questão de só vender em raras estações como é o caso do Pinhal Novo, a única a sul do Tejo a fazê-lo. Quem mora em Vendas Novas, no Pragal ou em terras circundantes tem de forçosamente deslocar-se a Pinhal Novo. Mas não pense o leitor que isto acaba por aqui.

A forma como a CP emite estes passes é totalmente arcaica. Senão vejamos: o tempo de espera para receber o passe é de seis dias, através de um “modus operandi” mais arcaico ainda do que o passe L1 ou L123 da Carris que eu utilizava nos anos 80.

O passageiro para obter o Flexipasse CP tem de preencher um formulário à mão e entregar uma foto com fundo liso (se não, não é aceite pelos serviços da empresa) e obrigatoriamente em papel “fotográfico”.

Após este procedimento, o cliente paga mais seis euros pelo cartão e espera ao balcão, infinitamente, enquanto uma fila de gente, cheia de pressa, espera e desespera aguardando que o funcionário preencha os campos de “software” no computador, que preencha um formulário à mão, também ali no atendimento ao público, que emita um recibo com o número fiscal para o cliente e que, por fim, desabafe connosco o seguinte pensamento: “Tomara que eles aceitem a requisição e não [a] mandem para trás no único dia de semana de correio interno que temos com os serviços centrais”.

Entretanto, o utente dos comboios vai gastando cerca de 10 euros por bilhete emitido num papel enorme, inimigo do ambiente, em cada viagem que faz, aguardando que o Flexipasse chegue um dia a casa. É curioso que a CP, quando trabalha em passes combinados com a empresa de comboios Fertagus ou com o Metropolitano de Lisboa, já não apresente este sistema de solicitação do passe dos tempos da pré-história…

Este modo de aquisição apresenta-se a nós como um procedimento do terceiro mundo quando o comparamos ao que acontece em Londres ou em outra capital europeia, onde adquirimos o passe para um mês ou para vários dias numa máquina, após um simples pagamento…

Se juntarmos a esta burocracia da CP, a burocracia de anexarmos uma declaração camarária que nos dá desconto para aquisição do Flexipasse, podemos então esperar um mês para possuirmos o dito passe. Entretanto… em bilhetes, à espera do passe, o passageiro gasta em idas e vindas mais de 300 euros.

Seria bom alguém informar o Governo que a maior parte da população não tem menos de 23 anos, nem é reformada para beneficiar de descontos. Seria bom informarem o partido Livre e o Governo que a maior parte da população nunca andou em comboios regionais pois são inúteis para ir todos os dias trabalhar…

Seria bom informarem o primeiro-mi- nistro, António Costa, e o presidente Carlos Moedas que Lisboa é só uma cidade de Portugal e muita gente já saiu da capital por falta de condições económicas… Seria bom informarem o Governo que as pessoas da classe média não podem pagar 300 euros para ir em pé num comboio, ou 20 euros por dia em bilhetes, à espera de um passe que se arrasta nos corredores da CP.

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