Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo fotografia
É o primeiro, e pelo menos até agora o único, candidato à sucessão de Vítor Silva na presidência da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e do Ribatejo. Profissional da “casa”, José Santos promete uma “revolução tranquila” para trazer uma “nova ambição” ao setor, apostando na competitividade empresarial e territorial e na “aproximação” às universidades. O objetivo é que, em 2027, a região possa valer, pelo menos, 5,3% do turismo nacional.
Porquê esta decisão de avançar, agora, com a candidatura ao Turismo do Alentejo?
Estamos numa fase de um novo ciclo de abre, uma mudança de protagonistas…
O que é isso de um novo ciclo?
É um ciclo com novos desafios, de uma Entidade que quer gerir um destino turístico como o Alentejo, que está a crescer em valor e em números, mas que tem desafios de consolidação, que têm a ver com a sua força de trabalho, porque serão os profissionais que vão assegurar as condições de desenvolvimento desta atividade num território de baixa densidade populacional, que tem perda de população… como é que uma atividade que cresce mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) do Alentejo vai conseguir munir-se de ferramentas e de instrumentos para poder continuar a projetar-se no país e no estrangeiro? É preciso mudar a estratégia. Isto tem também muito a ver com a questão da competitividade empresarial, e para termos empresas no Alentejo cada vez mais competitivas precisamos de ter mais inovação no turismo, temos de aproximar as empresas do interface das universidades, dos parques de ciência e tecnologia.
Ou seja, é preciso mais inovação?
O turismo precisa de inovação. Temos, felizmente, negócios turísticos, de alojamento, hoteleiros e de animação, muito criativos e muito interessantes no Alentejo. Mas precisamos de melhorar muito aquilo que é a estratégia empresarial.
É aí que posiciona a sua candidatura?
É muito aí que eu me situo, creio que tenho boas condições para fazer essa ligação, reunindo a equipa adequada, e creio que conseguirei fazer uma transformação tranquila neste setor.
Bom, vamos lá aos números. Apesar do crescimento, que referiu, o Alentejo continua a ser uma das mais pequenas regiões do país, quanto a dormidas. E o número de noites em que os turistas aqui ficam diminuiu. Há aqui algumas debilidades.
É verdade, por isso é que o nosso lema é “uma nova ambição” e um dos princípios basilares da nossa candidatura é a ambição. Nós temos de crescer. Nós estamos a crescer em valor, basta ver que o Alentejo foi, em 2022, o destino no Continente que mais cresceu em proveitos, crescemos cerca de 30% em proveitos globais, só a Madeira é que cresceu mais, mas de facto continuamos a valer 4,4% nas dormidas. Em 2019 valíamos 4,2%. Portanto, nestes anos de pandemia conseguimos uma subida, ainda que residual. Apontamos para em 2027 “valermos” 5,3% [do mercado turístico nacional]. Temos essa meta, crescer é o caminho e temos de reconhecer que o turismo no Alentejo é uma indústria em crescimento, basta ver que para este ano está prevista a abertura de 20 novos hotéis, estaremos a falar de mais duas mil camas. Ou seja, os bons números que o Alentejo tem tido nos últimos anos suscitam interesse por parte dos investidores e nós temos de acompanhar esse crescimento.
De que forma?
Bom, criando condições para que possamos atrair os melhores talentos no alojamento, da hotelaria e da animação turística, temos que trazer os melhores trabalhadores do turismo para a região, temos de criar condições para aumentar a estadia média, temos de criar condições para aumentar a proporção da dormida de estrangeiros, desde logo porque ainda não recuperámos totalmente os valores pré-pandemia. Em 2019, as dormidas de residentes estrangeiros valeram 34%, em 2022 valeram 30%, apenas conseguiremos recuperar os números de 2019 no próximo ano, mas há aqui um dado muito interessante que tem a ver com a receita disponível por quarto: passámos de 33 euros em 2019 para 40 em 2022, o que significa que o destino está a qualificar-se.
Que conclusões tira daí?
Temos aqui um conjunto de bases de partida que são importantes. O que nós propormos é acelerar este processo. Daí a proposta de um grande pacto para o turismo do Alentejo e do Ribatejo que consiste em conseguirmos pôr as entidades públicas e as associações empresariais a falarem a uma só voz para podermos otimizar recursos, evitarmos reposição de financiamentos, gastarmos muito bem cada cêntimo público, garantirmos que o dinheiro que estamos a colocar no turismo traz resultados efetivos nesses indicadores.
Quando falamos deste crescimento do turismo no Alentejo estamos basicamente a falar de Évora e do Litoral Alentejano. Há aqui um problema de desigualdade territorial.
É factual. A cidade de Évora e o Litoral têm cerca de 65% da procura e da oferta e o Litoral ultrapassou inclusivamente o Alentejo Central na procura. O distrito de Évora tem maior número de hóspedes, mas o maior número de dormidas já se verificou no Litoral Alentejano. Esse é um dos nossos grandes desafios: temos de multiplicar os destinos locais.
Como é que isso se faz?
É investir essencialmente na externalização do produto. Não é que isso não tenha sido feito, tem sido, o que é que percentualmente, no total da NUT II Alentejo, nós percebemos que a Lezíria do Tejo só vale sete ou oito por cento nas dormidas, que o distrito de Beja vale 11% e o de Portalegre cerca de 13%. Temos, por um lado, criar condições para atrair mais negócio turístico e mais unidades hoteleiras, pois o território continua a ser atrativo para investimento. Como consigo criar negócio turístico nos outros sub-territórios? As taxas de ocupação globais no Alentejo têm convidado os empresários a investir, precisamos de políticas de âmbito local e regional mais amigas do turismo, daí propormos roteiros de investimento turístico por concelho.
CRIAR A ROTA DO CANTE
Face à desigualdade da procura e da oferta turística na região, admite uma intervenção diferenciado da ERT nos concelhos mais pequenos?
Aí a intervenção pública tem de ser maior. Não estou a dizer que a nossa intervenção não seja necessária em Évora, mas é diferente. Uma intervenção para estruturar produto, por exemplo, tem de ser maior no Baixo ou no Alto Alentejo. Uma das coisas que queremos fazer no Baixo Alentejo é criar a rota do cante que tem um potencial de ancoragem e de visitação muito interessante.