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Olival e amendoal ocupam 70% do perímetro de Alqueva

Francisco Alvarenga texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

De ano para ano, as culturas intensivas de olival e amendoal ganham maior peso no perímetro de rega do Alqueva, representando agora cerca de 70% da área total. Nos últimos cinco anos, a área ocupada por estas duas culturas aumentou 63.572 hectares. 

Os dados constam do Anuário Estatístico publicado pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA). A área de olival e de amendoal ocupa agora 90.126 hectares, o que corresponde a cerca de 70% dos 130 mil hectares do regadio em exploração no Alqueva. 

Aos 120 mil hectares correspondentes à primeira fase do empreendimentos somam-se mais 10 mil da segunda fase que já entraram em exploração, designadamente os perímetros de rega de Évora e Cuba/Odivelas (em 2021) e Viana do Alentejo (2022). Em todos eles, o olival e o amendoal são as culturas predominantes. Nos últimos cinco anos passaram a ocupar mais 63.572 hectares de regadio, um crescimento exponencial que tem motivado diversas críticas por parte de associações ambientalistas (ver caixa).

De acordo o Anuário Estatístico, em 2022 foram inscritos 23.533 hectares de amêndoa no perímetro de rega do Alqueva, área que deverá continuar a aumentar nos próximos anos, numa expansão “talvez impulsionada pelo preço desta matéria-prima nos mercados internacionais”. Em termos médios, o quilo de miolo de amêndoa é comercializado a um preço que chega a ultrapassar os cinco euros, o que gera uma “receita bruta” superior a 9.500 euros por hectare.

Entre os maiores produtores inclui-se a espanhola De Prado, uma das empresas de referência do olival e que está a “crescer no mercado da amêndoa”, tendo em exploração cinco mil hectares e a intenção de “continuar a expandir a área” dedicada a esta cultura. Tanto mais que “fez recentemente investimentos na instalação de uma fábrica de descasque e processamento” desta matéria-prima.

Segundo a EDIA, a região de Alqueva, com a garantia de água, “ganha características ótimas para a produção de frutos secos”, constituindo “uma boa oportunidade para os agricultores e investidores da região e uma ótima alternativa [de exploração agrícola], com um bom potencial agronómico e económico” em explorações com um mínimo de 30 hectares.

“Pelas similitudes das operações agrícolas e pelo facto de se puderem utilizar as máquinas de colheita do olival em sebe, os proprietários/produtores do olival [intensivo] têm aqui uma ótima forma de diversificar os seus investimentos e de rentabilizar a maquinaria e mão-de-obra”, acrescenta a mesma fonte, recordando que em 2021 foi inaugurada em São Manços uma unidade industrial pertencente ao grupo Ortigão Costa, que labora nozes e amêndoas.

Dois anos antes tinha entrado em exploração a Almencor, na Azaruja, com capacidade para processar até 20 toneladas por hora de amêndoa, exportada para diversos países da Europa, como Espanha, Suíça e Alemanha, e que tem como objetivo “utilizar matéria-prima proveniente de Alqueva”, mais concretamente do Bloco de Rega do Monte Novo”.

Os 23.533 hectares plantados em 2022 correspondem à maior área de sempre desta cultura no perímetro de do Alqueva e traduzem um aumento de 54% face a 2020, tendo duplicado nos últimos três anos: em 2019 tinham sido inscritos 11.448 hectares. Em termos médios, trata-se de uma cultura que pode consumir até 5700 metros cúbicos de água por hectare.

OLIVAL MANTÉM ÁREA

No caso do olival, a cultura dominante no perímetro do Alqueva, foram regados na última campanha 67.801 hectares, mais 1.500 do que em 2021, apesar de se ter tratado de um ano “difícil” em que a seca e as temperaturas elevadas comprometeram boa parte da produção.

A EDIA classifica como “extraordinário” o crescimento desta cultura, “não existindo nenhuma outra com estes resultados”, assinalando terem sido plantados 28.404 hectares de olival nos últimos cinco anos. Para isso contribui o “valor do produto no mercado, que leva as empresas do setor a serem muito ativas na procura por novas áreas, e rapidamente desenvolverem todo o processo para a instalação de novas plantações”. 

A Olivum – Associação de Olivicultores e Lagares do Sul recorda que o “olival moderno”, isto é, produzido em sebe, é responsável por 80% da produção nacional de azeite, estando Portugal posicionado como o sexto maior produtor mundial. “É um setor vital para a economia portuguesa. Fazendo parte do setor primário permite que outros setores da economia possam, também eles, continuar a dar o seu contributo no acesso de bens alimentares aos consumidores portugueses e assegurar a funcionamento da economia”, acrescenta a associação.

A ganhar expressão estão também os pomares de nogueira, uma cultura mais exigente em termos de consumo de água que o olival e até que o amendoal. De acordo com a EDIA, nos diversos perímetros de rega do Alqueva foram inscritos na última campanha 1.095 hectares de nogueiras, existindo “intenção de plantação de novas áreas e ampliação das existentes” o que “prova que a sua adaptação à região é possível e sustentável” de um ponto de vista económico.

“Nos últimos anos a procura por frutos secos, nos mercados nacional e internacional, tem aumentado. Investir no nogal, pode ser uma boa alternativa às culturas tradicionais de regadio, e por isso uma oportunidade de investimento para os agricultores e investidores que estão na região ou que se pretendam instalar”, sublinha a empresa.

AMBIENTALISTAS CRITICAM EXPANSÃO DE ALQUEVA

O plano de expansão do Alqueva para a próxima década foi “chumbado” por cinco organizações ambientalistas , entre as quais a Liga para a Proteção da Natureza (LPN), que deram parecer negativo ao estudo de impacto ambiental. Os ambientalistas referem que o projeto assenta em “objetivos estritamente económicos [do setor agrícola] não integrando as componentes ecológicas e sociais enfatizadas pela nova Política Agrícola Comum Europeia e pelo Pacto Ecológico Europeu”, acrescentando que “a sobre-exploração” dos recursos hídricos e do solo “constitui ameaça á própria agricultura e ao meio ambiente”. As associações alertam ainda “grandes impactos ecológicos, sociais e económicos associados” ao projeto, incluindo com a construção de novas barragens, “sem considerar outras práticas sustentáveis e regenerativas alternativas ao regadio”.

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