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Milhares de pessoas no adeus ao “senhor Rui Nabeiro”

Francisco Alvarenga texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Mais de cinco mil pessoas assistiram em Campo Maior ao funeral do comendador Rui Nabeiro, falecido no passado domingo. Entre elas estava o Presidente da República, segundo o qual o exemplo do empresário é uma “inspiração” para a sociedade.

Durante dois dias a vila de Campo Maior acordou sem o habitual cheiro a café oriundo da torrefação da Delta. A empresa parou durante dois dias, facto inédito. Primeiro centenas, depois milhares de pessoas, fizeram fila junto à Matriz da vila para se despedirem de Rui Nabeiro, o empresário de 91 anos, fundador da Delta, falecido no passado domingo, dia 19, vítima de infeção respiratória. Ouviram-se aplausos, muitos aplausos, à passagem do cortejo fúnebre.

“Só posso sentir orgulho e responsabilidade em ser neto do melhor avô que alguma vez existiu, no percurso que fez, na pessoa que foi, naquilo que criou”, referiu o neto Rui Miguel Nabeiro, referindo-se ao avô como “o ser humano com maior coração que alguma vez conheci, tinha o sorriso mais feliz que alguma vez vi e as palavras mais acertadas que se podia ter em cada ocasião”.

Foram estreitas as ruas da vila para receber quem quis acompanhar para o funeral do empresário, realizado na passada terça-feira, dia 21. Entre elas as mais altas figuras do Estado, como o primeiro-ministro e o Presidente da República.

“Num tempo económica e socialmente desafiante, o exemplo de Rui Nabeiro, na sua preocupação social e participação cívica, com a comunidade e com o país, devem ser um exemplo e uma inspiração para todos quantos podem devolver à sociedade um pouco daquilo que esta lhes deu”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa, definindo o empresário como “um precursor” que “construiu uma marca global, como há poucas no nosso país, mantendo sempre a sede e o coração da sua atividade em Campo Maior, terra onde nasceu e onde deixa um generoso legado”.

Jacinta Trindade, 73 anos, testemunha esse legado “O senhor Rui dava trabalho a pais, filhos e netos. Os meus sobrinhos, logo que tiraram os seus cursos, arranjaram trabalho na Delta”. É também nesta empresa que trabalha o filho de Maria Pereira, 78 anos, seguindo as pisadas do pai. “Vamos sentir a falta do senhor Rui. Mesmo depois de rico era uma pessoa que falava com todos, estamos muito tristes”. Certa vez, lembra, o marido deixou de receber salário na empresa onde trabalhava. “Dirigiu-se ao senhor Rui e ele deu-lhe trabalho. Foi lá a casa e foi logo atendido. O mesmo aconteceu quando fiquei doente. Nunca me recusou ajuda”.

Oriundo de uma família humilde, Rui Manuel Azinhais Nabeiro nasceu em Campo Maior a 28 de março de 1931. Aos 12 anos, “numa altura em que o contrabando era atividade que matava a fome das gentes da raia”, começa a trabalhar com o pai e com os tios na torra do café. Cinco anos depois, após a morte do pai, assume os destinos de uma pequena sociedade familiar, a Torrefação Camelo. A Delta Cafés surgirá em 1961 num pequeno armazém de 50 metros quadrados. Começa com o negócio com a torra de 30 cafés por dia. Hoje é grupo empresarial que emprega 3800 funcionários e que opera na produção de café, distribuição alimentares e de bebidas, mas também na área do imobiliário e do turismo.

“A grandeza do seu projeto empresarial, é incomum e ímpar”, disse o presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), classificando Rui Nabeiro como uma das “maiores referências empresariais do país de todos os tempos”. José Eduardo Carvalho acrescenta que o percurso do empresário de Campo Maior “deveria ser objeto de uma análise e divulgação obrigatória no sistema formal de ensino, se porventura este tivesse uma forte componente empreendedora”, tanto mais que o grupo “nasceu no interior do país, demonstrando que o sucesso dos grandes projetos empresariais, não está condicionado pela sua localização geográfica”.

Para o município de Campo Maior, que decretou cinco dias de luto municipal, Rui Nabeiro foi, acima de tudo, “um homem que dedicou a sua vida a Campo Maior e aos campomaiorenses, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento económico, social, cultural e humano do concelho”. Lembrando que o empresário foi também presidente de Câmara, entre 1977 e 1986, a autarquia considera que Rui Nabeiro inspirou milhões de portugueses ao longo de várias décadas e o seu legado de dedicação ao trabalho, consciência social e, acima de tudo, humanismo, continuará a perdurar no tempo e a servir de guia para as gerações vindouras, de forma muito especial entre os campomaiorenses”.

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