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História: A afirmação do Partido Republicano no Alentejo

Manuel Baiôa (historiador) texto

O Partido Republicano Português (PRP) teve um crescimento assinalável na primeira década do século XX, em particular nas zonas urbanas. As organizações republicanas no Alentejo tiveram algumas dificuldades de consolidação inerentes às zonas rurais do interior, dominadas pelos caciques monárquicos. 

As características do PRP, ligado a uma pequena elite burguesa, também não facilitaram a fixação deste partido nesta região. Ainda assim, o Alentejo foi a região do interior de Portugal onde o PRP conheceu os maiores êxitos e a maior implantação. Por isso, não é de estranhar que em 1908 o deputado regenerador, João de Sousa Tavares, tivesse avisado o novo governador civil de Beja, João Jardim de Vilhena, para se preparar para enfrentar alguns problemas, pois esse distrito tinha “uma população minada pelos republicanos”. 

As ideias republicanas começaram a circular no Alentejo logo após a constituição do primeiro diretório do PRP em 1876. Nessa altura, mais do que um partido, existia uma frente dispersa e diversa de organizações que defendiam o ideário republicano. A estruturação do partido reforçou-se gradualmente nas décadas seguintes, principalmente após a realização do seu primeiro congresso em 1883. Contudo, a afirmação do republicanismo no Alentejo só ganhou uma forte consolidação após 1906, ainda que nas décadas anteriores se tivessem criado algumas comissões, centros e jornais republicanos. 

Em 1910, antes da revolução republicana, o PRP estava organizado em comissões em 71% dos distritos e em 57% dos concelhos do Continente

O PRP tinha comissões distritais nos três distritos transtaganos. Ao nível das comissões concelhias tinha uma forte implantação no sul e no litoral alentejano. No distrito de Beja possuía comissões em 71% dos concelhos, faltando-lhe estar organizado em Alvito, Mértola, Moura e Barrancos.

No distrito de Évora tinha comissões concelhias em 54% dos concelhos. Não tinha comissões concelhias em Mourão, Reguengos de Monsaraz, Alandroal, Vila Viçosa, Arraiolos e Mora. No distrito de Portalegre apenas tinha comissões em 40% dos concelhos, não estando organizado em Nisa, Gavião, Crato, Marvão, Monforte, Fronteira, Alter do Chão, Ponte de Sor e Campo Maior. 

No início de 1910 o PRP estava implantado em 11% das paróquias do continente com comissões republicanas. No Alentejo chegava aos 10% no distrito de Portalegre, aos 12% no distrito de Évora e aos 26% no distrito de Beja. Já ao nível dos centros políticos, clubes e associações, possuía um no distrito de Portalegre, quatro no distrito de Évora e um no distrito de Beja. 

O número de conferências, comícios e palestras promovidas pelos republicanos cresceu consideravelmente no Alentejo a partir de 1906, mesmo em períodos não eleitorais. Esta situação era um reflexo de uma melhor estruturação do partido e do crescimento considerável do número de comissões políticas e adesões à causa republicana. 

A visita de figuras nacionais do PRP ao Alentejo conseguia mobilizar alguns milhares de apoiantes, como no comício ocorrido em Évora, a 17 de fevereiro de 1907. Este comício realizou-se no Centro Republicano Democrático Liberdade em que tomaram a palavra António José de Almeida, Agostinho Fortes, Sá Pereira e Evaristo Cutileiro. Ainda em Évora merece destaque o comício republicano realizado no dia 26 de agosto de 1908, que teve larga adesão da população e em que participaram Bernardino Machado e Afonso Costa. 

Neste comício tomou a palavra a jovem eborense Ana Laura Chaveiro Calhau, que, com apenas 16 anos, se tornou na primeira mulher a falar num comício político no Alentejo. 

Em Portalegre realizou-se outro grande comício no dia 16 de julho de 1907, que contou com a presença de Bernardino Machado, António José de Almeida, Brito Camacho e Agostinho Fortes. 

