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“Melhor ano turístico de sempre traz mais responsabilidades”

O turismo no Alentejo cresceu, em 2023, cerca de 10% comparativamente com o ano anterior. Foi, aliás, o melhor ano de sempre, com mais de 260 milhões de euros em receitas de alojamento. Em entrevista, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, José Santos, diz que estes resultados trazem “maiores responsabilidades” para gerar “um modelo de desenvolvimento que crie mais riqueza e se traduza em melhores condições de vida”. Ana Luísa Delgado (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

O ano de 2023 fechou com o melhor resultado de sempre do turismo no Alentejo. Como analisa os dados agora conhecidos?

Eu realçaria, por um lado, o facto da região ter sido o destino turístico do país que mais cresceu nas dormidas de portugueses, com um crescimento de 7,8%. A média de crescimento no mercado nacional foi de 2,1%, o que significa que o Alentejo está a ganhar cota de mercado em relação a outros destinos. Isso é bom, porque tem muito a ver com a nossa estratégia de desenvolver e consolidar esta relação cada vez mais próxima entre os portugueses e o Alentejo. Relativamente ao mercado nacional, os resultados são globalmente melhores. O Alentejo teve 3,3 milhões de dormidas, portanto é um novo recorde, e é um valor muito significativo à nossa escala. Em 2022 a região tinha tido pouco mais do que três milhões de dormidas. Outro dado importante é que conseguimos recuperar do número de hóspedes estrangeiros para níveis de pré-pandemia, superando os resultados de 2019.

E a nível de proveitos?

Tivemos também um resultado muito significativo, com um crescimento de 16% relativamente a 2022 e de quase 50% comparativamente com 2019. A nossa tarifa média por quarto também subiu, o Alentejo é o terceiro destino do país com valores mais elevados. Isso significa também que a região está a conseguir vender a um preço mais alto para mercados mais exigentes, e isso também qualifica muito o nosso destino. Claro que cria desafios de resposta, também a nível de alojamento e de animação, é uma procura mais exigente, enfim, não podemos ficar a dormir sobre os resultados.

Sendo que a procura é essen- cialmente centrada em Évora e no litoral, como é que se poderá ser mais abrangente a todo o territó- rio do Alentejo?

Há de facto uma concentração significativa das dormidas em poucos concelhos, sendo que Évora, Grândola e Odemira são os três concelhos com mais dormidas, representando praticamente metade do valor total. É necessário um esforço para alargarmos a visitação a todo o território, mas isso só se faz se conseguirmos que se crie mais oferta turística no interior nomeadamente no Baixo e no Alto Alentejo. O índice de internacionalização também ainda é baixo, cerca de 33%. Só há uma forma para conseguirmos atingir esse objetivo, é criarmos condições para que possa existir mais oferta turística nas outras zonas da região. Temos aliás algumas iniciativas que vão nesse sentido.

Que iniciativas?

Especialmente os roteiros de investimento do turismo no Alentejo, em que vamos procurar apoiar as câmaras municipais no sentido de as ajudar a atrair investimento hoteleiro, precisamente nos concelhos em que há mais dificuldades em criar oferta turística. Temos também algum trabalho em curso para alargar as nossas redes de produto às zonas da região que têm menos procura turística. Devo, no entanto, salientar que o turismo também cresceu no Alto Alentejo e no Baixo Alentejo. Esta é uma situação de partida que é diferente nos vários sub-territórios e é um propósito nosso garantir que esse processo se torne mais harmonioso e mais equilibrado.

Que tipo de roteiros vão ser desenvolvidos?

Há vários territórios da nossa região em que os respetivos municípios já fizeram muito investimento, melhoraram o espaço público, criaram infraestruturas desportivas e de apoio à juventude, criaram equipamentos culturais, têm bons planos, têm bons arranjos paisagísticos, têm uma boa qualidade em termos ambientais, mas não conseguem instalar lá um hotel ou um bom restaurante. Para conseguimos atrair mais turis- tas precisamos de criar condições para atrair investimento e fazer com que nesses locais se possam instalar hotéis. Posso dar o exemplo de Monforte, que é hoje um concelho completamente diferente do que era antes de 2013, ano em que abriu o hotel Torre de Palma. De facto, os hotéis têm uma capacidade grande de fazer mudanças e de recompor muito daquilo que é a economia e o tecido económico e social das regiões e das localidades.

