Luís Godinho, jornalista | Opinião

Talvez os mais velhos se lembrem, os mais novos duvido, daquela moda popularizada por João Gilberto, guitarra e violão, chamada “O Pato”. Tocou-a em 1959, no sítio do Poço Fundo, uma casa que Tom Jobim tinha em São José do Vale do Rio Preto, região serrana do Rio de Janeiro, onde, diga-se de passagem, também nasceram as “Águas de Março”, um espanto na voz de Elis Regina. 

Conta-se que nesse ano de 1959, Tom Jobim e João Gilberto passaram por ali uma valente semanada, a compor, fazer arranjos e sabe-se lá que mais, quando João Gilberto tocou “O Pato”, uma canção escrita uns bons 10 anos antes. “Era uma relíquia do repertório dos Garotos da Lua desde 1948”, esclarece Ruy Castro no livro “Chega de Saudade”. 

Vai daí, imaginamos a cena: João Gilberto chega, agarra na viola e lá vai música: “O pato vinha cantando alegremente, quá, quá…”. Haverá lá música melhor do que esta para embalar o samba de ministro ou secretário de Estado que entra, “cantando alegremente”, a ministro ou secretário de Estado que sai, ao ritmo de mais um “quá, quá”? Duvido. 

Na canção há também um marreco sorridente que pede para entrar no samba, um ganso que gosta da dupla e um cisne para completar o quarteto. Não está mal. Sucede que no final da moda todos caiem à água, ensaiando o vocal “quá, quá…”. 

É para esse final que trabalha o laboratório de casos e casinhos da direita que vê no PS todos os males do regime e a quem não interessa um PSD forte, pois sem o PSD não consegue chegar ao poder e com um PSD forte não vale de nada. E, não, não estou a falar do Chega. Antes de uma direita radical que já viu livre do CDS, controla boa parte da dita “bolha mediática”, tenta condicionar o Presidente da República e está a conseguir paralisar o Governo. Não o enfrentar é pactuar com a degradação das instituições democráticas. “Quá, quá”.