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Património. Vila Viçosa não quer repetir “erros” de Évora

Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

O coordenador da candidatura de Vila Viçosa a Património Mundial da Unesco defende a criação de um Observatório do Turismo Local. A ideia, diz Nuno Ribeiro Lopes, é “evitar” que se repitam os “erros” de Évora.

Na apresentação da proposta do plano de gestão da candidatura à Unesco, documento obrigatório que define o conjunto de intervenções de salvaguarda patrimonial nos próximos 10 anos, Nuno Ribeiro Lopes defendeu a importância de ser criado um Observatório do Turismo Local para “perceber as dinâmicas” do setor e permitir a “correção” de problemas que venham a ser detetados.

“Queremos um turismo qualitativo, não de camionetas a descarregar pessoas que aqui ficam apenas uma ou duas horas”, sublinhou o coordenador da candidatura, em cujo currículo se encontram projetos como a construção do Bairro da Malagueira, em Évora, ou as candidaturas (bem sucedidas) do Pico e da Universidade de Coimbra a Património Mundial da Unesco.

Trata-se, disse Nuno Ribeiro Lopes, de “evitar” a repetição do que aconteceu com a cidade de Évora, onde todos os dias chegam “milhares de turistas que se limitam a percorrer da Praça do Giraldo à Sé e a levar para casa um galo de Barcelos”. Um turismo com “pouco consumo” que “só perturba” e contribui para “inflacionar os preços”.

A proposta de plano de gestão inclui um conjunto de estratégias de curto e médio prazo para preservação e recuperação do património, entrando agora em fase de debate público. Outra das ideias é a criação de um Grupo de Trabalho Intermunicipal uma vez que a classificação de Vila Viçosa implicará a criação das chamadas “zonas tampão”, áreas onde haverá restrições à construção e que se estendem pelos concelhos de Borba e de Vila Viçosa.

Falhada a intenção de entregar o dossier de candidatura em janeiro à Comissão Nacional da Unesco, o objetivo agora é fazê-lo até final do ano. Só depois de validada é que poderá ser apresentada pelo Estado à Unesco. Por isso, acrescentou Nuno Lopes, “o Estado português terá de assumir as suas responsabilidades uma vez que não se trata de uma candidatura do município, mas do próprio Estado”. E entre essas “responsabilidades” deverá estar o financiamento do gabinete técnico responsável pela gestão de todo o processo.

Para o presidente da Câmara de Vila Viçosa, Inácio Esperança, o objetivo “não é apenas que a vila seja reconhecida” como Património Mundial. Trata-se também de “sensibilizar e envolver a comunidade na recuperação e preservação do património”. O autarca lembra que a candidatura está a ser preparada “há mais de 10 anos”, sem que tenham sido reunidas as condições para a apresentar. “Estamos agora a entrar na fase final deste processo que corresponde à apresentação de uma nova candidatura”. Ou seja, de um dossier assente em pressupostos totalmente diferentes dos que haviam sido “desenhados” antes de Nuno Ribeiro Lopes assumir a coordenação do projeto, em meados do ano passado.

APOSTA NO IMATERIAL

A chegada do arquiteto Nuno Ribeiro Lopes à candidatura, cuja primeira versão obteve “parecer desfavorável” por parte da Comissão Nacional da Unesco levou a uma reformulação dos pressupostos que justificam a classificação como Património da Humanidade. Por um lado, refere Inácio Esperança, deixou de ser “apenas uma candidatura” do município, para passar a ser copromovida pela Fundação Casa de Bragança. Depois, foram revistos os critérios. 

“Vila Ducal Renascentista, como inicialmente se propunha, corresponde a uma terminologia de que já existem duas vilas assim classificadas, Urbino e Ferrara, em Itália”, sublinha o autarca em declaração ao “Brados do Alentejo”, acrescentando que o objetivo da Unesco “não é ter 30 vilas classificadas da mesma forma”. Por isso o “foco” deixou de ser o património construído, passando a integrar o património imaterial. “Não é que o nosso património não seja grandioso e majestoso. É grandioso e majestoso. Mas o deles [Urbino e Ferrara] está melhor recuperado e já está classificado”, acrescenta.

Por imaterial entenda-se, por exemplo, temas como a coroação de Nossa Senhora da Conceição como padroeira e rainha de Portugal, em 1646, “nem tanto como ato religioso, mas político, que é único no mundo”, ou com as vivências da família real e ducal em Vila Viçosa. “São critérios imateriais que pesam muito nesta nova candidatura, tal como a influência desta pequena vila no mundo inteiro, para onde este trabalho patrimonial foi levado por ação de duques e reis a partir de D. João IV”, resume Inácio Esperança, afirmando que a sua expectativa é que que possa existir uma decisão da Unesco até 2026.

UMA “NOVA” CANDIDATURA

Vila Viçosa, lembra o coordenador da candidatura, “está muito associada à Casa de Bragança”. E, no fundo, o “segredo” deste novo dossier de candidatura passará por aqui. “A Casa passou de alternativa, de apoio à Casa Real, a ser a própria Casa Real e há esse ato político fantástico que é a decisão de consagração do reino português ao culto a Nossa Senhora”. Dito de outra forma, “são situações que têm muito de imaterial, suportadas num território”. Enquanto a candidatura anterior “era muito baseada na componente física”, Nuno Ribeiro Lopes alterou a aposta para uma dimensão mais imaterial, de que a Tapada Real é outro exemplo. 

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