Ana Luísa Delgado texto
Chama-se AMORA – Associação de Moradores do Rio Almansor. Foi criada com o objetivo de despoluir o Rio Almansor e contribuir para a sua promoção.
“Começámos por juntar os proprietários das margens do rio e convidar o poder político a acompanhar-nos”. Guilherme Serôdio, presidente da Associação de Moradores do Rio Almansor (AMORA), conta desta forma o surgimento da associação, que foi “ganhando uma dinâmica própria”, chamando a atenção para os problemas do rio e para a necessidade da sua recuperação. “Há muitas pessoas que se lembram de lá nadar e querem um rio vivo”.
Guilherme Serôdio conta que a recuperação do rio “não era uma prioridade”. Aliás, “não era uma prioridade, nem para isso havia qualquer resposta política”, apesar de em todas as eleições autárquicas “se falar” do Almansor. “A verdade é que o rio se foi degradando, nunca foi uma prioridade política e, por isso, resolvemos juntar os proprietários das margens e começar a fazer… convidando o poder político a acompanhar-nos”. Desta forma, a associação “ganhou dinâmica” e passou a integrar pessoas de todo o concelho.
“A associação nasceu do estado do rio e das continuadas descargas a que alguns dos moradores nas margens, incluindo eu, assistiam quase todos os dias. E, portanto, começou a ser feita muita pressão para essas descargas pararem e serem resolvidas e isso levou a ganhar dinâmicas diferentes para podermos resolver o problema do rio como todo”, acrescenta.
De acordo com o responsável da AMORA, “não é possível limpar apenas um sítio”, visto que o sistema de águas correntes faz com que as fontes de poluição “tenham de ser identificadas e travadas”. A associação começou por fazer parcerias com organizações e fundações ambientalistas, iniciando um processo de replantação de árvores nas margens do rio. “Plantámos este ano 7500 árvores. E damos passeios interpretativos para podermos ver o rio no seu estado e no seu potencial. Fizemos, quando abriu a consulta pública da gestão da bacia hidrográfica do Tejo e do Oeste, um documento específico a pedir um plano específico de gestão para o Almansor. Dissemos que os planos gerais eram manifestamente insuficientes porque o rio estava num estado ainda mais degradado”, acrescenta Guilherme Serôdio, segundo o qual “a coisa bonita da água é que não é só limpar um rio, é também limpar ribeiras, é também repensar as zonas ribeirinhas, os ecossistemas, as indústrias aqui à volta, a pressão sobre o todo que um rio conecta”.
Em conjunto com a Câmara, a associação está a “desenhar percursos pedonais pelo rio”, com o objetivo de “reaproximar as pessoas ao Almansor e começar a reabilitar este rio incrível, porque, na verdade, se ele estiver limpo, Montemor tem cinco ou seis praias fluviais a pé do Santuário, dentro da cidade, o que é um luxo imenso”.
O presidente da associação diz que “nas histórias que fomos conseguindo recolher há uma grande nostalgia do rio, mas é de pessoas com mais de 30 anos, que foram as últimas a nadar” no Almansor. “O mote da Amora é que queremos voltar a nadar no rio, mas há toda uma geração que nunca foi ao rio porque é sujo, porque está abandonado e portanto não há essa ligação”.
Em entrevista ao Brados do Alentejo, o presidente da Câmara de Montemor-o-Novo, Olímpio Galvão, refere que a despoluição do rio é uma prioridade para o município. “Temos o rio Almansor, que é o nosso rio há muito tempo abandonado e a cidade tem estado de costas viradas para ele já há muitos anos”, lamenta o autarca, revelando a intenção do município em avançar com iniciativas para a limpeza das margens, desassoriamento do rio e criação de caminhos pedestres, “alguns dos quais com passadiços, para que se possa fruir do rio Almansor no seu leito e para que isso seja motivo de fruição para quem anos visita”.
Segundo o autarca, está também a ser desenvolvido com as Universidades de Évora e de Lisboa um projeto para “estudo de formações geológicas que existem no território e que poderão ser um fator de atração” turística ao concelho.
Guilherme Serôdio defende igualmente o “desenho” de percursos pedonais ao longo das margens do rio, como forma de potenciar a atratividade turística, embora considere essencial a execução de uma nova Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) para promover a despoluição daquele curso de água. “Estamos a mapear as fontes de poluição, começar a resolver as situações mais complicadas. Há uma muito grande fonte poluidora que corresponde aos esgotos da cidade”, acrescenta o presidente da AMORA, lamentando que s linhas de águas tenham sido tratado “como sendo esgotos.
“Historicamente, porque não havia muita pressão, eram poucas pessoas, o rio levava tudo, não havia esta industrialização agressiva. Aqui temos um grande problema com as suiniculturas, que têm uma grande pressão sobre o ecossistema e o biótipo do rio”, conclui Guilherme Serôdio.
REGENERAR O RIO
O objetivo da AMORA é regenerar o rio local, “para que o seu povo possa voltar a nadar nele”. Na sua página de Internet, a associação recorda que há 30 anos as pessoas “nadavam e pescavam” no rio e as crianças podiam brincar perto da água e da natureza. “Hoje em dia, a cor do rio é preta, o seu cheiro desagradável, os peixes desapareceram e a qualidade da água é constantemente classificada como de má qualidade”. Segundo a associação, no ano passado, “um sistema de esgotos rebentou” na cidade de Montemor-o-Novo. “Confrontada com mais uma devastação do rio, a comunidade local começou a organizar e a pressionar ativamente para que o rio fosse limpo – atuando tanto a partir de abordagens práticas como políticas.
Cerca de 40 pessoas, das quais muitas vivem nas margens, reuniram-se para começar a estabelecer novas formas de gestão coletiva de terras através de uma democracia deliberativa e horizontal. Eles acreditam que só através de práticas regenerativas sociais e ecológicas será possível regenerar o rio e tudo o que ele representa”, refere.
Limpar e regenerar o rio e angariar fundos para regenerar cursos de água em toda a bacia, assegurando o acesso a ferramentas coletivas, a um viveiro de árvores e a uma biblioteca temática, são alguns dos objetivos da associação, que pretende ainda “pressionar os políticos locais para fazer desta questão uma prioridade” e “partilhar amplamente práticas, estratégias e documentos que ajudam e inspiram outros movimentos fluviais de proteção dos cidadãos por todo o país”.