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Luís Godinho (opinião): O desastre da senhora Antunes

Luís Godinho, jornalista | Opinião

Tenho para mim o óbvio, isto é, que um político faz [ou deve fazer] política. Pelo que um ministro, qualquer que ele seja, sendo político, poderá não ser propriamente um especialista na área que tutela (não que isso não ajude), mas deverá fazer aquilo para que é nomeado ou eleito. Ou seja, deve fazer política, no sentido clássico de tomar decisões para promover o bem comum, para bem gerir a ‘pólis’. Vista deste prisma, faltam palavras para definir a atuação de Maria do Céu Antunes à frente do Ministério da Agricultura. Dizer que tem sido medíocre pecará por defeito.

Há uma frase atribuída a Aristóteles, que diz que o objeto principal da política “é criar a amizade entre membros da cidade”. Podendo este conceito parecer estranho, num tempo tão bizarro como o que vivemos, em que o extremismo de direita volta a infetar o coração da democracia, não deixa de ser curioso que o o resultado da atuação da ministra da Agricultura tenha sido precisamente o oposto do idealizado por Aristóteles, tendo-se esforçado por conseguir, não diria a antipatia, talvez mesmo a inimizade daqueles que ela era suposto defender e representar, os agricultores.

Nunca se tendo percebido o que terá levado António Costa a tomar esta opção, esperava-se que Maria do Céu Antunes fizesse o óbvio: ouvisse quem percebe “da poda”, dialogasse com os agricultores e com as suas estruturas representativas, tomasse decisões e explicasse o que decidia e porque decidia daquela forma. Ou seja, que fizesse política.

Da minha parte até dispensava que tivesse uma visão de médio prazo para o setor, assente nos pilares da política europeia ou, mais ainda, nas exigências ambientais e de cidadania dos tempos correntes, com preocupações de sustentabilidade económica das explorações agrícolas, em particular dos pequenos e médios agricultores. Sem agricultores não há mundo rural, nem tão pouco defesa do meio ambiente. Dispensava essa visão não apenas por estar absolutamente convencido que Maria do Céu Antunes não a tem, mais com receio do que dali pudesse sair.

Se a ministra se limitasse a fazer política já não seria mau, de preferência com o menor estrago possível. O resultado esteve à vista, com milhares de agricultores em protesto, a fecharem estradas e fronteiras. Um protesto que só não tomou maiores dimensões dado que o presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura, Pedro do Carmo, conseguiu manter abertos canais de diálogo entre as Confederações do setor e o Governo. Depois, lá veio à pressa o anúncio de 500 milhões de apoio. Que, afinal, serão 320, uns já previstos (de apoio à seca), outros dependentes de autorização de Bruxelas e a baixa de impostos no gasóleo verde, que, afinal, subiu de preço. Ou muito me engano, ou o caso não ficará por aqui.

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