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“Juromenha é uma âncora de desenvolvimento”

Ana Luísa Delgado (texto e fotografia)

Restauro da Fortaleza concluído até final do ano. Unidade hoteleira será construída no interior das muralhas.

João Grilo, o presidente da Câmara de Alandroal, refere-se-lhe como uma “jóia” do património arquitetónico português, com um “valor incalculável” para a região e para o país. Abandonada durante décadas, Juromenha foi sendo notícia pelos sucessivos desabamentos de troços de muralha. As obras de restauro, que estarão concluídas até final do ano, vão deixá-la “como nova”.

Do alto da Fortaleza de Juromenha pode-se testemunhar a evolução histórica de Portugal, através da cerca islâmica, da medieval e do perímetro abaluartado exterior seiscentista, que tornam este monumento um dos poucos do país a conservar esta convivência no mesmo espaço de três épocas – e civilizações – diferentes. A intervenção em curso, envolvendo um investimento superior a cinco milhões de euros, deveria estar concluída no mês de outubro, mas “decisões difíceis em matéria de reabilitação” obrigaram a prolongar os trabalhos.

“Apesar de ter sido feito um estudo prévio aprofundado sobre o estado de conservação da muralha, chegados à fase de obra concluiu-se que alguns troços apresentavam uma degradação mais extensa, mais profunda, para a qual foi necessário encontrar respostas”, diz o autarca, lembrando que esta intervenção de restauro e conservação abrangeu os três níveis de muralha em todo o perímetro da Fortaleza. No troço “muito significativo” construído durante o domínio islâmico, por exemplo, a intervenção envolveu o recurso a técnicos antigas para fabrico de taipa.

“O Alentejo”, sublinha João Grilo, “tem várias joias patrimoniais, mas Juromenha tem uma identidade própria. Acredito que temos tudo para fazer o mesmo percurso de outros locais do Alentejo, alguns deles já classificados como Património da Humanidade pela Unesco”.

Só a realização das obras “fez aumentar o aumentar de muita gente em conhecer e investir em Juromenha”, assegura o autarca, esperançado em que esse “movimento” se venha a traduzir na fixação de pessoas no território. Tanto mais que, concluídas as obras de restauro, a ideia é encontrar investidores privados, no âmbito do Programa Revive, interessados em construir e explorar uma unidade hoteleira de “topo”, com cerca de 70 quartos.

“A Fortaleza de Juromenha, por si só, é uma âncora de desenvolvimento, que se irá acentuar com o aproveitamento turístico do ser interior, propiciando um conjunto de outros investimentos na vila, ligados à restauração, animação turística, alojamento e até à procura de habitação”, acrescenta.

É conjugando estas duas vertentes, a importância de recuperar um património de valor incalculável e de o colocar “ao serviço” da região, que o município elege o património como uma das prioridades do concelho. Segundo João Grilo, esta intervenção “era importantíssima, não só pelo estado de degradação em que a Fortaleza de Juromenha se encontrava como pelas sucessivas tentativas nunca concretizadas de a recuperar”, mas também porque, sem a recuperação da muralha, “dificilmente” algum privado poderia mostrar interesse em aproveitar uma parte do interior para a implementação de um projeto na área do turismo, “que respeita o património e a história” do monumento. A reabertura aos visitantes farse-á com a inauguração de um centro interpretativo, no antigo posto da Guarda Fiscal.

Ainda de acordo com João Grilo, Juromenha tem indicadores naturais muito valiosos, uma excelente gastronomia e uma “grande singularidade” histórica. Isto é, “possui um património material e imaterial único, assumindo-se como um exemplo daquilo que queremos replicar noutras freguesias”.

PRAÇA FORTE SOBRE O GUADIANA

As primeiras referências ao sítio da Juromenha datam da segunda metade do século IX. Durante mais de 200 anos este local foi considerado “a praça-forte” de defesa da zona de Badajoz, pertencendo desde o século X ao Califado de Córdova. Em 1167, D. Afonso Henriques conquistou a fortaleza, mas esta voltaria ao domínio árabe em 1191 e só seria definitivamente reconquistada pela Coroa portuguesa em 1242.

No período pós-Restauração, devido à sua importância estratégica, a fortaleza medieval foi adaptada à artilharia, tendo sido executadas obras seguindo o plano de autoria de Nicolau de Langres. A partir de 1662 e durante seis anos foi ocupada pelas tropas de D. João de Áustria, só regressando à posse portuguesa na Paz Geral de 1668.

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