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O estremocense que conquistou a Taça de Portugal de hóquei

Ana Luísa Delgado texto | Carmo Honório fotografia

Começou a jogar hóquei em patins no antigo ringue do Caldeiro, em Estremoz, em meados da década de 70. Hoje, aos 51 anos, Nuno Lopes é um dos nomes grandes do hóquei nacional. À frente do Sporting de Tomar conquistou a Taça de Portugal, frente ao Sporting, tendo eliminado o FC Porto nas meias-finais.

Este foi um triunfo especial?

Ganhar um título nacional com este peso, uma Taça de Portugal, num clube como o Sporting de Tomar tem sempre um impacto grande, até porque nós já procuramos isto há algum tempo e, de facto, ganhar perante o nosso público foi muito especial, na meia final eliminámos o FC Porto, depois apanhámos o Sporting e foi um jogo bastante emotivo. Em termos desportivos, a conquista da Taça, para mim, corresponde a um título mundial, tendo em conta a dimensão que o Sporting de Tomar. Não é todos os dias que um clube de província como o Sporting de Tomar consegue num fim de semana ganhar dois jogos a dois campeões europeus, a equipas fortes, recheadas de bons valores. E, ainda por cima com, na minha opinião, vencer com alguma justiça.

E com apoios muito menores.

Este é um clube que vive do apoio autárquico e do de alguns patrocinadores, uns locais, outros até já nacionais. Mas estamos sempre a comparar um orçamento de de 250 mil euros para um milhão e meio, ou mais qualquer coisa, portanto a ordem de grandeza é muito diferente. O nosso orçamento corresponde a 20% do dos primeiros classificados no campeonato. Portanto, esta vitória na Taça de Portugal acaba por ter outro sabor, é também o nosso trabalho que sai valorizado.

Que recordações é que tem de Estremoz?

Todas, todas… Estremoz é especial porque foi onde nasci, porque a minha família é toda de Estremoz e porque foi aí que vive 13 anos. Nasci em em casa, ainda sou desse tempo, e aí fiz os primeiros 13 anos da minha vida. Joguei nos Estremoz, iniciei a minha prática desportiva no ringue do Caldeiro, que hoje é o Pavilhão de Estremoz, tenho aí as minhas amizades todas de infância. 

Uma infância feliz…

Tive uma infância rica, como era a um menino da altura, ou seja, era passada na rua, era brincar, era jogar, era desporto, muita brincadeira, por vezes até perigosa, e eu fui uma dessas crianças, vivia num bairro, neste caso entre as duas escolas, a preparatória e a secundária. E depois havia o verão, três meses de férias, sempre com uma temperatura muito boa… eu era muito de amizades e muito de rua. Orgulho-me disso, porque foi uma infância rica de amigos e de brincadeira, não escondo isso. E, olhe, eu penso que é importante falarmos de Estremoz.

Porquê?

Sobretudo para quem é da província, é importante dizer às gentes da nossa terra que também temos sucesso. Infelizmente, tem que ser fora da nossa área, e isto por várias e diversas razões. A minha vinda para o litoral, neste caso para a Marinha Grande, onde resido, tem apenas a ver simplesmente com o facto de procurar uma via melhor. O meu pai e a minha mãe, na altura, tinham as suas dificuldades económicas e foram à procura de uma vida melhor, que Estremoz não lhes dava. Felizmente as coisas evoluíram e eu fiz-me adolescente e homem, mas não escondo as minhas raízes e acho que quando nós ganhamos ou quando temos estes momentos bons devemo-nos focar e dizer de onde viemos, quem somos, porque também pode ser uma mola impulsionadora para alguém acreditar que consegue ter vida melhor e alcançar o sucesso naquilo que gosta de fazer.

E o hóquei em patins, como surgiu na sua vida?

Comecei a patinar quando tinha quatro anos e nunca mais parei, são 47 anos de hóquei… quando se ganha, já tinha feito o mesmo quando representei o Sporting, entendo que é uma marca que fica e que é importante relacionarmo-nos sempre com as origens. Estremoz estará sempre no meu coração, no meu e no da minha família, disso não há a menor dúvida.

Ainda para mais sabendo-se de toda a tradição de Estremoz no hóquei em patins. Podemos dizer isso?

Podemos e devemos. Estremoz sempre teve hóquei. Não tem agora o escalão sénior, mas seguramente há 40 anos que há hóquei na cidade, funciona muito bem até aos sub-15 e daí para a frente tem muita dificuldade em funcionar, o que é fácil de explicar: a uma determinada altura os clubes não conseguem ser organizados a ponto de captarem os melhores jogadores e, neste caso, concentrarem um trabalho de formação muito grande. Os miúdos começam a dispersar-se facilmente, depois uns vão estudar para fora, surgem outros interesses, outros crescem e mudam de hábitos e isto tudo se vai perdendo. Tem sido assim em Estremoz. Algum sucesso nas idades mais baixas, até aos 13 ou 14 anos, e depois as coisas vão-se perdendo. É uma pena ser assim.

Também há menos apoios nas regiões do interior, o dinheiro é um problema?

Sim, mas não só. Olhe, a forma como os campeonatos estão organizados, como o interior está arredado nos palcos maiores, a captação de atletas também é muito menor… isto é assim em todas as modalidades. Depois há alguns casos pontuais de sucesso. Os miúdos em Estremoz, quando têm jeito para jogar hóquei em patins, a determinada altura vêm procurar clubes para Lisboa e depois vão ficando por aqui até a idade sénior. Tem sido assim. E será assim até ao dia em que alguém decida fazer o mesmo que Tomar, apostar na equipa de hóquei, esperar 20 anos para criar um clube baseado na formação e reunir bons treinadores…

“ANDÁVAMOS ALI UM VERÃO INTEIRO, A PATINAR E A JOGAR”

Pelo que me disse, toda esta sua paixão pelo hóquei começou na infância?

Vivia no bairro e nessa altura, pelos meus quatro anos de idade, havia o senhor Armando Raio, um mecânico, que fazia um trabalho de captação notável, levava todos os meninos ali da rua e do bairro para o hóquei, arranjava uns patins, dava uma horas de treino ao domingo de manhã e ao fim do dia de trabalho, até à noite, e deixava-nos andar ali no ringue do Caldeiro. Estamos a falar, sei lá, aí de uns 30 miúdos com idades entre os cinco e os 10… andávamos ali um verão inteiro a patinar, a jogar, a trazer sticks para casa e até a jogar na rua. A minha paixão do hóquei vem efetivamente daí.

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