Quais os concelhos prioritários?

Vamos trabalhar este ano em cinco concelhos, para o ano trabalharemos em outros cinco, em que a partir de oportunidades que os municípios têm identificadas, nomeadamente ao nível dos imóveis, sejam eles de património público ou privado, vamos procurar suscitar o interesse de investidores, fazendo o encontro entre a oferta e a procura. Trata-se de cativar investidores, fazer sessões de apresentação dessa localidade, desse destino, apresentar as características dos imóveis disponíveis, fazer uma intermediação entre câmaras e investidores, dando um aporte técnico muito especializado. Não lhe digo ainda quais serão os cinco concelhos, dois serão no Ribatejo e três no Alentejo, mas [as opções] têm de ser ainda debatidas e decididas pela comissão executiva da Entidade Regional de Turismo. A nossa expectativa é, até final de março, estarmos com este projeto no terreno.

Atrair investimento é a prioridade.

O objetivo é precisamente atrair investimento porque é muito fácil fazê-lo para Estremoz, para Évora ou para a Comporta e mesmo para Beja, onde irá abrir um novo hotel em junho. Já temos grupos hoteleiros com mais de 100 vagas para unidades turísticas que vão abrir em determinadas cidades do Alentejo, nomeadamente em Beja e em Évora, nos próximos seis meses. Há uma dinâmica de crescimento hoteleiro, mas há depois alguns territórios que ficam marginalizados desse processo. É para algumas dessas vilas e cidades que vamos tentar dirigir o nosso esforço para tentar que aí se instalem mais hotéis, mais turismos rurais, mais camas, e tentar tanto quanto possível equilibrar melhor e harmonizar melhor o processo de procura de turismo no território.

E em termos de receitas?

É muito extraordinário o Alentejo ter tido mais de 260 milhões de euros em receitas de alojamento, mas temos que trabalhar para que esses proveitos sejam melhor incorporados naquilo que é o tecido económico e social do território, para que se possam traduzir em criação de mais riqueza, de mais emprego, de mais oportunidades de mobilidade social nas pessoas que trabalham e que estão nas regiões. É ótimo ter estes valores de proveitos, mas é importante também garantir que o nosso modelo de desenvolvimento turístico incorpore cada vez mais estas receitas e que estas receitas fiquem retidas no território, pois isso possibilita a melhoria da qualidade de vida das pessoas que aqui moram ou das pessoas que decidiram vir trabalhar para o Alentejo. Esse é um propósito muito importante e que nunca o devemos esquecer.

Quer dizer que essas receitas muitas vezes não ficam retidas no território?

Quer dizer que tem de haver uma tradução mais evidente e mais direta entre aquilo que são os proveitos das unidades hoteleiras e aquilo que é uma melhoria dos índices de qualidade de vida e de poder de compra das populações. O turismo no Alentejo é ainda uma atividade que está em franco crescimento, em franca consolidação, não é ainda obviamente a atividade económica mais pujante do território, mas é uma atividade que cria cada vez mais emprego. Há muito investimento no turismo do Alentejo porque o turismo está no radar dos investidores. Temos procurado sensibilizar os investidores para modelos de desenvolvimento que trabalhem mais com as comunidades, que possam rentabilizar e aproveitar melhor aquilo que são as produções locais, que se consiga articular melhor o turismo com a agricultura, e que também os hotéis possam pagar melhor aos seus trabalhadores, que as câmaras municipais consigam criar soluções de mobilidade para que muitos trabalhadores não percam a oportunidade de trabalho nos hotéis. Há aqui um ecossistema exigente e dinâmico. Este melhor ano turístico de sempre, em termos quantitativos, e qualitativos, traz-nos maiores responsabilidades em direcionarmos a nossa ação para um modelo de desenvolvimento do destino que crie mais riqueza e que se traduza em melhores condições de vida e numa criação de mais rendimento para as pessoas que estão no território e que trabalham no setor do turismo.

