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Maximino Serra: “A minha expulsão desprestigia o PS” (vídeo)

Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo fotografia e vídeo

Tem casa em Estremoz, onde viveu durante vários anos e onde regressa com frequência. Para ver os amigos e matar saudades. Maximino Serra, 87 anos, participou no assalto ao Quartel de Beja, e ingressou no PS em maio de 1974. Tornou-se agora notícia, quando foi conhecida a sua expulsão do partido.

Não é preciso muito. Bastam cinco minutos de conversa para se perceber que, aos 87 anos, Maximino Serra continua animado pelo sentido de missão revolucionário que o acompanha há 70 anos. Ou seja, desde o início da década de 50 do século passado. Para o caso de haver qualquer distração, é o próprio que marca o território: “Tenho a cultura da revolta, de modo que quando me pisam… só se não puder”. E, desta vez, sente-se injustiçado de uma forma ainda mais profunda, ao ter sido expulso do Partido Socialista, no qual milita desde a fundação e do qual foi funcionário.

“Nunca me passou pela cabeça que tomassem uma atitude destas. É uma decisão desprestigiante para o PS, mas também para mim, sou da fundação do partido, não esperava nunca uma situação destas”, desabafa, quando iniciamos a entrevista numa praia entre a Nazaré e São Martinho do Porto, onde reside. Em próximo artigo haveremos de falar sobre a sua ligação a Estremoz, onde ainda tem casa, e sobre algumas das suas ações mais espetaculares contra o regime fascista de Salazar, de que o assalto ao Quartel de Beja constitui bom exemplo.

Por agora, a carta que lhe chegou, enviada pela Comissão Nacional de Jurisdição do PS, a informá-lo de que tinha sido expulso do partido. Sem mais. O caso é que Maximino Serra, e um grupo de militantes socialistas, também eles expulsos, decidiram nas últimas eleições autárquicas integrar a lista do Nós Cidadãos à Câmara de Alcobaça. No seu caso, foi o último suplente. O Nós Cidadãos não foi além dos 4,4% dos votos, o PS perdeu por muitos para o PSD (uma diferença de 13%), mas a decisão de expulsão surgiu sem sequer a existência de um aviso prévio.

“Ninguém me disse nada, não tive qualquer comunicação. Nunca pensei que fossem capazes de me expulsar sem sequer me ouvir. Ninguém me ouviu. Penso que tudo isto foi feito a partir da distrital de Leiria, cujo presidente não me conhece, nem quer conhecer, e decidiu expulsar-me convencido que cairia nas boas graças da direção nacional. Isto não se faz. Tinham a obrigação de um mínimo de consideração, de me chamarem e de me ouvirem sobre o que passou”, acrescenta.

Enquanto a direção socialista fez saber que o que está em causa é a “aplicação dos estatutos” e que foi dada ao visado “a hipótese de se pronunciar”, Manuel Alegre, em declarações ao Público, veio classificar a atitude como um “absurdo burocrático que atenta contra a memória da resistência e do próprio PS”. 

Maximino Serra não podia estar mais de acordo: “Hoje, como não precisam de nós, como não precisam dos antifascistas, estão a pôr-nos na rua. A maioria desta gente que compõe o PS… uns são por amiguismo, outros são putos novos que nem sequer sabem o que foi o 25 de Abril, quanto mais o que foi o antes do 25 de Abril. São indivíduos que nada têm de militância socialista, mas de tachista ou de arrivista”.

Para fechar o tema, resta explicar o motivo da discórdia. O que se faz em poucas palavras. Este grupo de militantes não concordou com as listas do PS no concelho – “fizeram o que bem entenderam e eu decidi que não entrava numa lista com gente dessa” – e optou pelo Nós Cidadãos, considerando tratar-se de uma “plataforma eleitoral”. E fica o recado: “Pretendem apagar a memória, não querem saber disso para nada. Mas se a decisão for revertida, só regresso se todos os militantes que integraram a lista forem também reintegrados”.

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