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José Alberto Fateixa (opinião): “O difícil é ser moderado”

José Alberto Fateixa, professor | Opinião

A II Guerra Mundial fica marcada como um tempo de radicalismo fanático, sofrimento, barbárie e miséria, o que levou o mundo a mudar muito desde então. Os que puderam viver em liberdade encontraram uma pluralidade de caminhos, sendo os imensos avanços civilizacionais determinados por partidos políticos com ideologia, geradores de alternativas democráticas esquerdas-direitas, capazes de envolver sindicatos e associações patronais, permitindo às pessoas e aos países democráticos o progresso da qualidade de vida.

Foram estas convergências, em especial na Europa, que permitiram quer a criação de respostas sociais consistentes (saúde, educação, segurança social), quer dinâmicas económicas criadoras de riqueza e de emprego (com direitos e deveres). 

Com uma livre imprensa e a internet é possível ter acesso a informações e a dados como nunca aconteceu. Hoje é possível saber mais sobre as escolhas dos decisores, fazer comparações de gastos por exemplo (no país e entre países), o que leva cada vez mais pessoas a pensar sobre carga fiscal, distribuição de riqueza, diferenças salariais, funcionamento de serviços… 

Mas o modo como o poder é exercido é demasiadas vezes caracterizado por lideranças que decidem afastadas da vida real, não partilhando justificativos de decisões, não dialogando nem envolvendo a sociedade, o que gera distanciamentos, desconfianças e descrédito nas instituições e no regime. 

Estou preocupado com o que se tem passado nos últimos tempos em inúmeras sociedades democráticas, em que nos partidos a ideologia é substituída pelo pragmatismo da circunstância e em que os sindicatos e as associações acomodam-se ou acantonam-se e os problemas não são solucionados.

Neste contexto, com uma degradação das funções sociais do Estado, com expectativas não alcançadas e não encontrando no regime respostas entendíveis, consistentes e justas está aberto campo para forças políticas, sindicais e associativas radicalizadas que sem projeto polarizam descontentamentos. Quando isto acontece, os extremismos tocam-se e movimentos inorgânicos crescem em torno de revoltas que começam focadas num tema e num grupo social, mas que crescem e se tornam descontroladas tendendo a ser cada vez mais recorrentes, pondo em risco a democracia. 

É fundamental que os decisores recuperem a política reformadora e criadora de convergências para melhorar as condições de vida das pessoas e reganhar a confiança no regime. O grande desafio continua a ser o da valorização da liberdade, da justiça e do progresso, pelo que as lutas continuarão a ser marca- das pela separação entre moderação democrática e radicalismo totalitário. 

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