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“Outras casas regionais em Lisboa estão a desaparecer. Nós não”

Ana Luísa Delgado, texto

O pretexto para a entrevista são os 100 anos da Casa do Alentejo em Lisboa. João Proença, o atual presidente, recorda uma história centenária, que começou por se traduzir no apoio social aos alentejanos que emigravam para a capital e se transformou na “embaixada” da região em Lisboa. Hoje a instituição conta com cerca de 1500 associados e 40 funcionários. Determinante, sublinha João Proença, foi a aquisição do edifício, há quatro décadas, o que trouxe “garantias de funcionalidade e de estabilidade” à Casa do Alentejo.

Os problemas económicos que a pandemia de covid-19 trouxe à Casa do Alentejo já fazem parte do passado?

Foram ultrapassados, estamos a funcionar com a regularidade habitual.

Cem anos depois de ter sido constituída, qual é hoje a missão da Casa do Alentejo em Lisboa?

Quando foi criada tinha uma missão idêntica à de hoje, embora funcionando de outra maneira. Há 100 anos o Alentejo estava mais longe, hoje está muito perto de Lisboa, não só pelos transportes que nos conduzem às nossas terras, também pelas redes sociais e pela internet, onde as notícias correm de forma muito rápida. Naquela altura estava muito centrada nas questões sociais, lembremo-nos que muitos alentejanos que aqui residiam tinham os seus familiares na região e procuravam apoiá-los… quando se deslocavam para cá vinham com a esperança de ter melhores condições de vida e procuravam apoiar os familiares que tinham ficado no Alentejo. Esse aspecto social era importante, sobretudo a nível de habitação ou de emprego, mas também da saúde.

Essa realidade alterou-se…

… significativamente. Hoje, os aspectos fulcrais da atividade da Casa do Alentejo têm muito a ver com a região que representamos em Lisboa, com mostrar o que acontece no Alentejo em termos económicos, culturais e sociais. Procuramos trazer os concelhos até à Casa do Alentejo, com os seus grupos corais, com as atividades culturais e económicas que desenvolvem. O apoio que damos aos alentejanos que residem em Lisboa também é diferente, até porque há menos alentejanos a frequentar a Casa do Alentejo. Hoje é muito frequentada por turistas que procuram conhecer um pouco mais do Alentejo e tentamos que se sintam tentados a ir à região. Já estamos a encaminhar pessoas para a região, para verem in loco a nossa cultura, o nosso património.

Diz-se muitas vezes que a Casa do Alentejo é a “nossa embaixada” em Lisboa. Assume esse papel de “embaixador” do que o Alentejo tem de melhor?

Sim, sim… temos aqui um centro interpretativo que pode ser visitado por todos os frequentadores da Casa do Alentejo, no qual procuramos ter uma mostra do que a região tem para oferecer, como as Rotas dos Vinhos, dos Queijos ou dos Mármores, temos identificado tudo o que é museus e casa de cultura. Quem aqui vem passear, quem nos visita, é convidado a ir à região.

Voltando a este período de um século, enquanto conhecedor da história da Casa do Alentejo, quais os momentos que mais destaca na vida da instituição?

É uma história muito longa… no período inicial tivemos aqui a funcionar uma escola para filhos de alentejanos, dávamos apoio à saúde através de um gabinete médico aberto aos alentejanos que aqui viviam, tínhamos um conjunto de pessoas que se dedicava a acolher os alentejanos que iam chegando e que encontravam aqui uma base de apoio, adaptando-se a uma nova realidade. Depois desse período houve um outro tempo, nas décadas de 50 e de 60, que foi de afirmação da Casa do Alentejo. As pessoas começaram a ter outra vocação para a cultura e essa época ficou marcada, por exemplo, pelos bailes e pelas tardes culturais. Há um momento muito importante, em 1980, que foi a compra do edifício, o que se revelou determinante para a manutenção desta nossa “embaixada”.

Em que medida?

Olhe, é uma “embaixada” porque tem uma casa, estamos aqui instalados num magnífico edifício, um antigo palácio senhorial, e isso dá-nos muitas garantias de funcionalidade, de estabilidade. Outras casas regionais em Lisboa estão a desaparecer porque funcionavam em edifícios arrendados, nós não. Por outro lado, o conjunto de pessoas que por aqui reside já não é tão grande, somos menos, e foi preciso dar outra dinâmica a este tipo de instituições. Nós aqui, por exemplo, desde há cerca de 20 anos virámo-nos também para a atividade comercial, com restaurante e bar, e é isso que mantém a Casa do Alentejo a funcionar e com bons resultados. Temos muitos visitantes e, como lhe disse, encaminhamos muita gente para a região; olhe, para Estremoz… procuramos que as pessoas que nos visitem possam também dinamizar os nossos municípios.

Qual o número de associados?

Temos cerca de 1500 associados, já tivemos mais de quatro mil. Mantemos uma atividade regular com os grupos corais, tal como as tardes culturais de sábado, vamos retomar os bailes em 2024.

E as novas gerações de alentejanos, muitos deles já nascidos em Lisboa, onde as famílias se fixaram, continuam a frequentar a Casa doAlentejo?

Não tanto como os pais ou os avós, que tinham outras necessidades. Muitos dos que hoje em dia vêm estudar para Lisboa até se tornam sócios, mas depois terminam os cursos e são colocados noutras regiões, outros emigram, a dispersão é muito maior, completamente diferente do que acontecia há uns anos. Os empregos já não são para toda a vida.

O apoio dos municípios ao funcionamento da Casa do Alentejo é o suficiente?

Quer dizer, suficiente é, basta que estejam disponíveis para nos visitarem com regularidade e trazerem o que querem promover nos seus concelhos. Estremoz, por exemplo, é uma cidade que sempre tem estado muito alinhada com a Casa do Alentejo. Vamos ter em breve a Semana de Estremoz, será já na segunda quinzena de outubro, em que serão promovidas algumas das atividades económicas e das iniciativas do concelho. Normalmente os municípios trazem uma exposição e com ela vêm alguns empresários, alguns grupos corais, algum folclore.

“O NOSSO APOIO À REGIÃO É CONSTANTE”

Quais são os maiores desafios da Casa do Alentejo?

Olhe, temos aqui uma Casa com mais de 40 trabalhadores, temos o compromisso da nossa relação com a região, temos protocolos com várias entidades para realizar atividades… a apresentação de livros é algo que acontece praticamente todas as semanas, temos atividades muito diversas… o nosso apoio à região é constante e mantê-lo é um dos grandes desafios que temos pela frente.

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