Já em Beja o maior comício realizado antes da implantação da República ocorreu no dia 8 de dezembro de 1908, por ocasião da inauguração do Centro Escolar Democrático Aresta Branco, que contou com a participação de Brito Camacho e Bernardino Machado. Estes quatro comícios republicanos são apenas um exemplo, das dezenas de comícios, reuniões e manifestações públicas que ocorreram nestes anos nas diversas localidades alentejanas. 

A imprensa republicana no Alentejo 

A imprensa republicana também teve um forte crescimento no final do século XIX no Alentejo. No distrito de Beja assinala-se a fundação em 9 de julho de 1885 do semanário “Nove de Julho”, sob a direção de Luís Filipe Vargas, com sede na cidade de Beja. Este jornal começou a intitular-se jornal republicano independente a partir de 1905 e em 18 de março do mesmo ano circularia com o subtítulo “Órgão do Partido Republicano do Baixo-Alentejo”, passando António Aresta Branco a ser o seu diretor. 

Ao longo da sua existência teve a colaboração de diversas personalidades regionais, com destaque para José Jacinto Nunes, famoso republicano residente em Grândola. Em 1906, dois dos seus responsáveis, Luís Filipe Vargas e Carlos Marques, foram a julgamento acusados de atentado à liberdade de imprensa, por terem publicado artigos sobre os adiantamentos do erário público à coroa. 

Praça do Giraldo, em Évora, no início do século XX

No dia 12 de março de 1906, Alexandre Braga, advogado defensor destes republicanos, deslocou-se à cidade de Beja, tendo-se formado uma grande manifestação republicana à sua chegada que foi violentamente reprimida por uma força de Cavalaria e da Polícia Municipal enviada pelo governador civil, Sebastião Maria Sampaio. Este jornal viria a cessar a sua publicação em 5 de março de 1910. 

Em Odemira começou a ser publicado em 24 de outubro de 1897 “O Odemirense”, semanário republicano, órgão da comissão municipal republicana do concelho de Odemira. Tinha como proprietários e redatores Augusto Neves e Baptista Ribeiro. Apenas foram editados sete números, tendo terminado a sua publicação em 5 de dezembro de 1897. 

O jornal “O Porvir” começou a ser publicado em Beja em 5 de abril de 1906, com o subtítulo “Semanário Democrático Independente”, sendo editor e administrador, Carlos Augusto das Dores Marques. Este jornal destacou-se pela divulgação dos ideais republicanos e das iniciativas políticas do PRP na região até ao final da I República. 

No distrito de Portalegre também foram fundados alguns títulos que defendiam os ideais republicanos. “O Correio de Elvas”foi publicado em 1889 pelo Centro Republicano de Elvas. Em 3 de abril de 1892 começou a ser publicado em Portalegre o semanário “Comércio do Alentejo”. Inicialmente seguiu uma orientação independente. Contudo, a partir de 13 de abril de 1893 passou a ter como subtítulo, “Folha Democrática”, publicando frequentemente notícias sobre a comissão republicana de Portalegre que tinha sido criada no ano anterior. Finalmente, em 13 de agosto de 1893 no cabeçalho surge com a designação de “órgão do Partido Republicano no distrito de Portalegre”. Teve como diretores Francisco Rodrigues de Gusmão, António José Lourinho, Frederico Porto e Augusto César Rolo e como colaboradores Eusébio Leão e José Jacinto Nunes, entre outros vultos do republicanismo. O seu último número é datado de 4 de março de 1894. 

No Gavião começou a ser publicado em 22 de setembro de 1892 o semanário “Norte do Alentejo”, com uma orientação claramente republicana, sob a direção de Francisco Eusébio Lourenço Leão. Saíram apenas quatro números, sendo o último dado à estampa em 13 de outubro de 1892. Com data de 1 de maio de 1893, circulou em Portalegre (e enviado para vários jornais de Lisboa e Porto) um número único gratuito comemorativo intitulado “O 1.o de Maio”, elaborado por operários, alguns dos quais associados ao PRP. 

