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O que falta ao aeroporto “são acessibilidades”

Luís Godinho (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

A CTI diz que falta de acessibilidades impede Beja de ser alternativa aos “picos de tráfego” em Faro ou Lisboa. Presidente do Nerbe critica “desprezo pelas necessidades da região”.

Em dois relatórios, a Comissão Técnica Independente (CTI) encarregada de avaliar as opções para o novo aeroporto de Lisboa “resolveu” a questão de Beja. Primeiro considerou que o aeroporto do Baixo Alentejo “não cumpre o critério de proximidade” a Lisboa, “apresenta intensa atividade militar que limita a capacidade de operações civis” e obrigaria a “conciliar fluxos de tráfego” aéreo com Faro. No segundo, com propostas imediatas para “aliviar” o aeroporto de Lisboa, olha para Beja como alternativa para redirecionar voos não comerciais, designadamente “tráfego `charter ́ não regular”.

A CTI acrescenta que Beja pode igualmente ser “considerada para acolher operações exclusivas de carga”, mas acrescenta que, “nas condições atuais de acessibilidade, não pode ser uma alternativa comercial para gestão das pontas de tráfego de passageiros” em Lisboa ou em Faro.

“O que realmente faz falta é o investimento público nas acessibilidades para que o aeroporto de Beja seja um fator de coesão para este território”, defende o presidente do Núcleo Empresarial do Baixo Alentejo (Nerbe), David Simão. “Tem havido da parte do Governo um desprezo pelas necessidades da região. Já tivemos operações que no seu estudo de viabilidade económica não deram resultado pelo tempo que demora e pelos custos de operação para pôr a carga no seu destino final”, acrescenta.

Além de não estar servido por autoestrada, nem haver perspetiva de que isso possa vir a suceder, o aeroporto de Beja também não dispõe de acesso à rede ferroviária. A estação de Beja fica a 10 quilómetros e a construção de uma variante à Linha do Alentejo, permitindo ligar o aeroporto à rede ferroviária, não consta do Plano Ferroviário Nacional, apesar de a IP estar a realizar um estudo sobre a viabilidade deste projeto, que deverá custar entre 20 e 26 milhões de euros. Acresce que a ligação existente entre Beja e Lisboa ainda é feita em “velhinhas” automotoras movidas a diesel, no troço até Casa Branca.

No que às acessibilidades diz respeito, David Simão critica o “abandono” completo do Baixo Alentejo: “Ficámos com o estudo da ferrovia a meio, com as capacidades aeroportuárias a meio, com a estrada a meio e já com as infraestruturas básicas feitas. Tudo isto está a meio e era preciso que fosse concluído para que região pudesse dar um salto qualitativo”.

De acordo com o presidente do Nerbe, não têm sido poucas as manifestações de interesse por parte de investidores em aproveitar o aeroporto de Beja. “Mas há uma situação constrangedora que é a falta de acessibilidades e isso está a condicionar esses investimentos”, sublinha, criticando a “falta de eficiência” no funcionalismo dos órgãos de decisão: “Continuamos a ter em Portugal um funcionalismo de vistas até ao muro do nosso quintal. E esses muros têm que ser quebrados. As pessoas de Beja ou de Évora preocupam-se com os seus próprios problemas, mas precisamos de nos preocupar com os problemas da nossa região que é o Alentejo. Nós interagimos com empresas que já estão presentes em todo o território e é assim que deve ser”, refere o dirigente empresarial, considerando que o aeroporto de Beja pode desempenhar um papel “vital para o país”, desde que deixe de ser “uma ilha”, a funcionar sem ligação à autoestrada ou à ferrovia.

“Uma infraestrutura como esta tem várias valências e é isso que compõe o sucesso da operação. Devemos explorar a componente de cargas, mas nunca desprezando a componente de passageiros, nunca desprezando a componente da indústria pois todas elas são fundamentais para que consigamos ter viabilidade neste aeroporto”, conclui.

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