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Nem só de caldeta se faz o Festival do Peixe do Rio (c/ vídeo)

Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo fotografia e vídeo

De hoje até 12 de março, Alandroal é palco do Festival do Peixe do Rio. A caldeta de barbo faz as honras da casa. Mas, como adiante se verá, há muito para provar, numa iniciativa apostada em que o peixe do rio “chegue a mais pessoas e contribua mais para a economia do concelho”.

Que a terra é de peixe do rio, disso é que não resta dúvida. Já em 1758 o padre Manuel Ramalho Madeira, cura na paróquia de Santo António de Capelins, lembrava que o Guadiana, ali ao lado, e que nos anos de maior caudal era atravessado por uma barca com capacidade para “trinta cavalgaduras e alguma gente”, não servia apenas de empecilho nas relações fronteiriças.

O rio era também uma importante fonte de alimentação para os habitantes das quatro aldeias da freguesia (Capelins de Cima, Capelins de Baixo, Navais e Faleiros), tanto mais, afirmava o padre, que “em toda a terra se pesca” e “as pescarias são livres”. Do rio saíam peixes como bogas, bordalos ou barbos, e estes, escrevia Manuel Ramalho Madeira, “chegam a ter meia arroba”, ou seja, uns bons seis quilos.

Do mesmo rio e pela mesma altura, mas em Juromenha, também o padre Gaspar Mendes Fragoso andava impressionado com o peixe do rio, em particular pelas “grandes e célebres pescarias” do Pego do Lima. No Guadiana ainda havia eiroses (enguias), era pescado “peixe miúdo” como bogas, bordalos e pardelhas e, claro, barbos, que o padre dizia serem de “maior qualidade”, talvez por chegaram a “ter o peso de 30 arrates”. Quinze quilos de barbo daria, de facto, para muita e boa caldeta.

Do rio ou da ribeira, os peixes, “apanhados com redes, serviam de conduto para óptimas açordas de tomate temperadas com hortelã da ribeira, ou eram simplesmente fritos”, escreve por sua vez Maria Antónia Goes na “Carta Gastronómica do Alentejo”, onde vêm referenciadas quatro sopas, dois caldos e quatro caldeiradas de peixe do rio. Muda o nome, as receitas têm pequenas variações, mas a caldeta de barbo, ontem como hoje, continua a ter um lugar muito especial na mesa das povoações ribeirinhas.

Para a provar, por estes dias, não faltam propostas no concelho Alandroal, como os restaurantes A Chaminé, Adega do Ramalho ou A Maria, na sede de concelho, a Sentinela do Guadiana ou o Pata Larga, em Juromenha, o Tarro, na Aldeia da Venda, ou O Botas, em Terena. À caldeta juntam-se outros pratos tradicionais, como lúcio-perca grelhado, açorda de sável ou barbo frito com migas de espargos. Difícil será escolher.

Se a ideia for provar outros sabores, de matriz mais contemporânea, siga a nossa sugestão e dê um salto à praia fluvial Azenhas d’El Rei, onde o restaurante Raya tem uma proposta de tempura de peixe do rio, outra de ceviche e mais uma, tacos de peixe do rio, numa cozinha de fusão que cruza sabores de vários pontos do mundo.

“A ideia é fazer com que o peixe do rio chegue a mais pessoas, envolva mais a comunidade, crie mais dinâmicas económicas, contribua mais para a economia do concelho ao longo do ano”, diz João Grilo, presidente da Câmara de Alandroal, acrescentando que a existência do festival permite “garantir” a quem visita o concelho que “pode haver procura adicional pois vão encontrar propostas de peixe do rio” nos diversos restaurantes aderentes à iniciativa.

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