Ana Luísa Delgado texto
Professor e engenheiro agrónomo, Fernando Alfaite Moital morreu ontem, vítima de doença prolongada. O corpo esteve em câmara ardente na Igreja dos Álamos. Foi sepultado hoje, em Setúbal. Era vice-presidente da Gare – Associação para a Promoção de uma Cultura de Segurança Rodoviária e mediador de famílias nómadas de etnia cigana, atividade no âmbito da qual foi distinguido com o prémio ObCig Pessoa de Mérito, em 2020.
Em declarações à SW Portugal, Adérito Araújo, antigo presidente da Gare, “Fernando Moital era um grande homem, um cidadão exemplar, muito importante para a cidade de Évora e para o País. Perdemos um membro muito importante. A pessoa que venha a seguir, por melhor que seja, não o substitui”.
Carlos Pinto de Sá, presidente da Câmara de Évora, lembra Francisco Moital como “um cidadão ativista que pretendia transformar para melhor algumas áreas da sociedade, nomeadamente a mobilidade, os passes escolares, o ambiente. Nem sempre concordávamos, mas havia também pontos de convergência. É uma perda para a cidade”.
Semelhante opinião é partilhada por Henrique Sim Sim, vereador do PSD na Câmara Municipal de Évora. “[A sua morte é] um murro no estômago que não passa, tal como não passará tudo o que o Fernando fez pelos temas ambientais, pela mobilidade e pela inclusão das pessoas ciganas na nossa comunidade. Era um tipo bom, tocou muita gente, deixa muitas saudades! Deixo-lhe, assim, um enorme abraço de estima, amizade e de reconhecimento por tudo o que fez. Que descanse finalmente em paz”.
Com 54 anos, Fernando Moital foi fundador da Comunidade das Escolas de Santa Clara e Horta das Figueiras e coordenador pedagógico do projeto Além Risco, no âmbito do qual foram plantadas mais de 13 mil árvores em oito municípios do distrito de Évora.
“O Fernando era daqueles seres humanos que se entranham facilmente pela empatia que criava, pela sua bondade, pela sua alegria, pela sua disponibilidade para ajudar os seres humanos em situação mais vulnerável. Dedicou uma parte significativa da sua vida a lutar por melhores condições de vida para dezenas de famílias ciganas. Uma luta incansável de duas décadas, denunciando situações de injustiça, de segregação, de racismo”, considera o Observatório das Comunidade Ciganas. “Ficamos sem um interlocutor ímpar. Mas vamos regá-lo sempre, Fernando. Como um miosótis que não parará de crescer. Tal como as suas árvores. E as ações que, também na continuidade do seu trabalho, continuaremos a realizar”.
Prémio Pessoa, Miguel Bastos Araújo lamentou nas redes sociais a perda do amigo Fernando Moital. “Era um homem bom. Dos melhores que conheci. Generoso. Empático. Autêntico. Abraçava as causas difíceis com coragem, paixão e determinação. A elas entregou a sua vida. Fossem as comunidades minoritárias, marginalizadas. Fossem as crianças. Ou, de forma geral, os valores elementares de cidadania, como o direito à mobilidade para todos e um ambiente saudável”.