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Luis Godinho: “Domingo vamos a votos” (opinião)

Luís Godinho, jornalista | Opinião

Bem sei que a campanha não está a ser edificante, muito menos esclarecedora, que os debates chegaram a roçar o abjeto, com um nível de discussão que faria envergonhar as peixeiras de qualquer mercado, que tudo isto também se explica pelo discurso populista que tudo contamina e arrasta.

Bem sei que a descrença para com os partidos e as instituições é elevada e um retrato do “país político” esta semana divulgado pela Pordata, com base em dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia aí está para o comprovar: oito em cada 10 inquiridos em Portugal tendem a não confiar nos partidos políticos, 62% dos cidadãos deste país dizem não confiar na Assembleia da República. Saber-se que é também assim na generalidade dos países da União Europeia contextualiza o problema, mas não o apaga.

Bem sei que há motivos de insatisfação para com o funcionamento dos serviços públicos, da falta de médicos aos tempos de espera nos hospitais, do professor que continua a faltar em muitas escolas à degradação do resultados educativos, da justiça que é cara e lenta e que trocou as salas de audiência pelos tablóides, do preço proibitivo das habitações, do emprego que não existe e que quando existe é quase sempre precário e mal remunerado, dos salários mínimos que continuam baixos, dos médios que chegam cada vez para menos, das desigualdades que se acentuam.

Bem sei que para muitos jovens votar é uma espécie de bizarria, que a abstenção é uma porta escancarada aos muitos milhares de cidadãos que trocaram o interior pelas grandes cidades, mantendo-se recenseados na “terra” a que voltam cada vez mais espaçadamente, e que o estudo “Portugal, Balanço Social”, publicado pela Nova SBE, é clarinho ao dizer que 56% dos portugueses com rendimentos mais baixos dizem estar “nada interessados” na política. Tema que, por outro lado, não por acaso, até “interessa” ou “interessa muito” a uma percentagem idêntica (56%) dos mais ricos, daqui resultando uma “desigualdade” na participação política que, sintetizam os autores do estudo, “compromete a qualidade da democracia na medida em que reduz a representatividade” das famílias mais pobres.

Razões para o protesto, para a desconfiança, para o alheamento podem ser tantas como as que quisermos elencar, serão estas e muitas outras. A verdade é que nada disso verdadeiramente interessa se nos alhearmos das eleições. É para resolver problemas, encontrar soluções, tomar opções que todos seremos chamados a votar no próximo domingo. Trata-se de celebrar as conquistas de Abril, combater os populismos fundados na intolerância, no ódio e no medo, fazer escolhas sobre o nosso futuro coletivo, sobre o que queremos desta democracia que, embora imperfeita, continua a ser o melhor de todos os sistemas. Vá votar. Por si e por todos.

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