Que é também um setor muito baseado em microempresas e empresas familiares?

Está a mudar. Claro que tem muitas micro e pequenas empresas, aliás esse é o tecido empresarial do país, e não só no turismo, mas começamos a assistir a uma certa mudança de paradigma em que para além de hotelaria independente, de hotéis que não fazem parte de grandes grupos hoteleiros, muitos deles com muita qualidade, começamos a ter alguns investimentos estrangeiros mais significativos, especialmente em Évora e no litoral. Isso é muito importante porque essas cadeias hoteleiras e esses grandes grupos trazem muita inovação na hospitalidade, inovação na restauração, novos conceitos de hotelaria, mais cosmopolitas, outras técnicas de relação com o cliente. São grupos hoteleiros que vão trazer inovação ao negócio e isso é muito bom porque também acaba por ter algum efeito de contaminação para o restante tecido empresarial. O destino está a crescer, está a amadurecer, está a consolidar-se e o importante é que isso se faça sempre com grande respeito pelas condições de preservação ambiental e com um modelo de desenvolvimento que esteja de acordo com aquilo que é a nossa visão de proposta de valor para o turismo no Alentejo, que é autenticidade e qualidade

Quem é que procura mais a região?

O último estudo que fizemos sobre o perfil do visitante é de 2011. Esperamos este ano atualizá-lo, te- mos isso previsto numa candidatura que apresentámos ao Turismo Portugal. Esperamos com o nosso Observatório do Turismo Sustentável atualizar o estudo do perfil do visitante. Posso dar-lhe algumas constatações que temos, mas daqui a um ano já poderemos dar informação com um grau de cientificidade superior. Aquilo que sabemos, por todo o contato que temos com os operadores, é que o Alentejo é um destino muito de famílias em termos de mercado nacional, com um segmento etário dos 35 aos 50 anos. A localização da região próxima da Área Metropolitana de Lisboa faz do Alentejo um destino de muita proximidade. A nível do mercado nacional desejamos, a prazo, que a região possa cada vez mais ser atraída por um público mais jovem. O segmento internacional é muito diverso, aí estamos a falar em famílias, também em casais sem filhos, muitos seniores… especialmente em época baixa há muitos programas com hotéis que mobilizam o público mais sénior. No mercado internacional há um conjunto de motivações e de segmentos de mercado mais diversos.

Com origem em que países?

O primeiro mercado é o espanhol. Aliás, o ano passado o mercado espanhol ultrapassou as 200 mil dormidas e é de facto um resultado muito interessante. O mercado norte-americano, que é já o segundo da região, estava há menos de 10 anos muito focado no produto de pousadas e essencialmente em Évora, hoje está mais disseminado pela região. O terceiro é o mercado alemão e depois temos o francês e o brasileiro, sendo que este ainda não recuperou dos níveis pré-pandemia, situação que se reflete em todo o país. Note que o mercado norte-americano está agora muito concentrado na zona da Comporta e em Évora, mas que começa a chegar a outras zonas à medida que vão aparecendo novos conceitos e estabelecimentos de maior qualidade. São mercados mais exigentes e que procuram hotéis com uma categoria superior. Em 2023 tivemos cerca de 550 mil hóspedes estrangeiros, há uma margem muito significativa para a região crescer, para se internacionalizar mais, é muito importante que isso aconteça.

Porquê?

Quase que por definição, o turismo é uma atividade exportadora. A nossa economia tem de ter sempre uma base importante no consumo privado dos portugueses, como sucede no comércio, orgulhamo-nos muito disso, há uma relação muito próxima entre as famílias portuguesas e o Alentejo, queremos continuar a desenvolver esse conceito, mas obviamente queremos que o turismo seja também uma atividade mais exportadora na região, que possa receber mais turistas estrangeiros, menos sujeitos à sazonalidade. Com a internacionalização podemos explorar mais mercados, mais motivações e ter mais turistas durante mais alturas do ano.

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