PUBLICIDADE

Gloriosos apaixonados pelos clássicos voltaram à estrada

Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Mais de meia centena de automóveis participaram no passeio anual promovido pela Associação de Veículos Clássicos de Estremoz. Diz quem sabe que está uma “paixão para a vida”, a exigir o mesmo que todas as outras: dedicação e atenção aos detalhes.

O início da concentração no Rossio Marquês de Pombal está marcado para as 9h00, mas muito antes já por ali estão estacionadas diversas viaturas, entre as quais um dos modelos mais icónicos, o popular Volkswagen Carocha – assim alcunhado por um jornalista norte-americano que em 1938 lhe encontrou semelhanças com um beetle (escaravelho) -, por sinal propriedade de Joaquim Mira, sócio número um e presidente da Associação de Veículos Clássicos de Estremoz (AVCE). 

É domingo , 14 de maio. E tudo se começa a preparar para mais um, o décimo, passeio promovido pela associação. Dali a uma hora, a mais de meia centena de veículos haverá de rumar em direção à Glória, seguindo depois para uma visita ao Museu do Barro, em Redondo, e regressando “a casa” pela Serra d’Ossa, bem a tempo do sempre esperado almoço-convívio.

Mas, por enquanto, o tempo é de espera. De espera, de encontro com novas e velhas amizades, e sobretudo de apreciar e dar uma última revisão às “gloriosas máquinas” que chegam ao Rossio ao ritmo da “paixão” dos respetivos proprietários pelas “preciosiodades” que os acompanham ao longo da vida. Foi essa “paixão”, lembra Joaquim Mira (na foto), que levou à criação da AVCE, em maio de 2012, por um grupo de amigos que tinha por hábito juntar-se ao domingo para fazer passeios de automóveis clássicos.

“De então para cá temos vindo a realizar várias atividades, como passeios, exposições, feiras de colecionismo… mas somos mais do que uma associação de proprietários de carros clássicos pois preocupamo-nos muito com a comunidade. Muitos dos nossos eventos têm uma vertente solidária e já ajudámos diversas instituições, como a Cruz Vermelha, bombeiros ou instituições de apoio social do concelho de Estremoz”, acrescenta Joaquim Mira, que desta vez trouxe os seus três carros: além o Carocha, um Fiat Panda, lançado no mercado há 40 anos, e um Ford MK3.

Lembra-se no Mini Cooper conduzido por Mr. Bean no filme de 2007? Um modelo idêntico também andou por estas bandas, lado a lado com um “aristocrático” Buick Special, com um “familiar” Vauxhall Victor, popularizado em Inglaterra nas décadas de 60 e 70, ou com o Jaguar XK8 trazido pelo empresário António Nery. “Sempre tive carros antigos, o primeiro foi um Spitfire MK4, e acabei por adquirir este Jaguar, de 1997, quando uma pessoa conhecida o decidiu vender”, conta António Nery, sublinhando que “este universo” permite, por um lado, “partilhar uma paixão comum” e, por outro, “proporcionar momentos de convívio” para mais tarde recordar.

Trazido de Portalegre, o Triumph Spitfire MK4 de 1974, “o ano da Revolução”, como faz questão de lembrar o proprietário, apenas não está “como novo” pois anda falta “retocar a pintura” original, um amarelo que prende a atenção de quem o vê passar. “Trabalho no ramo automóvel e estava a reparar um destes clássicos, um Mercedes 190 SL, com mais de 60 anos, que um amigo mandou vir da Alemanha, quando experimentei o carro. Fiquei fascinado”, conta o homem. Com a ajuda desse amigo, começou a procurar um carro que lhe “enchesse as medidas” e foi “esbarrar” com este Triumph a Monte Real, perto de Leiria, acabando por fazer negócio. “Estava em muito mau estado. Estive de volta dele durante dois meses. Recuperar os carros e pô-los como novos é um desafio para o qual é preciso ter gosto do pormenor, da limpeza do cromado, do interior, da ferrugem… coisas que consomem muito tempo e não dão dinheiro, pois o que dá dinheiro é substituir o material”. 

Outro problema, sublinha, é que “muitas pessoas vão abandalhando” e, mesmo pagando reparações, o serviço nem sempre é o mais adequado e os clássicos acabam por perder a sua identidade. “São carros cuja manutenção e restauro exige muita mão de obra, muito carinho, e as pessoas não querem pagar para isso”. Acresce que nem sempre é possível encontrar peças originais, e quando as há, por vezes, não são fáceis de adquirir. “Os ingleses têm muita coisa, mas com o Brexit tornou-se um problema fazê-las chegar. Ainda recentemente tive uns rolamentos perdidos na alfândega, cá em Portugal, que acabaram por ser devolvidos e nem cheguei a ser contactado para pagar o imposto aduaneiro”, revela.

Quem ainda não se deparou com problemas deste género é Eduardo Valente, que dos Arcos trouxe ao passeio uma “relíquia”, um Volkswagen Carocha de 1972. “Foi o meu avô que mo deixou, estava muito estimado e tenho-o mantido, volta e meia trago-o a um passeio”, conta Eduardo Valente, referindo que só o para-choques não é original. “Neste tempo todo só levou uma pintura e a manutenção que é preciso fazer, de resto estará pronto para as curvas”.

A “VELHA SENHORA” AINDA RODA

No “Brados do Alentejo”, o jornalista João Jaleca, em 2010, apelidou-a de “velha senhora”, talvez inspirado no nome de batismo: Esperança. A Dodge Brothers, primeira viatura pronto socorro adquirida pelos Bombeiros Voluntários de Estremoz, chegou à cidade em 1940, participando em inúmeras ações de proteção civil ao longo de “anos de trabalho incansável”. Foi encostada em 1968, por questões de segurança, tendo sido “restaurada” com a “prata da casa” e voltado à estrada em 2010. Joaquim Paulo, que agora a conduz, foi um dos bombeiros que participou nessa missão de restauro. “Isto é tudo mecânico… não é que seja difícil de conduzir, mas a direção é muito pesada e exige bastante esforço de braços”. A Dodge Brothers voltou novamente ao passeio. Para agrado de muitos que a viram passar.

Partilhar artigo:

FIQUE LIGADO

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

© 2024 SUDOESTE Portugal. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por WebTech.