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José Alberto Fateixa (opinião): “A floresta e as árvores”

José Alberto Fateixa, professor | Opinião

Este é um tempo de guerra, crises, inflação, dificuldade no acesso a recursos e bens em que os alinhamentos geoestratégicos são determinantes, mas ainda assim com um futuro mundial muito imprevisível. Destaco a importância de reter dados reais sobre as opções que Portugal tem tido. 

Em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a riqueza criada, cresceu 6,7%, o maior crescimento desde 1986; a dívida pública já foi de 135% do PIB e em 2022 rondará 115%, isto é, diminui com significado e isso tem consequências positivas para o país; a celebração de acordos de concertação social; o desemprego com valores baixos; o salário mínimo a subir anualmente… estes são alguns exemplos positivos e importantes do caminho realizado pela governação em que o reequilíbrio das contas públicas é a grande marca. 

Mas, algumas opções de gestão e o seu conhecimento têm aberto campo a incompreensões e descontentamentos bem visíveis, sendo preocupante o crescimento da desconfiança no Estado. Entendo que não é possível dar satisfação aos anseios de todos, mas pergunto-me: tendo os portugueses escolhido um governo de esquerda democrática a esperança não será a do reforço da criação de riqueza se poder traduzir numa melhoria da qualidade de vida de todos, em especial dos que trabalham e dos mais frágeis? 

Aliás, somos confrontados com discursos bipolares. Nalgumas circunstâncias temos de estar alinhados com as exigências do mercado dos gestores e pagar valores astronómicos, benefícios suplementares e prémios, noutros casos não é possível remunerar mais para não comprometer a sustentabilidade das finanças públicas sem fazer paralelo com o mercado de trabalho internacional. 

Saúdo a evolução do salário mínimo, mas lamento o esmagamento da classe média, e assinalo que o investimento do país e das famílias na qualificação está em risco de ser pouco consequente pelas baixas remunerações de técnicos especializados (ex. áreas como a saúde, a educação, as tecnologias,…) ou que leva muitos a optar por sair do país para conseguirem ter qualidade de vida.

Recordo Jorge Sampaio e a frase “há mais vida para além do orçamento”. Sei que não somos um país rico, que temos enormes problemas demográficos e significativos desequilíbrios territoriais e aqueles a quem o povo deu a responsabilidade de nos representarem, do central ao local, têm uns o dever democrático de explicar os fundamentos das opções e outros de contribuir para melhorar respostas. 

Neste tempo de incertezas globais a floresta, entenda-se a governação, tem conseguido resultados positivos, mas as árvores, os portugueses, precisamos de melhorias de vida, até porque justiça e humildade estão intimamente ligados à confiança no regime. 

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