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Olivicultores de Estremoz com quebra de 80% na produção

Maria Antónia Zacarias texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

O “ouro” do Alentejo sofreu, este ano, uma quebra elevada, mas não perdeu a sua qualidade de excelência. Na Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Estremoz entrou, este ano, menos azeitona do que o ano passado num só dia. É uma das piores produções de sempre.

O presidente, José Barroso, confirma uma quebra de produção superior a 80%, mas garante que haverá azeite até à próxima colheita devido à elevada produção de 2021 e ao facto de a cooperativa ter guardado uma pequena parte do ano anterior. 

A baixa produção deste ano resulta da contrassafra a que o olival tradicional é suscetível, mas também das condições climáticas de temperaturas elevadas que impediram a normal floração e, consequentemente, o pouco fruto existente nas oliveiras. Face a este cenário, resta aos olivicultores de Estremoz continuarem a cuidar do olival e da azeitona Galega, muito apreciada por produzir um azeite de qualidade superior, e aguardar que a próxima campanha decorra de forma diferente.

No caso concreto do Alentejo, é a variedade de azeitona Galega, única no mundo, que simboliza o imaginário qualitativo dos apreciadores de azeite. “Uma variedade milenar que encerra uma misticidade organolética própria dos produtos de excelência”, afirma José Barroso. Pelas suas características é, há muito, considerada uma das principais variedades do país, sendo também conhecida como “azeitona portuguesa”, de pequena dimensão, mas resistente à seca.

Embora Estremoz não esteja integrado numa zona de olival, onde as pessoas apenas vivem da olivicultura, como sucede em Moura e Barrancos ou na Vidigueira, certo é que esta azeitona e o seu produto, o azeite, é muito procurado e é vendável com facilidade. “Temos cerca de 500 associados na nossa cooperativa, mas este ano apenas 100 nos entregaram azeitona e em pequenas quantidades”, explica o presidente da Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Estremoz.

O responsável adianta que estamos perante “uma das piores produções de todos os tempos”, só comparável às de 1983 e 1984. Este ano, entraram no lagar da cooperativa apenas 200 toneladas de azeitona, 1/15 avos da produção do ano passado. Aliás, na última campanha, “entrou mais azeitona num dia do que em todo este ano”.

A produção do ano passado atingiu as três mil toneladas, “considerando-se que estivemos na safra”, sendo que este ano “estamos na contrassafra”, ou seja, a um ano de produção elevada sucede, por norma, outro em que a produção é mais baixa. “A nossa variedade é a Galega que está exposta à safra e contrassafra”, explica José Barroso. E adianta: “A maioria dos nossos associados tem azeitona Galega, ou seja, olival tradicional. Há apenas duas exceções que é quem ainda está a fazer a colheita, pessoas que têm olivais mais modernos, regados, jovens, com 10 e 15 anos”.

A acrescentar a esta quebra na produção registaram-se “situações climáticas adversas, em que tivemos uma primavera com golpes de calor, sobretudo em maio, que é na altura sensível de floração, bem como um verão muito quente. O olival de azeitona Galega em Borba, Sousel, Portel, Montoito está igual a nós”. Nos olivais mais modernos, com outras variedades, regados, em regime de exploração intensiva e superintensiva, aí a quebra de produção não é tão grande, mas verifica-se à mesma uma redução acentuada.

MENOS RECEITAS PARA AS MESMAS DESPESAS

José Barroso reitera que “a flor não passou a fruto, mas não pensávamos que fosse uma quebra tão elevada”, revelando estar preocupado porque “se não tivermos azeitona, não temos azeite e a receita da cooperativa diminui, mas os custos mantém-se. Apesar do preço do azeite ter subido, atingindo os valores mais altos de sempre, esse aumento não vai compensar porque a quantidade de azeitona é tão pouca que vai levar a que tenhamos um constrangimento económico”. 

O azeite da Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Estremoz é feito com a azeitona Galega e distingue-se, por isso mesmo, pela questão organolética. “É um nicho pequeno comparado com outras variedades, mas é um azeite muito bom e continua a ser”, frisa, acrescentando que “a Galega vai recuperar, há rama nova e as expetativas é que a produção do próximo ano seja muito elevada, igual à dos anos anteriores de safra ou até superior”. 

Mas vamos ter azeite até à próxima campanha? O presidente da Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Estremoz garante que sim. “Se contássemos apenas com a produção deste ano não teríamos, mas nós guardámos azeite do ano passado. Verificámos, a partir de maio, que a produção iria ser muito mais baixa do que pretendíamos. Então guardámos azeite da campanha anterior porque foi excecionalmente elevada, daí que tenhamos azeite até à próxima colheita”, frisa.

FALTA MÃO-DE-OBRA

No entanto, o responsável chama a atenção para um fator que tem tido impacto também na produção e que é a escassez de mão-de-obra para a apanha da azeitona. Já a acreditar na bonança que 2023 poderá trazer, José Barroso identifica a falta de pessoal para apanhar o fruto como uma “preocupação” acrescida dos viticultores. “A maior parte dos nossos associados fazem, eles próprios, a apanha. Este ano não foi tão grave porque como não havia produção, fizeram num fim de semana o que normalmente duraria semanas. No entanto, o ano passado foi complexo porque não havia mão-de-obra, tendo-se estragado muita azeitona, uma vez que não havia quem a apanhasse. Estragou-se mais o ano passado do que a que entrou este ano no lagar”, sustenta. 

A variedade de azeitona Galega, e de outras produzidas em olival tradicional, implica uma apanha manual, “visto que não é fácil mecanizar, até pela dimensão da árvore, mas também porque os olivais já têm alguma idade. É um trabalho sazonal, onde se paga bem, mas que não atrai ninguém”. 

OLIVAL TRADICIONAL “DEVE SER PRESERVADO”

Não se sabe ao certo quando começou a produzir-se azeite no Alentejo, mas a tradição nos países do Mediterrâneo é ancestral. De acordo com o Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL), foram os fenícios e, principalmente, os romanos que introduziram melhorias na plantação, enxertia e extração de azeite. Escritos do historiador romano Estrabão referem-se ao azeite do Alentejo como um produto de excelente qualidade, importado por Roma há dois mil anos. Apesar dos “constrangimentos” na produção deste ano, o presidente da Cooperativa de Olivicultores de Estremoz, José Barroso, apela à manutenção dos olivais tradicionais: “As pessoas têm um olival por tradição. São poucas as pessoas que têm olival como cultura, é mais por herança, onde têm pastagens e atividades complementares e, por isso, deve ser preservado porque temos bom azeite, no qual continuamos a acreditar”.

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