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Nova associação de municípios promove Serra de São Mamede

Ana Luísa Delgado texto

Quatro municípios do norte alentejano uniram esforços para “potenciar a conservação da natureza e o património cultural” do Parque Natural da Serra de São Mamede. A ideia é apostar numa promoção conjunta, que traga benefícios para as populações e agentes económicos.

Há mais de cinco anos que o projeto estava “em curso”. A ideia de criação da Associação de Municípios da Serra de São Mamede (AMSM), diz Luís Vitorino, presidente da Câmara de Marvão, surgiu da “necessidade conjunta” sentida por quatro autarquias – Arronches, Castelo de Vide, Marvão e Portalegre – de encontrar soluções para “resolver os problemas e os constrangimentos” sentidos por municípios e populações de forma a promover o território, “tanto nos aspetos da conservação da natureza como do património cultural”. 

Trata-se de “aproveitar sinergias e ganhar escala”, sabendo que os desafios que se colocam às populações residentes numa área protegida são “mais exigentes” que no restante território. “Queremos encontrar consensos e ultrapassar constrangimentos que se colocam, por exemplo, a nível turístico ou agrícola”.

Luís Vitorino lembra que a zona do Parque Natural da Serra de São Mamede é habitada por cerca de 25 mil pessoas. E garante que a associação, agora criada, tem um “cariz inovador” uma vez que vai ao encontro das “preocupações que as pessoas têm” com o território com mais de 55 mil hectares.

“Todos os anos vemos abrirem telejornais com mais área florestal ardida. São problemas incalculáveis , dos quais os nossos governantes não têm perceção… transtornos causados às populações e aos autarcas. No âmbito desta associação teremos um plano de investimentos, um plano de ação para concorrer as fundos comunitários no âmbito da defesa da floresta contra incêndios e da proteção florestal” revela.

Reconhecendo que o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tem feito “o que tem podido” pela preservação deste património natural “único”, o autarca diz que é preciso ir mais além, através da definição de uma estratégia conjunta que permita adotar um plano de defesa contra incêndios “a médio prazo”, rejeitando soluções pontuais.

“Vamos apresentar esse plano e executar trabalho de limpeza florestal, [criar] acessos a pontos de água, [promover a] limpeza de caminhos na área da conservação da natureza, envolvendo o ICNF que é um parceiro estratégicos desta associação. Estamos a pensar no futuro. E o futuro é já amanhã, sendo que temos de nos preparar para as alterações climáticas, com verões para vez mais quentes e mais agressivos”, sublinha Luís Vitorino.

Outro dos objetivos, acrescenta, é “promover turisticamente a região”, até para que as populações “possam tirar proveito” da serra. “Só temos um parque natural com estas condições porque as gerações passadas souberam trabalhar a terra, explorar a terra, em atividades agroflorestais e pastoris. Conseguiram tirar proveito de tudo o que é recursos endógenos. A Serra de São Mamede tem muitos produtos endógenos, dos enchidos ao peixe, dos queijos à carne a aos bons vinhos. Além disso temos, dentro da área protegida, um perímetro de rega, a partir da barragem da Apartadura. Este é um parque com uma diversidade extraordinária”, refere o presidente da Câmara de Marvão, e primeiro presidente da AMSM.

Ser “a voz da populações” é outro dos objetivos da associação, que quer encontrar soluções para problemas “burocráticos” que condicionam a vida no interior do parque. “O estigma de não se alcatroar caminhos, não se pavimentar caminhos, é um estigma que tem de ser ultrapassado, as pessoas têm de ter acessibilidades, pois faz falta que o campo esteja habitado”.

Recorde-se que estes quatro municípios compõem também, juntamente com o ICNF, desde 2020, a Comissão de Cogestão do Parque Natural da Serra de São Mamede, a primeira criada no país, com o objetivo de “promover” uma gestão participada do parque, e com “responsabilidades específicas, enquanto órgão de administração e gestão desta área protegida, sendo a primeira responsável perante a comunidade pelo desempenho nos domínios da promoção, sensibilização e comunicação”.

António Pita, presidente da Câmara de Castelo de Vide, assinala que uma das apostas da nova associação será “apostar na promoção do território e na divulgação dos produtos locais”, através de “mais candidatura a fundos comunitários, que individualmente não poderíamos fazer, mobilizando recursos humanos, financeiros e logísticos para termos um parque com mais atratividade”.

O autarca fala num “momento histórico” e dá exemplos sobre como esse trabalho conjunto poderá ganhar forma: “Já tendo esta unidade geográfica, de futuro não fará sentido que cada concelho vá de forma individual à Bolsa de Turismo de Lisboa ou à Feira Internacional de Madrid. Passaremos a fazer a promoção conjunta destes municípios, não só porque é mais barato, mas também porque é mais eficaz. As populações e os agentes económicos só têm a ganhar com a consolidação, em termos turísticos, da imagem da Serra de São Mamede”.

Criado há pouco mais de 30 anos, o Parque Natural da Serra de São Mamede é o único existente no norte alentejano desempenhando, segundo o ICNF, um “papel é relevante na definição das regras de exploração do meio natural, que possibilite a compatibilização das atividades humanas com a dinâmica dos ecossistemas”.

Populações paleolíticas, árabes e romanas, gente medieval, todos deixaram marcas ao longo de um território em que a agricultura foi sempre a atividade dominante e onde, à diversidade vegetal, se acrescenta a presença de distintas comunidades de animais, com realce para as aves de presa. Não por acaso, o símbolo do parque é a águia-de-bonelli, uma ave de rapina que nidifica em zonas escarpadas da serra de São Mamede possuindo, em termos de conservação, o estatuto de “rara”.

O Atlas das Aves do Parque Natural inventariou cerca de 150 espécies, sendo que 40 nidificam no território. Além da águia-de-bonelli, esta é também a “casa” de espécies como o grifo, com nidificação confirmada junto à fronteira, do abutre-preto, que embora não nidifique ocorre na região com alguma frequência por encontrar os biótopos de alimentação adequados, ou do milhafre-real e da cegonha-preta, com populações reduzidas no país.

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