Entre 15 de dezembro de 1901 e 15 de março de 1903 foi publicado em Portalegre o semanário “O Amigo do Povo”. Era um jornal independente, embora com uma orientação maioritariamente anarquista, socialista e republicana, de crítica à Monarquia. A edição e administração do jornal estavam a cargo de Luís Augusto de Almeida Saraiva (um antigo sargento expulso após o 31 de janeiro), e posteriormente, de António Joaquim Costa (a partir do n.º 22, 1.5.1902). Contudo, era Emílio Martins Costa o verdadeiro dinamizador do jornal. 

Em 8 de Março de 1908 iniciou a sua publicação em Portalegre o semanário republicano “Intransigente”. Tinha como diretores Apolino Augusto Marques, Baltazar de Almeida Teixeira e José Alves Sequeira. Teve como colaboradores alguns nomes importantes do republicanismo regional e nacional, tais como: Maria Veleda, Emílio Costa, João Chagas, Henrique Caldeira Queirós, João Camoesas e Eusébio Leão. A redação passou a estar instalada a partir do n.o 34 no Centro Democrático de Portalegre, que se situava na Rua da Mouraria n.o 14. Este jornal teve um papel fundamental no reforço da republicanização do distrito de Portalegre. O “Intransigente”terminou a sua publicação em 31 de janeiro de 1913. 

No distrito de Évora merecem destaque algumas folhas republicanas 

Em 5 de novembro de 1893 saiu o número único do semanário republicano “Folha Meridional”, com sede em Montemor-o-Novo. A partir de 4 de fevereiro de 1897 começou a ser publicado em Évora o bissemanário, satírico, noticioso e político “A Rabeca”. Este jornal era dirigido por Manuel Vicente Ventura, que seguia a linha de Azedo Gneco, ligado à fação socialista-anarquista próxima do republicanismo. Devido a problemas com as autoridades locais e com o Arcebispo de Évora, o seu diretor acabaria por ser preso, sendo o jornal suspenso em 20 de abril de 1899. 

O semanário manuscrito e copiografado, “A Lucta”, iniciou a publicação em Évora a partir de 12 de setembro de 1897. Era dirigido por J. Roberto da Silva, tinha um cariz republicano e ficou conhecido por criticar duramente o governo. O seu diretor, devido às altercações em que esteve envolvido, que o levaram a tribunal, chegou a ser alvo de algumas agressões. As autoridades interditaram a publicação do jornal a partir de 19 de dezembro de 1897. 

Em 1 de janeiro de 1901 iniciou-se a publicação, em Montemor-o-Novo, do semanário “Democracia do Sul”. Era um órgão do PRP e foi dirigido inicialmente por Joaquim Pedro de Matos. O jornal contou com o apoio financeiro de Leão Magno Azedo e com a colaboração de várias figuras do republicanismo, como António José de Almeida, Guerra Junqueiro e Brito Camacho. Em 2 de agosto de 1917, o jornal transferiu a sua sede para Évora. 

Em 1904 começou a ser publicado em Évora o semanário “A Voz Pública”, tendo como diretor o médico republicano Evaristo José Cutileiro, que, em 15 de janeiro de 1907, assumiria a sua propriedade. O jornal passaria então a subintitular-se “Semanário Republicano”. Devido aos problemas de saúde do seu diretor e proprietário, o jornal conheceu alguns períodos de suspensão.

A 16 de março de 1907 A Voz Pública mudou a redação para a sede do PRP em Évora, na Rua da Freiria de Baixo, retomando então a sua atividade regular. Em agosto de 1909, este periódico foi vendido a José Bento Rosado, que era seu redator e membro do “Centro Liberdade”. As funções de diretor passaram a ser desempenhadas por Estêvão Augusto da Cunha Pimentel (proprietário e bacharel). Um ano depois, a 9 de agosto de 1910, no cabeçalho do jornal surgiu como redator principal o médico Júlio do Patrocínio Martins, candidato pelo PRP às eleições legislativas de 28 de agosto de 1910. 

A elite republicana do Alentejo 

O crescimento e consolidação do PRP no Alentejo durante a Monarquia foi obra de um conjunto vasto de notáveis. Esta elite republicana era maioritariamente descendente de proprietários e influentes locais que tinha ido estudar para os liceus de Portalegre, Évora e Beja no final do século XIX, num contexto de crise e contestação à Monarquia. 

