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Nenúfares, Alice no País das Maravilhas e outras histórias

Com o MiETZ em silêncio, Executivo socialista e coligação liderada pelo PSD trocam argumentos e acusações. Seguem animadas as reunião de Câmara.

Luís Godinho (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

Há um crescendo de animosidade, pelo menos política, no que às reuniões públicas da Câmara de Estremoz diz respeito. É de regra que com o aproximar do fim dos mandatos o tom do debate tende a ser mais elevado. E a regra, pelos vistos, é para cumprir. Nem que seja a pretexto dos já célebres quiosques do Rossio Marquês de Pombal, que tardam em ser melhorados.

Em setembro do ano passado, o presidente da Câmara, José Daniel Sádio, havia garantido que até final de 2023 o problema estaria resolvido através de um investimento municipal de 100 mil euros para “ir ao encontro de tudo o que foi pedido” pelos comerciantes, incluindo um “melhor isolamento” dos espaços e a consignação dos que se encontram fechados para venda de “produtos regionais ou artesanato”.

Na altura, a vereadora da Coligação Estremoz com Futuro, Sónia Ramos, apresentou uma moção “para a requalificação e afetação dos quiosques do Rossio às atividades características do concelho”, moção essa que acabou “chumbada” uma vez que os vereadores do Movimento Independente por Estremoz (MiETZ) aceitaram as explicações do Executivo e abstiveram-se.

No entanto… passou dezembro. E 2023 chegou ao fim sem qualquer intervenção nos quiosques. “Aguardamos que a empresa tenha todo o material disponível para avançar com a obra. Prevê-se que se inicie e, porventura, esteja concluída em janeiro [de 2024]”, garantiu José Daniel Sádio em reunião pública de Câmara, acrescentando que a empresa “necessitou de 45 dias” para adquirir os materiais necessários à intervenção.

“Já perdemos a esperança pois vamos saltitando de mês a mês, de nenúfar em nenúfar, e a situação não está resolvida. Uma empresa que concorre a este tipo de procedimentos tem prazos para cumprir”, disse Sónia Ramos, reagindo depois a uma tentativa de José Daniel Sádio de pôr fim à intervenção: “Já me pode tirar a palavra, é dono disto”. 

Na resposta, o presidente da Câmara evocou a célebre Alice no País das Maravilhas, “tudo corre bem, nada falha”, e ironizou com a eventual posse, por parte da vereadora, de “alguma varinha de condão” capaz de “transformar tudo de um momento para o outro”, ou seja, que permitisse ter a questão dos quiosques já resolvida.

“Está há dois anos a tentar apoucar a minha pessoa”, insurgiu-se a vereadora. “Essa sua atitude roça o machismo – a miúda da Alice que vem para aqui dizer umas coisas -, fica tão mal nos dias de hoje, é absolutamente inqualificável”, acrescentou, desafiando José Daniel Sádio a “comparar currículos” para ver “quem tem mais ou menos experiência na Administração Pública e do ponto de vista académico”.

Ainda houve momento para mais uma acha na fogueira. “Só respondi à letra à sua referência aos nenúfares, no mesmo tom. Quando ao resto, nem me atrevo, cada um tem o currículo que tem (…) para esse peditório não dou”, concluiu o presidente da Câmara, que já antes tinha justificado, à semelhança do que fez em artigo no “Brados do Alentejo”, o apoio ao II Congresso de História e Património Vitivinícola do Alentejo, realizado em Estremoz, sem que qualquer produtor do concelho tivesse sido convidado como orador.

“[Tratou-se de] discutir questões da história e do património cultural do setor. Foi isso que se fez em Estremoz, como se fez há um ano em Redondo. Não é à Câmara que compete fazer convites. Ao valorizarmos o património cultural estamos a valorizar o próprio setor”, sublinhou José Daniel Sádio.

“Pode até dizer que todos os produtores estavam felicíssimos por estar ali a servir um copo de vinho e não terem [direito a] uma palavra em dois dias de congresso (…) toda a gente fica a perceber que o senhor presidente entende que nenhum produtor de Estremoz pode falar sobre o património vitivinícola do Alentejo e do seu concelho. Agradeço-lhe essa exposição”, contrapôs Sónia Ramos.

E como não há duas sem três, nem três sem quatro, eis que a reunião fica marcada por mais dois temas: os mil contadores e o vídeo da obra do século. Quanto ao primeiro, os tais mil contadores inteligentes adquiridos pela Câmara por mais de 90 mil euros (IVA incluído) que continuam por instalar, o vereador Luís Pardal lembrou que um primeiro concurso “ficou deserto”, estando a ser preparado um novo procedimento para adjudicar o trabalho. 

“Calculo que estejam encaixotados e a perder qualidades”, criticou a vereadora da Coligação liderada pelo PSD, que durante a reunião quis também saber se um vídeo posto a circular pelo presidente de Câmara nas suas redes sociais “foi pago pelo orçamento municipal”. Isto porque o vídeo – no qual José Daniel Sádio se refere ao futuro loteamento da Avenida Santa Isabel como sendo “a obra do século” – foi gravado nos Paços do Concelho apesar de, segundo Sónia Ramos, o presidente “se anunciar como pré-candidato” ás próximas autárquicas.

“Não é um vídeo da Câmara, é um vídeo feito por uma empresa que se dedica à comunicação”, respondeu José Daniel Sádio, assegurando trata-se de uma “prática corrente”.

FORMAR OU TALVEZ NÃO

Pode e deve a Câmara de Estremoz voltar a realizar formação na área da barrística para preservar os Bonecos de Estremoz? A vereadora da Coligação Estremoz com Futuro, Sónia Ramos, queria que o assunto, pelo menos, fosse debatido pela autarquia. Apresentou uma proposta que o assunto fosse levado a reunião pública de Câmara. Mas o presidente da autarquia não aceitou a discussão, nem sequer agendou o ponto. “Entendi que não o deveria incluir porque este não é assunto da exclusiva competência da Câmara”, justificou José Daniel Sádio, considerando tratar-se de uma proposta “extemporânea”, tanto mais que o plano de salvaguarda proposta à Unesco ainda está em curso. “Estranho que venha invocar a falta de competência da Câmara, uma vez que a Câmara já fez esta formação em 2019”, lamentou Sónia Ramos, defendendo que a lei “não dá possibilidade ao presidente para, sozinho, incluir ou não” propostas apresentadas pelos vereadores.

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