Margarida Maneta texto | Gonçalo Figueiredo foto
O Aeródromo de Évora “fechou” 2021 com 22.209 movimentos realizados por aeronaves. Em 2018 este número rondava os 10.057. Nos últimos quatro anos o movimento de aviões duplicou. Mas piloto lamenta que esta infraestrutura seja “o parente pobre do concelho nas políticas de desenvolvimento económico”.
O Aeródromo de Évora tem sido área para atividades de emergências médicas, combate a incêndios, ‘táxis’ aéreos, formação de pilotos, lançamento de paraquedistas, verificação de linhas elétricas e aviões militares em treino. O aumento do número de movimentos revela a “crescente importância” do aeródromo como “infraestrutura estruturante para a economia local e regional”, afirma Carlos Pinto Sá, presidente da Câmara Municipal de Évora (CME), pela dinamização “da formação aeronáutica, da manutenção aeronáutica e da hangaragem de aviões”, na região. Por outro, “pelas condições de apoio à aeronáutica de lazer, como o paraquedismo, e a outro tipo de atividades turísticas” em que também já se observam empresas “a dinamizar esta componente”.
O aeródromo eborense, pela sua qualificação, permite a operação de voos privados, inclusivamente charter e ‘táxi’ aéreo. Neste ponto há “um conjunto de movimentos de jatos privados e outros que trazem turistas, visitantes e pessoas que vêm trabalhar a Évora ou à região”, adiantou o autarca. A importância deste campo sai ainda reforçada pelo “pela possibilidade de dar apoio a empresas de aeronáutica que se estão a instalar em Évora e precisam do aeródromo para testar os seus produtos”.
Para desenvolver e valorizar o Aeródromo de Évora, a autarquia desenhou um plano estratégico que prevê intervenções ao nível da “melhoria das infraestruturas, nomeadamente, da pista e dos edifícios de apoio à pista e às atividades económicas”. Além disto, está também pensada a “expansão das áreas para instalação de empresas ligadas à aeronáutica, no próprio aeródromo”.
António Veladas, piloto e utilizador do Aeródromo de Évora, reconhece e reivindica estas alterações ao nível do comprimento da pista que deveria situar-se nos “2400 a 2500 metros, com o pavimento dimensionado para uma capacidade estrutural que permita a operação de aviões de porte e pesos superiores”, bem como a instalação de “placas de estacionamento e de caminhos taxiway”, sublinhou, acrescentando que “há falta de ambição na autarquia”. Na sua opinião, “o aumento da pista deve olhar ao futuro e pretender poder oferecer a operação de aviões Boeing, Airbus e Embraer, entre outros fabricantes, com modelos populares no transporte de passageiros e cargas, a exemplo, B737-300, B767-200, A319, A320, A321, A330-200, EMB120”.
“O Aeródromo de Évora tem sido o parente pobre do concelho, por parte do município, nas políticas de desenvolvimento económico. Tem sido visto como algo em que se desenvolvem planos estratégicos para ter na gaveta e ir fazendo, fazendo e protelando”, lamenta o piloto.
A nível do Governo central, António Veladas acredita que esta região do país, no que diz respeito às ligações aeronáuticas, “continua a ser discriminada duplamente, pela interioridade que caracteriza o seu afastamento da capital e pela composição partidária da autarquia, a CDU. Em Portugal, há a discriminação partidária que violenta os interesses dos cidadãos”.
António Veladas refere-o apontando como exemplo de um país a várias velocidades, “os voos domésticos pagos pelo Governo” e que são operados pela companhia portuguesa Sevenair Group, na rota de Cascais a Coimbra, Viseu e Bragança e uma segunda de Cascais a Portimão. “O que fica no meio fica esquecido, o nosso Alentejo, menosprezado, sem reconhecimento aos aeródromos internacionais de Évora, Beja e Ponte de Sor, uma vergonha participada também pelos representantes regionais, na Assembleia da República, silenciados e por vezes em ‘suspiros’ fantasiados de preocupação regional”, sublinhou.
Ainda assim,” apesar dos erros e omissões dos políticos”, os aumentos dos movimentos revelam o sucesso daquilo que o piloto denomina como sendo “o segredo de Évora” e que resulta da proximidade geográfica com Lisboa e da existência de infraestruturas aeronáuticas de qualidade. “Évora, pela sua proximidade com Lisboa, pelo seu clima, pela excelente infraestrutura aeronáutica que detém, apesar de muitíssimo limitada, eleva a apetência das escolas para fazerem deslocar para aqui os seus alunos durante a sua instrução; estes são o segredo de Évora e que justificam este crescimento”, defendeu.
Responsável pela ideia de um monumento memorial aos “pilotos que já partiram”, através da Associação Aeronáutica de Évora, e que hoje é local de “romaria nacional”, António Veladas aponta a existência de “falhas grosseiras” na promoção deste setor. E explica: “Évora congelou desde 2009, na gaveta do seu presidente, a realização do Portugal Airshow, evento que reuniu dezenas de milhar de pessoas em três dias de eventos de acrobacia aeronáutica. Não há vontade, não há visão e, mais, não permitem a iniciativa privada de o fazer em nome da cidade e do país, dizem que sim e depois dão o dito por não dito, impressionante”.