Criado em plena pandemia, clube conta com mais de 70 atletas em todos os escalões. Já foi campeão e ganhou as últimas três taças distritais.
Luís Godinho (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)
João Mendonça nasceu em Mourão. Licenciou-se em Desporto no Politécnico de Castelo Branco. Inscreveu-se no mestrado, mas… mas havia falta de nadadores salvadores nas piscinas de Mourão, nem para a descoberta, nem para a de água quente, pelo que decidiu aprender as técnicas do socorrismo e regressar à terra. Para ajudar ao funcionamento da piscina, pois claro, mas também para jogar futebol e para treinar equipas jovens, “a geração Benfica”, em São Pedro do Corval.
“Vivia na casa dos meus pais, era nadador salvador, jogava à bola e treinava os miúdos. Bom, optei por ficar”. Começou por desenvolver atividade física com os idosos residentes em lares, criou um grupo de “seniores ativos” e acabou contratado como técnico de desporto do Município de Mourão. Acontece que o concelho estava há 10 anos sem qualquer clube filiado na Associação de Futebol de Évora – “éramos o único concelho do distrito sem atividade futebolística” -, pelo que resolveu juntar um grupo de “rapaziada” e começar a dar uns pontapés na bola.
De início foi criada uma secção desportiva na Associação Juvenil “A Entretenga”, desde logo por ser “mais fácil integrar uma coletividade e criar condições para que os miúdos se pudessem dedicar à prática desportiva”, mas a aposta rapidamente ganhou proporções, com mais e mais jogadores, com responsabilidades a nível administrativo, pelo que começou a ganhar forma “a ideia de constituir uma estrutura autónoma”.
Nasceu assim o Mourão Futsal Clube. “Inicialmente tínhamos dois escalões, seniores e iniciados, comigo como treinador”. Convém assinalar que o clube foi criado em julho de 2020, estava o mundo mergulhado na pandemia de covid-19, entre confinamentos e milhares de pessoas infetadas pela nova doença. “A verdade é que o futsal começou a despertar interesse, apareceu muita gente a querer jogar, tivermos de incentivar mais treinadores a tirar o curso, criámos mais escalões”.
Quando o Mourão Futsal Clube iniciou a atividade, lembra João Mendonça, nem sequer eram permitidos treinos nos escalões etários mais baixos.
“Bom, ainda começámos a prática desportiva, mas depois houve a imposição de novas regras pela Direção-Geral da Saúde e parou tudo. Ficámos proibidos de inscrever miúdos no futsal por causa da pandemia, só o escalão sénior continuou a treinar”.
Ainda assim, conta, o crescimento do número de atletas foi “fulgurante”. Três anos depois da constituição, o Mourão Futsal Clube conta com cerca de 70 jogadores, tendo equipas em todos os escalões etários. Além do mais, os resultados acompanharam o crescimento do número de atletas: o clube foi campeão distrital logo no primeiro ano de atividade, conquistou três taças distritais e já disputou por três vezes a Taça de Portugal. “Fomos agora eliminados, na segunda eliminatória, por uma equipa algarvia da III Divisão, que só nos conseguiu bater nos penáltis”.
“Do ponto de vista desportivo”, acrescenta João Mendonça, as prestações “têm corrido bem”, sendo acompanhadas pelo “muito público” que assiste às provas: “O pessoal vibra mesmo muito com o Mourão… no jogo da Taça de Portugal tivemos mais de 250 pessoas a assistir”.
Acresce que a maioria dos atletas nunca tinha jogado futsal, e que quando o clube conquistou o seu primeiro título distrital “todos os rapazes eram da terra, e todos eles jogam por amor à terra e à camisola pois não pagamos nada. Seremos talvez o único clube que não paga aos jogadores”.
Se o futsal vai de “vento em popa”, o retomar do futebol de 11 parece ser um objetivo difícil de concretizar. “O despovoamento do interior tem-se acentuado, não temos em Mourão atletas suficientes para que isso possa acontecer”, lamenta.