Muitos destes jovens formaram-se nas escolas superiores de Lisboa, Coimbra e Porto, tendo aí aderido ou reforçado o apego ao ideário republicano. Posteriormente, quando regressaram ao Alentejo, passaram a exercer as profissões de médico, advogado e farmacêutico, entre outras, e a gerir as propriedades familiares. Simultaneamente, tornaram-se polos irradiadores desse ideário. 

A ação política e o exemplo de vida e de cidadania destes jovens republicanos contribuíram decisivamente para a sua expansão nas terras alentejanas. Conseguiram ainda mobilizar um conjunto alargado de proprietários e profissionais de prestígio para a causa da República através de uma vasta rede de sociabilidade, comissões políticas, clubes, escolas e centros políticos. 

A secundar esta elite republicana estava um grupo alargado de comerciantes, caixeiros, seareiros e profissionais dos ofícios, como alfaiates, barbeiros, sapateiros, relojoeiros, entre outros, que viam na República um regime que iria reformar a sociedade, trazendo o progresso às suas vidas e à sociedade em geral. 

Évora no início do século XXI

A regeneração da Pátria seria obtida pela afirmação do cientismo, do positivismo, da laicização do Estado, do anticlericalismo, da descentralização, da moralização da administração, da liberdade de imprensa, do sufrágio universal e de eleições transparentes. Em suma, da democracia no sentido mais moderno da palavra. 

A tímida industrialização, urbanização e terciarização da sociedade portuguesa trouxeram para a esfera política e social um conjunto de novos atores que queriam participar na causa pública e nas associações e eram atraídos pelas novas ideias republicanas, socialistas, anarquistas e sindicais. A Monarquia Constitucional, liberal, elitista, oligárquica e censitária não atribuía direitos políticos e sociais a uma parte significativa desta classe média/baixa, que tinha aspirações de mobilidade social para si, para a sua família e para os seus companheiros. 

Os médicos foram um dos principais grupos profissionais que difundiram o ideal republicano no Alentejo, num período em que ganharam um enorme prestígio social 

Os jovens médicos formados após o Ultimato Britânico nas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto e na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra formaram um grupo de sociabilidade marcado pelas críticas às instituições monárquicas e por um forte desejo de progresso da sociedade portuguesa através da ciência, do positivismo e do republicanismo. Acreditavam que o progresso do conhecimento levaria ao progresso social. Com o seu saber especializado estavam numa posição privilegiada para identificar os males da sociedade e receitar a cura. 

Os médicos passaram a desempenhar um papel mais relevante na sociedade enquanto homens da ciência e promotores da higiene social e tornaram-se uma referência de integridade ética nas comunidades, pelos apoios e cuidados prestados aos mais pobres, muitas vezes sem cobrar honorários. Daí o seu papel relevante a nível social e político. 

O Alentejo teve um número significativo de médicos republicanos. No distrito de Beja salientaram-se Manuel de Brito Camacho, António Aresta Branco, Augusto Baeta das Neves Barreto, Manuel Firmino da Costa, António Benevenuto Ladislau Piçarra, Manuel Joaquim Brando e António Francisco Colaço. 

No distrito de Évora evidenciaram-se Manuel Gomes Fradinho, Evaristo José Cutileiro, Júlio Augusto do Patrocínio Martins, Agostinho Felício Pereira Caeiro, António Afonso Garcia da Costa, João Luís Ricardo da Silva e Artur Rovisco Garcia. 

No distrito de Portalegre distinguiram-se Francisco Eusébio Lourenço Leão, Manuel António Gonçalves Pinheiro e Henrique José Caldeira Queirós. 

As farmácias constituíram-se igualmente como um importante local de sociabilidade dos republicanos em muitas localidades. No Alentejo destacaram- se os farmacêuticos Jaime Arnaldo Lopes Brejo, José Bastos da Costa, Francisco José da Rosa Correia e José António do Nascimento Mendes. 

Os advogados e os juristas sempre tiveram um lugar de destaque na política. A maioria continuava a apoiar os ideais monárquicos. No entanto, na fase final da Monarquia distinguiram-se alguns juristas republicanos que exerciam a sua atividade no Alentejo, como Manuel Duarte Laranja Gomes Palma, Francisco Manuel Pereira Coelho, Pedro Sequeira Feio e Júlio Augusto Martins. 

