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“Há mais de 300 pessoas sem-abrigo nas ruas de Beja”

Ana Luísa Delgado texto

O presidente da Cáritas de Beja diz que a instituição tem sinalizadas mais de mais de 300 pessoas sem-abrigo a viver nas ruas da cidade.

“É um problema que nos está a preocupar seriamente porque o aumento tem sido exponencial”, acrescentou Isaurindo Oliveira, revelando que quando a Cáritas iniciou um projeto para dar resposta a este tipo de situação, em 2020, estavam sinalizadas “à volta de 80” pessoas. “Agora temos mais de 300 sem-abrigo, 50 dos quais são nacionais e os restantes migrantes”.

De acordo com o presidente da Cáritas, a imigração “está a conduzir a um aumento de pessoas” em situação de sem-abrigo, ou seja, que se encontram a viver na rua ou em alojamentos muito precários, tais como fábricas ou prédios abandonados. À falta de habitação somam-se problemas do foro da saúde mental e consumos de álcool ou de droga, numa mistura que considerou “explosiva”. “É uma questão que tem de ser olhada com muito cuidado, é muito complexa e neste momento as soluções são mínimas”, sublinhou .

Falando no decurso de um debate sobre “desafios sociais” promovido pela estrutura local do PSD, Isaurindo Oliveira criticou a inexistência de respostas para resolver o problema do alojamento de milhares de imigrantes que se têm instalado na região para trabalhar nas atividades agrícolas. 

“Toda a gente fica muito preocupada com o problema da habitação, mas toda a gente sabe onde essas pessoas vivem. Qualquer pardieiro, qualquer buraco serve, desde que caiba lá um colchão, que chega a ser ocupado à vez. Isto serve para fazer negócio!”, lamentou o presidente da Cáritas de Beja, lembrando tratar-se de um problema “que não se resolve sozinho”. Pelo contrário, os problemas “vão-se ampliando” e a cidade está hoje “pejada de pardieiros” que servem de alojamento a trabalhadores migrantes.

Outro problema, assegurou, prende-se com o facto de algumas pessoas começarem a “perder a sensibilidade” para estas questões: “Até se diz que na terra deles viviam pior, ou que uns vivem melhor do que outros. Começamos a perder essa sensibilidade [para o problema] e isso sucede porque não há soluções”.

Além dos problemas habitacionais, muitos destes imigrantes chegaram à região “trazidos por redes” de exploração de mão-de-obra. “Essas redes fazem um contrato com o empresário, arranjam habitação e roupa, ou seja, sugam todo o ordenado do imigrante. Isto está feito num negócio que funciona quase como um círculo fechado”, acrescentou.

Segundo Isaurindo Oliveira, os problemas associados a este tipo de imigração “não têm fim e vão aumentar” ao ritmo da expansão do perímetro de rega do Alqueva e da instalação de mais culturas intensivas. “Muitas destas pessoas têm contratos sazonais e existe um período, entre o fim de janeiro – este ano começou antes porque houve menos azeitona e a campanha terminou mais cedo – e abril, em que estão sem contrato e ficam sem suporte. Muitas vão parar à Cáritas ou a outras instituições”, sublinhou.

Recorde-se que já em finais do ano passado, em declarações à agência Ecclesia, um outro responsável da Cáritas de Beja, Márcio Guerra, havia alertado que o problema dos sem-abrigo em Beja “tem vindo a agudizar-se”. 

“Os desafios são imensos, os recursos são limitados, as parcerias são inexistentes, e temos pela frente um trabalho bastante árduo para poder construir relações, para poder construir redes, para ter uma complementaridade de recursos logísticos, financeiros e humanos que permitam dar reposta àquilo que é atualmente uma realidade do nosso concelho de Beja, que é um aumento significativo do número de pessoas em situação de sem-abrigo”, frisou.

APOIO A 3500 PESSOAS

Durante o debate, Isaurindo Oliveira revelou ainda que pelo serviço de ação social da Cáritas de Beja passaram em 2022 cerca de 3500 pessoas, “muitas delas sem competências, das zonas marginais da sociedade”, a quem a instituição atribuiu um conjunto de ajudas de cerca de 60 mil euros e para as quais procurou respostas sociais, incluindo a empregabilidade.

Aqui, a Cáritas está a participar num programa financiado pela Fundação La Caixa que pretende “encontrar soluções de trabalho” para pessoas vulneráveis com mais de 45 anos, já tendo conseguido integrar no mercado de trabalho cerca de 50 pessoas.

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