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Calor. Lembra-se dos 47,3ºC na Amareleja? Foi há 20 anos

A 1 de agosto de 2003 registava-se, na Amareleja, um máximo de temperatura em Portugal: 47,3ºC. Passados 20 anos, essa continua a ser a temperatura mais elevada registada pelo Instituto Português da Meteorologia e do Mar (IPMA).

Por essa altura, lembra Vanda Cabrinha, do IPMA, em artigo publicado na “National Geographic”, Portugal estava a viver uma onde de calor particularmente significativa quanto à sua intensidade e duração, expondo o país a “esteve exposto a “temperaturas do ar (máxima e mínima) muito superiores às habituais para a época” ao longo de “duas semanas de tempo excepcionalmente quente, com impacto na mortalidade da população”.

Os distritos de Évora e de Beja estiveram mais de 16 dias com temperaturas máximas acima dos 32ºC e com mais de quatro dias acima dos 40ºC. Nalguns casos, como Amareleja, estiveram mesmo muito acima, alcançando os tais 47,3ºC, “que ainda hoje se mantém como sendo o valor mais alto alguma vez registado em Portugal”.

Ainda segundo Vanda Cabrinha, também “na temperatura mínima do ar foram igualados ou ultrapassados os maiores valores da temperatura mínima do ar diária para o mês de agosto”, sendo que neste mesmo dia, 1 de agosto de 2003, Portalegre registava uma mínima de 30,7ºC, à época a mais elevada de sempre em Portugal.

A realidade então vivida poderá repetir-se, e até vir a ampliar-se no futuro próximo, de acordo com as projeções e cenários climáticos feitas no âmbito da Estratégia Regional de Adaptação às Alterações Climáticas no Alentejo, recentemente apresentada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo.

O estudo perspetiva que a duração média das ondas de calor poderá chegar aos 50 ou 60 dias, em vez dos atuais seis ou sete. “Para todos os períodos e cenários futuros, as projeções são unânimes: um aumento generalizado do número de ondas de calor, culminando em até 10 a 11 ondas de calor por ano”, na pior perspetiva.

“Também a duração máxima das ondas de calor está sujeita a uma projeção de aumento no futuro. Até 2100, as ondas de calor poderão durar até 50-60 dias, considerando o [pior] cenário. Para os restantes cenários e períodos, porém, a duração máxima não excede os 40 dias”, acrescenta o estudo.

Também o número de noites tropicais, isto é, em que a temperatura mínima diária é superior a 20ºC, irá aumentar, projetando-se para o cenário mais gravoso mais de 100 dias por ano, ou seja, cinco vezes o número atual.

A mesma perspetiva foi traçada pelo Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (PIAAC) do Alentejo Central: temperaturas mais elevadas, ondas de calor mais frequentes e mais prolongadas, diminuição de precipitação que pode chegar aos 18%.

Os autores do estudo lembram que os períodos extremos de calor “estão associados ao aumento da mortalidade devido a problemas respiratórios e cardíacos”, sobretudo quando ocorrem no início do Verão, sendo que, regra geral, “os picos de mortalidade apenas se fazem sentir entre um a três dias depois do pico de calor”. Em 2003, por exemplo, mais de duas mil mortes, 85 das quais no Alentejo, foram atribuídas “à vaga de calor” que se registou por toda a Europa. E que fez da Amareleja a terra mais quente de Portugal.

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