Embora os proprietários estivessem maioritariamente ligados aos partidos monárquicos, não podemos ignorar o importante papel que alguns deles tiveram na divulgação dos ideais republicanos. Sobretudo os que acumulavam essa condição com a de médico e advogado, entre outras profissões conforme identificamos atrás. Para além desses, notabilizaram-se José Jacinto Nunes, Ernesto Augusto de Carvalho, Estêvão Augusto da Cunha Pimentel, Albino da Costa Cró Pimenta de Aguiar, Pedro Castro da Silveira, João Paes Rodrigues de Canavilhas e Carlos Moreira da Costa Pinto. 

Em relação aos professores é de assinalar o importante grupo criado no Liceu de Portalegre, onde se destacaram António José Lourinho, Álvaro Coelho de Sampaio, Baltasar de Almeida Teixeira e Emílio Martins Costa. Já em Évora, os professores republicanos só ganharam protagonismo após a implantação da República. 

Dentro dos comerciantes, homens de negócios e lojistas distinguiram-se no ativismo republicano, antes do “5 de Outubro”, António dos Santos Cartaxo, José António Mendes e Joaquim Pedro de Matos. 

Em suma, a formação e sociabilidade nas escolas das capitais de distrito do Alentejo e a posterior formação universitária contribuiu decisivamente para a constituição de uma geração de políticos republicanos que viriam a ter um papel decisivo na afirmação da República no Alentejo. 

Os resultados eleitorais do PRP nas eleições legislativas 

Quanto aos resultados eleitorais, o PRP teve um crescimento notável na fase final da Monarquia nos distritos de Lisboa, Setúbal, Santarém, Portalegre, Évora, Beja e Leiria, embora apenas tenha conseguido eleger deputados nos círculos de Lisboa, Setúbal e Beja no século XX. Em 1878, o PRP elegeu o seu primeiro deputado pelo Porto e até 1899 foi conseguindo eleger, nos sucessivos sufrágios, um a quatro deputados nos círculos de Lisboa e Porto, com exceção das eleições de 1895 e 1897 em que não conseguiu nenhum deputado. Os republicanos participaram nas eleições em algumas ocasiões nos círculos do Alentejo, como em 1879, 1892 e 1894, em Portalegre. Contudo, só a partir de 1906 é que começaram a obter algum êxito. 

Nas eleições legislativas de 19 de agosto de 1906 os republicanos elegeram quatro deputados por Lisboa (Afonso Costa, António José de Almeida, Alexandre Braga e João de Meneses), alcançando as minorias nos dois círculos da capital. 

O PRP apresentou candidatos em 14 círculos eleitorais, sendo que no Alentejo apenas não concorreu no de Portalegre. No círculo de Évora apresentou Evaristo José Cutileiro e Joaquim Pedro de Matos. No de Beja António Aresta Branco, Augusto Baeta das Neves Barreto, José Jacinto Nunes, Manuel de Brito Camacho e Miguel de Oliveira Fernandes. Ainda nesse ano, em 4 de novembro, os republicanos, coligados com alguns monárquicos dissidentes, ganharam as eleições para a Câmara Municipal do Porto. 

No dia 5 de abril de 1908 realizaram-se as eleições legislativas e o PRP conseguiu apresentar candidatos em todos os círculos do continente e nos de Ponta Delgada e do Funchal. No círculo de Portalegre os republicanos anunciaram quatro médicos como candidatos a deputados: Abílio Matias Ferreira, Francisco Eusébio Lourenço Leão, Henrique José Caldeira Queirós e João Rafael Morais.

No de Évora os republicanos concorreram com Ângelo Rodrigues da Fonseca, Afonso Henriques do Prado Castro e Lemos, Evaristo José Cutileiro e Agostinho José Fortes. No de Beja foram apresentados Manuel de Brito Camacho, José Miranda do Vale, Augusto Baeta das Neves Barreto, António Francisco Colaço e José Jacinto Nunes. 

