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Luthier Cardoso: “Cada instrumento é uma peça única”

Quis o destino que o transmontano José António Cardoso viesse a assentar arraiais em Beja, na Trindade, aqui permanecendo mesmo depois de ter terminado a sua carreira militar no Regimento de Infantaria 3. “Quando me aposentei tinha 50 anos e entendi não ficar sentado no sofá à espera da morte”. Vai daí, começou a “matutar” num ofício que lhe haveria de ocupar o tempo e preencher a alma.

“O meu filho, que é apaixonado pela música, procurava um bom instrumento musical, uma guitarra clássica. Como não tinha dinheiro para a comprar, decidimos ser nós a fazê-la. Levou um ano a construir, mas o resultado foi tão bom que nunca mais parámos”, lembra José António Cardoso. Esse primeiro instrumento foi fabricado em 2008. De então para cá, já perderam a conta à quantidade de instrumentos saídos da oficina, chamada Luthier Cardoso, entre guitarras clássicas e acústicas, cavaquinhos e campaniças, entre outros.

“Cada instrumento é uma peça única. Todos eles têm uma singularidade própria que tem a ver com o músico que aqui vem e que escolhe as madeiras, os afinadores… são peças artesanais, com pormenores que as diferencias das existentes no mercado”, refere.

Para as construir, José António Cardoso recorre a um “método bastante antigo, que remonta pelo menos ao século XVIII”, e que foi desenvolvimento pelo espanhol António Torres, um marceneiro que acabou por se dedicar à construção de instrumentos musicais. “Outros construtores recorrem a moldes, eu utilizo uma plataforma de montagem, um sistema muito eficaz e versátil que permite fazer a maioria dos instrumentos de grandes dimensões”.

Normalmente começa pelo braço do instrumento, depois passa ao tampo e às ilhargas, em seguidas as costas da futura guitarra ou da campaniça e, por fim, os acabamentos. Nenhum pormenor é deixado ao acaso. “Cada indivíduo tem um determinado tamanho de mão, medido entre o polegar e o mínimo. Essa medida é muito importante para que o braço do instrumento, juntamente com a escala, se torne agradável para tocar. Isso faz toda a diferença”, conta.

Segundo José António Cardoso, para ser um bom construtor de instrumentos musicais é necessária paciência e sabedoria, a que junta algum jeito e “sensibilidade pelas coisas belas”. Explica: “Uma guitarra, antes de ser uma guitarra, ou um cavaquinho, antes de ser um cavaquinho, são peças de arte, quando feitas por um construtor”.

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