PUBLICIDADE

O tapete “sai à rua” para promover o artesanato de Arraiolos

Ana Luísa Delgado texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Bordadeiras e tapetes voltam às ruas de Arraiolos, num evento que promove o artesanato da terra.

Há cerca de 45 anos que a mãe de Paula Ramalho é fabricante de tapetes de Arraiolos. E foi ali, naquela loja no centro da vila, que Paula começou a “ganhar o gosto” pela arte, não tinha mais de cinco ou seis anos. “Estavam aqui a trabalhar umas 20 mulheres e eu vinha para aqui brincar com o meu irmão, fui vendo como elas faziam e aprendi. Depois, claro, a minha mãe ensinou-me a componente técnica”, diz a artesã e empresária, revelando que neste momento tem 35 pessoas a fazer tapete.

Sucede, acrescenta, que dessas pessoas que colaboram consigo, 20 têm mais de 80 anos. E esse é um dos problemas. “Será um problema de futuro, não por falta de compradores, nem de procura, mas de mão de obra”. 

Quem sabe está a envelhecer. E os jovens andam arredios de lãs e pontos. É Paula Ramalho quem o explica: “Um tapete de três metros por dois demora uns três a quatro meses a fazer, com duas pessoas a trabalhar. Mas essas pessoas têm estar sentadas a coser, durante muitas horas, e isso não diz grande coisa aos jovens”. Além do mais, acrescenta, uma coisa é fazer uns pontos, outra bem diferente é aprender a técnica, que tem de ser ensinada. “Precisamos de quem saiba pegar num tapete e fazê-lo de uma ponta à outra”.

A presidente da Câmara, Sílvia Pinto, conhece bem o problema e diz que uma das soluções para o resolver está mais do que encontrada, o problema é a falta de decisão por parte do Governo. “É urgente que haja uma valorização dos artesãos pois é muito difícil um jovem querer seguir esta carreira, desde logo porque sabe à partida que o vencimento será baixo”, refere a autarca, recordando tratar-se de um problema que não é exclusivo dos tapetes de Arraiolos, antes extensível a todas as formas de artesanato.

“Os artesãos são mal pagos e, como tal, deveria haver uma discriminação positiva, à semelhança do que existe na Madeira. Isso seria muito importante para nós, mas também para outro tipo de artesanato. Iria dar uma grande ajuda em termos da continuidade da produção”. 

Na Madeira esse apoio é dado pelo governo regional. No Continente, a medida é falada há anos, sem que se tenha traduzido em realidade palpável. Tal como há anos que o Centro para a Promoção e Valorização do Tapete de Arraiolos está prometido. A lei que o cria foi aprovada por unanimidade e publicada em janeiro de 2002, para “promover, controlar, certificar e fiscalizar a qualidade, genuinidade e demais preceitos de produção do tapete de Arraiolos”, foi criado um grupo de trabalho para tratar dos estatutos e, passadas duas décadas, continua… no papel.

Nestes 20 anos entretanto passados, a Câmara lançou a iniciativa “O Tapete está na Rua” (ver caixa) e criou o Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos, inaugurado há 10 anos e que se prepara para receber o visitante número 100 mil. “Em Lisboa há museus que têm menos visitantes do que o nosso”, orgulha-se Sílvia Pinto, lembrando que todos estes milhares de pessoas, muitos deles estrangeiros, “conhecem a nossa história, a nossa tradição e levam essa informação com eles”. 

VILA EM FESTA

Com tapetes nas janelas e bordadeiras a trabalhar nas ruas, Arraiolos estará em festa até 11 de junho com “O Tapete está na Rua”, que este ano assinala a sua 21.ª edição. O programa inclui a recriação de procedimentos históricos da confeção do tapete, alguns já extintos, como a tosquia com tesoura ou o tingimento da lã com corantes naturais, haverá exposições e colóquios e, claro, espetáculos de música, com Ricardo Ribeiro e os Ganhões de Castro Verde (dia 8), Mara & Duarte (10) e Dino d’Santiago (11), entre outros.

Partilhar artigo:

FIQUE LIGADO

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

© 2024 SUDOESTE Portugal. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por WebTech.