O PRP melhorou o resultado eleitoral elegendo sete deputados. Voltou a eleger quatro deputados em Lisboa (Afonso Costa, António José de Almeida, Alexandre Braga e João de Menezes), ganhando as minorias no círculo oriental e ocidental da capital. Elegeu pela primeira vez dois deputados em Setúbal (José Estêvão de Vasconcelos e Feio Terenas) e um deputado em Beja (Manuel de Brito Camacho). O governador civil de Beja, João Jardim de Vilhena, reconheceu décadas depois, que tinha usado vários estratagemas para “melhorar” os resultados eleitorais dos monárquicos. 

O líder local do PRP, Aresta Branco, procurou o governador civil para lhe pedir que enviasse uma “força policial para vigiar o acto eleitoral numa freguesia do districto”, pois costumava haver desordens. O governador civil acedeu num primeiro momento. Mas depois recuou, pois, ao reunir com os líderes locais do partido regenerador e do partido progressista foi informado que “naquela assembleia eleitoral nós vencíamos sempre, apesar de ela ser muito republicana”. 

Nessa reunião fizeram ainda um trabalho exaustivo para identificar os eleitores republicanos nos cadernos eleitorais. Aqueles a quem o governador civil tinha “perdoado multas, prisão, ou suspensão do exercício de venda” foram visitados por ele, para lhes pedir que votassem na lista monárquica, pois como “os havia favorecido”, “esperava que fossem gratos”. 

Contudo, como havia alguma desconfiança, colocou um pequeno chocalho nas listas que lhes entregou, para depois poder verificar se de facto tinham votado com a “lista chocalheira”. Das 18 listas entregues, 16 votaram na lista monárquica. No círculo de Évora, os candidatos republicanos ganharam no concelho de Évora, mas os resultados obtidos nos restantes concelhos inviabilizaram a sua eleição. Ainda nesse ano, em 1 de novembro, os republicanos ganharam as eleições em 16 municípios, entre os quais, Lisboa, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém, Castro Verde, Cuba e Sousel. 

Nas eleições legislativas de 28 de agosto de 1910 o PRP voltou a apresentar candidatos nos três círculos do Alentejo. Os republicanos realizaram várias sessões de propaganda em diversas localidades da região. 

A 14 de agosto de 1910 houve vários comícios no concelho de Évora, de manhã em Azaruja e Machede, e de tarde na Praça das Mercês, em Évora, para apoiar os candidatos do PRP pelo círculo: Júlio do Patrocínio Martins, Carlos Amaro de Miranda e Silva, Inocêncio Joaquim Camacho Rodrigues e Afonso Henriques do Prado Castro e Lemos. 

Em Beja o PRP apresentou como candidatos António Aresta Branco, António Benevenuto Ladislau Piçarra, Ernesto Campos de Carvalho, Francisco Manuel Pereira Coelho e Manuel de Brito Camacho. No círculo eleitoral de Portalegre o PRP candidatou quatro médicos: Abílio Matias Ferreira, Henrique José Caldeira Queirós, José António de Andrade Sequeira e Manuel António Gonçalves Pinheiro. 

No mês de agosto o PRP realizou comícios em Arronches, Castelo de Vide, Alegrete, Campo Maior, Barbacena, Crato, Elvas e Portalegre, nos quais participaram milhares de pessoas. O PRP melhorou novamente os resultados a nível nacional, elegendo 14 deputados. Ganhou a maioria nos círculos de Lisboa ocidental (cinco deputados), Lisboa oriental (cinco deputados) e Setúbal (três deputados) e a minoria em Beja, sendo eleito novamente Manuel de Brito Camacho. 

Os candidatos republicanos ganharam nos concelhos de Beja, Cuba, Aljustrel, Castro Verde e Odemira, mas tiveram uma pesada derrota em Serpa, Moura e Barrancos. No círculo de Évora a lista do PRP ficou apenas atrás da lista governamental no concelho de Évora, Redondo e Viana do Alentejo, mas acabou por não conseguir eleger nenhum deputado no círculo. Em Portalegre, o PRP melhorou as votações face às eleições anteriores: ganhou em Arronches e Galveias, mas não conseguiu eleger nenhum deputado.

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